quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Chega de espanto (*)

Muitas vezes, luto e me esforço em vão tentando compreender certas coisas e fatos.
Uma coisa – que é também um fato – que não consigo interpretar é a facilidade com que nos espantamos com determinadas conseqüências e não movemos uma palha para evitá-las.
Um exemplo: A questão de salários de marajás que contemplam categorias privilegiadas de servidores públicos nos três poderes da República - Executivo, Legislativo e Judiciário.
Sempre que essas categorias precisam de reajuste salarial, conseguem sem nenhum problema e – o que é melhor (pra elas) – “sem nenhuma conseqüência” para a combalida e arrombada previdência social brasileira.
E, a cada aumento, de nossa parte, é a mesma história – o mesmo espanto, a mesma indignação, o mesmo protesto e só. Dois ou três dias de manchetes e acabou-se. Os marajás ficam lá e nós – os pobres mortais – aqui embaixo.
Não movemos uma palha pra mudar essa realidade.
Vem eleição e sai eleição e quem elege, quem decide, quem bota os homens e as mulheres lá em cima vê-se incapaz de impor uma pauta de prioridades a ser debatida durante a campanha.
Você já viu, em alguma eleição, eu, você ou outro eleitor qualquer, exigindo dos candidatos que nos expliquem como vão tratar a questão do salário mínimo e a questão do salário dos marajás dos três poderes?
Esse é apenas um exemplo. Poderia acrescentar dezenas – em todas as áreas: Na segurança, na saúde, na educação, na assistência social, no respeito aos mais velhos, etc.
Ou seja: Nós – os eleitores – temos a força para eleger os que vão decidir por nós, mas somos incapazes de definir o que queremos que eles decidam.
O resultado não poderia ser outro: Eles desfrutam os benefícios de causas cujas consequências somos condenados a suportar e diante das quais nossa reação limita-se a uma atitude de aparente indignação, de mero espanto, que fica por isso mesmo.
Aqui embaixo fico sonhando e esperando que, um dia, a sociedade brasileira desperte e acorde para a sua própria realidade. Esse despertar social não vai cair do céu. Vai ter que partir do indivíduo, do questionamento pessoal e diário de cada um sobre o papel que exerce e sobre a missão que tem a cumprir.
Deixo aqui – pra mim mesmo e pra cada um que estiver tendo a paciência de chegar até este ponto do artigo – perguntas básicas para um exame de consciência diário de cidadania: 1) Estou correspondendo ao papel que me cabe desempenhar na sociedade? 2) A minha missão de cidadania está sendo exercida ou estou me limitando a uma mera atitude de espanto diante de uma realidade tão injusta?

(*) Artigo que assino na edição desta quarta-feira do NOVO JORNAL.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários críticos sem identificação não serão aceitos.