O GREGO DE CADA UM
Paulo Afonso
Linhares
ποταμῷ οὐκ ἔστιν ἐμβῆναι δὶς τῷι αὐτῷ.
Não, não se assuste
paciente leitor(a) destas mal traçadas linhas! Esse
troço aí é a famosa epígrafe de Heráclito
de Éfeso (que viveu mais de quinhentos
anos antes de Cristo) em língua grega e que,
numa tradução livre significa "Não é possível entrar duas vezes no mesmo rio". A citação
não traduz crise de pedantismo acadêmico
deste fatigado escriba provinciano. E o quê quer dizer?
Ora, que a natureza vive um processo incessante de transformação,
de constante mudança, enfim, que as coisas estão
em contínuo movimento. É a base daquilo que
se conhece como dialética.
Nada mais chato que
escrever um despretencioso artigo domingueiro iniciando com uma epígrafe
complicada e em grego, língua pouco cultivada aqui "do
lado de baixo do Equador", no entanto, fatos recentes ocorridos neste
Brasil sem porteira merecem uma reflexão, nem que tenhamos
que literalmente botar o grego para fora. Ora, todo mundo sabe que a velha Grécia,
sem dúvida o berço
da civilização ocidental, está a soçobrar
num mar de dívidas e dúvidas
quanto ao seu próprio futuro: irremediavelmente falida
está a "passar o
pires" para sobreviver. E se cantasse alguma coisa, um velha canção
para embalar gente grande, embora fizesse adormecer as crianças,
como aquela de Zorba, o grego, em que Anthony Quinn dá um banho de
interpretação? Em grego nem a enfadada Angela
Merkel, a chanceler alemã, poderia aguentar. Ela que, aliás,
quer comer assado o seu colega da Grécia, Aléxis
Tsípras, caso se configure o monumental
calote financeiro que os descendentes de Platão ameaçam
impor à União
Europeia, não podendo ser descartada, inclusive, a
retirada dos gregos da zona do euro.
O jovem primeiro-ministro
grego, Alexis Tsípras,
de apenas 40 anos de idade, é presidente do partido de esquerda Synaspismos
e o líder da Coligação da Esquerda Radical,
vem evitando que o seu país e o povo grego sejam espoliados pelo
capital financeiro europeu. Ele sabe bem onde as patas põem.
Por isso é ridículo
e hilário que o Carlos Alberto Sardenberg,
comentarista de economia da Rede Globo de Televisão, tenha afirmado
na rádio CBN que o grande culpado dos
desarranjos econômicos da Grécia
sejam culpa do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, que teriam
"feito" a cabeça de Tsípras, que esteve
com ambos em 2012, quando visitou o Brasil, para não
adotar a fórmula amarga imposta pelos credores
internacionais da Grécia, sobretudo, a poderosa Alemanha de
Angela Merkel.
Textualmente,
Sardenberg afirmou: “Lula e Dilma
disseram para ele que esse negócio de programa de austeridade era uma besteira, era um erro muito grande,
que a Europa estava se afundando na instabilidade. E que a política certa era a que o governo brasileiro estava fazendo,
que era de aumentar o gasto público, o consumo, o crédito público etc, sem se
preocupar com o aumento do déficit, da dívida e da inflação. Em outras palavras, os ensinamentos que ele recebeu aqui no Brasil o levaram
a um desastre, a uma atitude que não deu em nada”.
Claro, Lula nem
Dilma sequer falam grego. Nada mais ridículo, ademais de
demonstrar o papelão que têm feito os grandes
veículos da imprensa brasileira no trato
com o governo Dilma, onde não há limites para os
embustes travestidos de matérias jornalísticas.
Aliás, com isto, o âncora
da Globonews e da CBN já é forte candidato a
pagar o mico da década. Ele e os outros que vêm
apostando todas as suas fichas sujas no golpe que, pretendem, possa apear Dilma
Rousseff da presidência do Brasil. Como disse certa vez
Dolores Ibárruri Gómez,
La Pasionaria, "¡no pasarán!" Com as bênçãos
do filósofo "são"
Aristóteles de Estagira, padroeiro das
causas democráticas.
Depois de muitos anos, ao ver meu amigo de infância, Paulo Afonso Linhares, falando da crise no Jornal da Câmara em 25/08, não pude deixar de pensar "O Paulo Afonso deve ser mesmo um grande advogado".
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