domingo, 12 de julho de 2015

Artigo de Paulo Afonso Linhares

O GREGO DE CADA UM

Paulo Afonso Linhares

ποταμῷ οὐκ ἔστιν ἐμβῆναι δὶς τῷι αὐτῷ. Não, não se assuste paciente leitor(a) destas mal traçadas linhas! Esse troço aí é a famosa epígrafe de Heráclito de Éfeso (que viveu mais de quinhentos anos antes de Cristo) em língua grega e que, numa tradução livre significa "Não é possível entrar duas vezes no mesmo rio". A citação não traduz crise de pedantismo acadêmico deste fatigado escriba provinciano. E o quê quer dizer? Ora, que a natureza vive um processo incessante de transformação, de constante mudança, enfim, que as coisas estão em contínuo movimento. É a base daquilo que se conhece como dialética.

Nada mais chato que escrever um despretencioso artigo domingueiro iniciando com uma epígrafe complicada e em grego, língua pouco cultivada aqui "do lado de baixo do Equador", no entanto, fatos recentes ocorridos neste Brasil sem porteira merecem uma reflexão, nem que tenhamos que literalmente botar o grego para fora. Ora, todo mundo sabe que a velha Grécia, sem dúvida o berço da civilização ocidental, está a soçobrar num mar de dívidas e dúvidas quanto ao seu próprio futuro: irremediavelmente falida está a "passar o pires" para sobreviver. E se cantasse alguma coisa, um velha canção para embalar gente grande, embora fizesse adormecer as crianças, como aquela de Zorba, o grego, em que Anthony Quinn dá um banho de interpretação? Em grego nem a enfadada Angela Merkel, a chanceler alemã, poderia aguentar. Ela que, aliás, quer comer assado o seu colega da Grécia, Aléxis Tsípras, caso se configure o monumental calote financeiro que os descendentes de Platão ameaçam impor à União Europeia, não podendo ser descartada, inclusive, a retirada dos gregos da zona do euro.

O jovem primeiro-ministro grego, Alexis Tsípras,  de apenas 40 anos de idade, é  presidente do partido de esquerda Synaspismos e o líder da Coligação da Esquerda Radical, vem evitando que o seu país e o povo grego sejam espoliados pelo capital financeiro europeu. Ele sabe bem onde as patas põem. Por isso é ridículo e hilário que o Carlos Alberto Sardenberg, comentarista de economia da Rede Globo de Televisão, tenha afirmado na rádio CBN que o grande culpado dos desarranjos econômicos da Grécia sejam culpa do ex-presidente Lula e da presidente Dilma, que teriam "feito" a cabeça de Tsípras, que esteve com ambos em 2012, quando visitou o Brasil, para não adotar a fórmula amarga imposta pelos credores internacionais da Grécia, sobretudo, a poderosa Alemanha de Angela Merkel.

Textualmente, Sardenberg afirmou: “Lula e Dilma disseram para ele que esse negócio de programa de austeridade era uma besteira, era um erro muito grande, que a Europa estava se afundando na instabilidade. E que a política certa era a que o governo brasileiro estava fazendo, que era de aumentar o gasto público, o consumo, o crédito público etc, sem se preocupar com o aumento do déficit, da dívida e da inflação. Em outras palavras, os ensinamentos que ele recebeu aqui no Brasil o levaram a um desastre, a uma atitude que não deu em nada”. 

Claro, Lula nem Dilma sequer falam grego. Nada mais ridículo, ademais de demonstrar o papelão que têm feito os grandes veículos da imprensa brasileira no trato com o governo Dilma, onde não há limites para os embustes travestidos de matérias jornalísticas. Aliás, com isto, o âncora da Globonews e da CBN já é forte candidato a pagar o mico da década. Ele e os outros que vêm apostando todas as suas fichas sujas no golpe que, pretendem, possa apear Dilma Rousseff da presidência do Brasil. Como disse certa vez Dolores Ibárruri Gómez, La Pasionaria, "¡no pasarán!" Com as bênçãos do filósofo "são" Aristóteles de Estagira, padroeiro das causas democráticas.




Um comentário:

  1. Depois de muitos anos, ao ver meu amigo de infância, Paulo Afonso Linhares, falando da crise no Jornal da Câmara em 25/08, não pude deixar de pensar "O Paulo Afonso deve ser mesmo um grande advogado".

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