OS MALUCOS DO TRÂNSITO
PAULO AFONSO LINHARES
Embora pareça que esta é mais uma abordagem sobre motoristas desmiolados e irresponsáveis, quem cometem abusos e danos ao volante, tal não é verdade. Com efeito, esta conversa domingueira se dirige (verbo bem apropriado!) aos verdadeiros causadores de tantos desatinos com o dinheiro e, sobretudo, a paciência dos contribuintes: os engenheiros de tráfego, que pontificam soberanos nos órgãos que cuidam de trânsito nas cidades deste país e, como se fosse duendes inconformados com o bem-estar da coletividade, estão sempre a sacar do bolso do colete algo que dificulte a vida das pessoas motorizadas, sem falar que contam com um conselho nacional – o Contran – que só faz aquelas “besteiras” destinadas a encher os bolsos de alguns vivaldinos: numa hora inventaram um “kit” de primeiros-socorros, que se tornariam equipamento obrigatório de toda a frota nacional de veículos automotores. Mais recentemente inventaram uma vistoria obrigatória e anual de todos os veículos do país, à exceção daqueles com mais de dez anos de uso. A reação nativa junto à opinião pública foi enorme e choveram multas e multas. O “negócio” do momento é a colocação desses antipáticos sensores de velocidade – os pardais – cuja existência tem como objetivo tomar o dinheiro do particular e dar aos poderes públicos, sem esquecer uns sabidinhos que fazem dessa pilhagem um meio de vida.
São tantas as besteiras que esse pessoal inventa para esculhambar o trânsito, que deixam em nós, (infelizmente) usuários desses sistemas, a nítida impressão de que jamais estiveram ao volante de um veículo automotor. Aliás, quando o estique de sandices está baixo, esses engenheiros lançam mão de uma constante inspiração de suas atormentadas vidas: fechar todos os retornos dos canteiros centrais, para obrigar os condutores de veículos a vagar desnecessariamente por quilômetros e mais quilômetros para chegar a seu destino. No mais, adoram acabar com os estacionamentos, as rótulas, as mãos-duplas, para introduzir as os sentidos únicos, as placas de redução de velocidade, as mãos únicas ou obrigatórias, as lombadas (as eletrônicas e aquelas horrorosas chamadas de “quebra-molas” que mais parecem a parede de uma barragem), as tartarugas, os gelos-baianos, o fechamento de todos os retornos com aquelas manilhas de cimento etc.
Criar essas dificuldades para os usuários de veículos automotores – cujas opiniões são olimpicamente ignoradas - parece até que dá um enorme prazer (ou dinheiro) a esses planejadores do tráfego urbano nas cidades grandes. Claro, à medida que as populações crescem rapidamente, inevitavelmente aumenta a demanda por infraestruturas urbanas que fornecem serviços essenciais em diversos domínios, como transporte, saúde, educação e segurança. Igualmente ocorre um incremento de demandas voltadas para a melhoria da qualidade de vida das pessoas (melhor educação, programas de preservação do meio ambiente, acesso à moradia) bem como aquelas que favoreçam uma participação política efetiva na gestão e controle da atividade estatal. Milhares de veículos novos ingressam nas malhas urbanas, o que implica uma série de impactos importantíssimos – sobretudo viários e ambientais (aumento da emissão de poluentes) - que não se levam em consideração. O mesmo se diga relativamente aos sistemas de distribuição de água e de esgotamento sanitário: uma quantidade enorme de edifícios novos construída nos centros urbanos maiores, sem que aumente qualquer coisa na oferta desses serviços vitais. Em ambos os casos, os resultados mais do que previsíveis são os colapsos desses sistemas que, em alguns casos, não apresentam qualquer possibilidade de solução.
Com efeito, não se trata de apenas substituir a infraestrutura falida de uma cidade, porque não é lógico e razoável em se considerando fatores temporais e de custo. A superação dessas barreiras de custos e prazos é plenamente possível com o uso de ferramentas tecnológicas de diversos domínios, capazes de engendrar novos perfis de infraestruturas urbanas. E como podem ocorrer esses processos? Dotando-se os sistemas de digitalização e conectividade capaz de fazer a captação, análise e integração de dados, em tempo real, de modo a capacitá-los responder com eficiência e rapidez às necessidades dos cidadãos. E isso, sempre, permitindo-se uma participação da própria comunidade nas decisões. É nesse rumo que as cidades podem ser “repaginadas”, com revitalização de suas atividades essenciais, com ganhos em inteligência e eficiência. A qualidade de vida numa cidade pode ser medida por cinco parâmetros: estabilidade, serviços de saúde, cultura e meio ambiente, educação e infraestrutura (economist.com, de 28.04.2008). Com base nesses amplos parâmetros é possível estabelecer um ranking das melhores cidades para se viver no mundo. Certamente as cidades com gestores incompetentes e desonestos, além de corpo técnico de baixa eficiência, como é o caso da maioria das cidades grandes do Brasil, dificilmente entrarão no rol onde se encontram: 1-Vancouver (Canadá); 2 - Melbourne (Austrália); 3 -Viena (Áustria); 4 - Perth (Austrália); 5 - Toronto (Canadá); 6 - Helsinque (Finlândia); 7 - Adelaide (Austrália); 8- Galgary (Canadá); 9 - Genebra (Suíça); e, 10 – Sydney (Austrália). E do Brasil? Como diria “seu” Mané, em tempo idos, necas!
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