RN: O NÓ DO GOVERNO
Paulo Afonso Linhares
A invenção do Direito, no mais recuado tempo da
história
das civilizações,
partiu da necessidade que as pessoas têm
de certeza e segurança
jurídicas,
mesmo que para tanto tivessem que abrir mão
de substancial parcela da própria
liberdade. Aliás,
o Estado e as instituições
jurídico-políticas que o compõem são resultantes de um regime de compartição de liberdades, no qual cada indivíduo sofre limitações no seu agir em prol dos interesses
da coletividade. As experiências
de muitos povos, no curso da História,
mostram quão
valiosa é essa
troca de nacos de liberdade pela garantia de segurança jurídica, sobretudo, em face da estabilização das relações sociais que esta acarreta. Assim, esfacelada que seja a noção de segurança jurídica, todas as instituições jurídico-políticas tendem a soçobrar.
Nos dias atuais, vive-se no Rio Grande
do Norte um clima de profunda insegurança
jurídica
originada, em grande medida, nas desavenças
institucionais que envolvem as relações
entre os três
poderes tradicionais (Legislativo, Executivo e Judiciário) do Estado que, conquanto permaneçam independentes, não guardam a tão necessária harmonia entre si. Com efeito, em
um canto do ringue apresenta-se um Poder Executivo cada vez mais atabalhoado e
sem condições
de dar respostas convincentes às
tantas demandas colocadas pelas mastodônticas
engrenagens administrativas; no outro corner, avançam ombreados o Legislativo e o Judiciário, imbuídos no desejo comum de estraçalhar todas as chances de acerto que
aquele possa ter. E deveras bem guarnecidos com um arsenal de normas jurídicas perfurocortantes e contundentes processos.
Os três anos de governo de Rosalba Ciarlini
têm
sido de enormes tensões
com a Assembleia Legislativa e Tribunal de Justiça, originadas quase sempre de
insatisfações
tocantes a recursos orçamentários, isto sem falar na guerra
intestina do próprio
Executivo, traduzido no confronto da governadora com todas as categorias de
servidores públicos
insatisfeitos e dispostos a brigar com paus e pedras para garantir uma série de conquistas consignadas em lei
que, todavia, não
têm
merecido o acatamento e o devido respeito por parte do atual governo do Estado.
Certo é que
em todas as áreas
o governo Rosalba Ciarlini tem enfrentado enormes dificuldades, mormente após o rompimento do vice-governador Robinson
Faria, cujo saldo negativo maior foi a perda do secretário-chefe da Casa Civil, Paulo de
Tarso Pereira Fernandes, reconhecido quadro técnico-político que agregava muita credibilidade à
estrutura governamental.
Interessante é
notar que os gestores dos Estados da
federação
brasileira e respectivos Municípios,
além
do Distrito Federal, não
passam de meros "vaqueiros" de folha de pagamento do pessoal, de modo
que os recursos financeiros de suas receitas correntes mal cobrem os gastos
mensais. Qualquer investimento mais vultoso fica sempre na dependência das chamadas "transferências voluntárias" da União Federal ou de algum empréstimo externo conseguido. Por isto, o
exercente do cargo de governador tem que se dispor a uma série de mediações as diversas categorias de
servidores públicos
estaduais, ademais de manter um bom nível
de colaboração
com os poderes Legislativo e Judiciário,
sobretudo, com a liberação
integral das cotas duodecimais de recursos conforme ritual previsto na
Constituição
Federal.
Ao que parece, os condestáveis do atual governo do RN descuraram
em seguir esse caminho, preferindo
apostar no confronto direto com o Judiciário e o Legislativo, ademais das
diversas categorias de seus servidores, para tornar as dificuldades
generalizadas em todos os setores do governo: saúde, educação, segurança pública etc. E os resultados disto são mais do que visíveis, em especial a insegurança jurídica que ora contamina todas as
instituições
estaduais, com terríveis
reflexos para a população
que, afinal, nada tem a ver com essas querelas de lumpiras e gafafais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários críticos sem identificação não serão aceitos.