domingo, 8 de maio de 2011

Artigo de Paulo Afonso Linhares

OS CAPRICHOS DOS IMPÉRIOS

Paulo Afonso Linhares




             Os impérios permeiam a História desde os tempos imemoriais. Sumérios, assírios, chineses, egípcios, gregos, macedônios, romanos etc. Na noção mais antiga, os impérios eram formados por várias nações etnicamente diversificadas, sob o comando de um Estado soberano, cujo interesse era prevalente e se traduzia na exploração exaustiva dos povos colonizados, reduzidos estes a uma condição subalterna e degradante.  O colonialismo dos séculos XIX e XX, patrocinado por países europeus (ingleses, franceses, belgas, holandeses etc.), estabeleceu novo tipo de relação política: o Estado colonizador tentava forjar Estados colonizados à sua imagem e semelhança, a despeito das enormes diferenças étnicas e culturais, o que se fazia com a imposição da língua oficial do império e do transplante para esses novos territórios de determinadas instituições jurídico-políticas. Todos esses processos tiveram como panos de fundo as guerras de conquista de territórios e, em certos casos, praticamente com a aniquilação dos povos dominados, como foi o caso da colonização dos povos da América Central pelos espanhóis. Atualmente, a noção de poder imperial se baseia na influência que um Estado tem sobre vários outros, independentemente da conquista de territórios, porém, mediante a intimidação que emana de poderosas máquinas militares e da dominação econômica, cultural, científica e tecnológica. Neste sentido, a antiga União Soviética foi um império e os Estados Unidos da América são a potencia imperial contemporânea.
            A História da humanidade é pontilhada de lutas entre dominadores e dominados, os impérios e seus súditos rebeldes. Entretanto, mais curioso é que historicamente se repetem os exemplos de grandes impérios acossados por um simples mortal. Um pouco como aquela situação em que pequenos ratinhos assustam elefantes que tem centenas de vezes o seu tamanho. Spartacus (120 a.C – 70 a.C), escravo e gladiador de origem trácia, liderou a maior e maios sangrenta revolta de escravos da antiga Roma. Também conhecida como a “Terceira Guerra Servil”, pois Spartacus liderou um exército rebelde composto de quase 100 mil escravos, que após muitos embates foi finalmente dominado pelo exército do triunviro Crasso, cuja atitude punitiva foi mandar crucificar mais de seis mil rebeldes ao longo da famosa Via Apia. Meio séculos depois, o império romano, sob o governo do imperador Tibério, daria outra demonstração de forças contra a exótica figura do nazareno Jesus que, mesmo sem se rebelar contra o poder de César foi igualmente crucificado, após confuso julgamento popular conduzido pelo procurador-geral da Judeia, Pontius Pilatos. Punição exemplar que, ao invés de afogar em sangue as ideias do Cristo, como desejavam os romanos, tornou-se o símbolo de uma civilização que já dura mais de dois milênios.
            Os dias que correm foram abalados com a notícia da morte do saudita Osama Bin Laden, aliás, transmitida para o mundo pelo próprio presidente norte-americano Barack Obama, desencadendo uma enorme euforia coletiva nos Estados Unidos da América. Osama foi o autor intelectual e financiador do maior atentado terrorista que se tem notícia, o do World Trade Center, Nova Iorque, em 11 de setembro de 2001, com a perda de 2.993 vidas humanas e 6.291 feridos, além dos bilhões de dólares em escritórios destruídos que causaram enormes danos à economia local. A partir daí, todos os recursos militares e tecnológicos foram empregados na maior caçada humana que se tem notícia: no encalço de Bin Laden, o líder da organização extremista AL-Qaeda, que assumiu o atentado, as forças armadas vasculharam tudo no Afeganistão, Sudão, Paquistão e outras partes do mundo. O megaterrorista Bin Laden, acompanhado e suas quatro esposas, além de outros familiares e ajudantes próximos, conseguiu enganar o serviço secreto norte-americano sobre seu paradeiro. Literalmente, abriu-se o chão sob seus pés, por longos dez anos.
            Mais dia menos dias o poderoso império ianque colocaria as mãos em Bin Laden. Foi o que ocorreu no último dia 2 de maio de 2011, na remota Abbotabad, no Paquistão, quando uma tropa de elite dos fuzileiros navais norte-americanos executou a tiros o líder da al-Qaeda. Uma série de histórias mal contadas teve início, como a questão do paradeiro dos despojos de Bin Laden que, segundo o presidente Obama, fora jogado ao mar, algo muito improvável. Estranho mesmo foi a confissão do governo norte-americano de que o paradeiro de Bin Laden foi levantado a partir da tortura imposta a membros de sua organização, presos em instalações militares ianques. Os relatos da morte de Bin Laden dão conta de que ele foi pego desarmado, sem chances de reação, mas mesmo assim foi executado. Neste ponto os romanos do imperador Tibério eram mais evoluídos: Jesus foi processado e julgado. Bin Laden foi executado sumariamente, sem uma palavra e desarmado. Para o império comandado pelo Dr. Obama, os fins justificaram todos os meios; direitos humanos são apenas palavras ao vento das conveniências e interesses, bem no estilo do que se dizia em Roma para justificar o uso da violência política: Salus rei publicae suprema Lex est. A salvação da república é a suprema lei.

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