O TARADO DO FMI
PAULO AFONSO LINHARES
Nos últimos duzentos anos, pensadores de todas as extrações têm feito enorme esforço para desvendar aquilo que poderia chamar-se de "o espírito do capitalismo".Claro, quem mais perto chegou de traçar os seus contornos, posto que ainda um rabisco ligeiro, foi Max Weber com o seu tonitruante Die protestantische Ethik und der 'Geist' des Kapitalismus (A ética protestante e o espírito do capitalismo). A referência a rabisco não traz nenhum menosprezo a Weber e, sobretudo, a sua vigorosa obra, na qual ele adverte: "No título deste estudo usamos a frase, algo pretensiosa, o espírito do capitalismo. O que se entende por isso? A tentativa de dar qualquer definição para isso implica em certas dificuldades, inerentes à natureza deste tipo de investigação"(II/18). Passos adiante, Weber cita Kümber, que define os capitalistas do seguinte modo: “Eles tiram sebo do gado e dinheiro dos homens”. Ótima síntese.
Na verdade, Weber alceia uma tese de que a ética e o ideário que eclodiram no bojo da Reforma Protestante foram decisivos para formação do capitalismo na Europa e nos Estados Unidos da América, a partir do século XVI. Ao contrário dos católicos, os protestantes, em especial os calvinistas, tinham uma visão que enfatizava a racionalidade do comportamento econômico e o significado espiritual e moral positivo da vida terrena, em contraposição à promessa de vida "eterna" daqueles. E a segunda pátria de Calvino e a de Ulrich Zwingli e outros bichos mais, a pequena e rica Suíça, tornou a grande potência financeira do mundo. Um enorme paradoxo que Weber abraçou e, em parte desvendou, para resumir a ópera.
Deixando de lado o sofisticado Weber e indo para o popular, sobre esse tal "espírito" do capitalismo, muitos entendem que, além de tirar o sebo do gado e o dinheiro dos homens, ele tem muito a ver com variadas taras sexuais. Isso tem alimentado muitas teses doutorais e intermináveis discussões acadêmicas. Aliás, nas sociedades capitalistas contemporâneas vincula-se ao espírito burguês e capitalista uma bem azeitada ação de propaganda voltada contra os valores da individualidade (e não do individualismo) e da solidariedade social, que não se excluem, produzindo-se uma identificação amorfa entre a liberdade e a irresponsabilidade de uma vida baseada na busca do prazer e do sucesso pessoais, como desiderato maior a ser atingido pela pessoa humana. Algo que, na literatura brasileira, é estandartizado na figura do português João Romão, uma espécie de metáfora daquilo que se entende como "capitalismo selvagem", personagem principal do romance "O Cortiço", de Aluísio de Azevedo. Extremamente avaro e ambicioso, João Romão não mede esforços para enriquecer, inclusive com uma série de trapaças "comerciais", porém, o aspecto mais relevante de sua "saga" é a relação que mantém com a escrava Bertoleza, sua amante, que além ser ser explorada sexualmente por ele, forneceu-lhe suas pequenas economias - com as quais compraria sua manumissão! - para que ele construísse três casinhas de aluguer, as quais, com o tempo, se tornaram noventa e nove, um cortiço! Depois foi abandonada, velha, doente e ainda escrava, em suma, um bagaço de laranja jogado no lixo. O espírito capitalista de João Romão está entrelaçado a uma série taras sexuais, patológicas horripilantes, que perpassa a narrativa.
Todos estes retalhos de coisas lidas e digeridas para lembrar esse recente caso de polícia que envolveu o francês Dominique Gaston André Strauss-Kahn, conhecido pela sigla DSK, economista, advogado e político membro do Partido Socialista (PS) francês, presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI) e pule de dez para ser presidente da França em 2012, até poucos dias atrás, quando foi detido no aeroporto John F. Kennedy, em 14 de maio de 2011, em Nova Iorque, pouco antes de embarcar para Paris, sob acusação de abuso sexualcontra uma camareira que teria ocorrido horas antes. Para sair da enrascada, DSK renunciou ao cargo no FMI, pagou um milhão de dólares de fiança para sair da cadeia e tem agora um caminhão de mulheres dizendo terem sido assediadas por ele, inclusive uma das aeromoças do avião onde foi preso disse que ele, depois de "traçar" a camareira, teria elogiado o seu bumbum: "Quel beau c...!", algo como "que bela bunda!". Um safado de carteirinha; sem trocadilho, um "esmeril da França", que come tudo. Sem meias palavras, um tarado esse DSK (parece referência a doença venérea) que certamente aprendeu, ou aperfeiçoou, esse estilo com o FMI, que tanto tem enrabado - em quase todos os sentidos - povos e nações desse Terceiro Mundo sem porteira, aliás, de onde veio a tal camareira, 32 anos, muçulmana, viúva e mãe de uma adolescente, originária da Guiné, país da África Ocidental, colonizado pela França de DSK. E talvez se chame Bertoleze...
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