Artigo de Pedro Simões
IDEOLOGISMO E FISIOLOGISMO:
O RIO GRAVE DO NORTE
Pedro Simões
Nosso estado está paralizado. Quase todas as categorias de servidores públicos estão em greve ou com indicativos de fazê-la. Ingovernabilidade? Talvez. Mas essa sinalização já estava delineada antes das greves, no momento em que a nossa governante, à míngua de soluções criativas e diante dos problemas financeiros preexistentes, decidiu usar a estratégia do pára-brisa: culpar o governo anterior por todas as dificuldades que encontrou. E logo ela, a dinâmica senadora e competente ex-prefeita de Mossoró, que trouxe alento à boa parte da população, inclusive a mim, que não votei nela, nem me alinho com a sua doutrina partidária.
Estou convencido que a questão de fundo da nossa política é a desindexação da ideologia nas propostas de governo. E, em alguns casos não existe nem mesmo uma proposta, ainda que inconsistente. Escolhemos os governantes e os nossos representantes como se estivéssemos num divertido pastoril - pelas cores, ou beleza das pastorinhas. Quando não nos vendemos por trinta moedas, deixando de ganhar obras e serviços públicos que nos beneficiaria a todos, sobretudo os menos afortunados.
Acostumamo-nos à histórica herança patriarcal em que os habitantes das capitanias, dos coronelados e, no caso do Nordeste, os flagelados da seca (entendidos extensivamente) sempre recebíamos esmolas e legados para a nossa sobrevivência. Um cala-te boca para nos mantermos quietos e escravos.
Os três últimos governos do nosso país, em que pese as inúmeras contradições e ações questionáveis, definiu-se ideológicamente por uma opção em favor da pobreza. E deu no que deu: além de reduzir drásticamente a pobreza, provou que essa estória de liberalismo econômico é um engodo para engordar os já cevados ricos. E que esse modelo vitorioso - de emergência social - é também responsável pelo desenvolvimento do país, já que cria novas frentes de consumo.
É evidente que não se pode minimizar nem simplificar grosseiramente como estou fazendo. O estímulo à educação, de longe o maior vetor para o desenvolvimento sócio-econômico, os investimentos públicos na habitação, na agricultura e na pesca, etc, etc.
Por muito menos que se perceba, há indícios do "ideologismo" nos governos a que me referi. Quem votou nos candidatos dos partidos ditos "de esquerda", sabiam porque o estavam fazendo. Havia uma clara definição de propósitos e um modelo que balizavam a opção de preferência pelos candidatos do bloco.
No caso do RN, votamos na oposição, numa candidata bafejada pelos sucesso na gestão pública municipal e nas ações legislativa. E na manutenção de um sistema de forças conservadoras que fundiu o verde e o vermelho criando o cor-de-rosa. Só.
Ninguém teve o cuidado de interpelar o sistema híbrido se havia uma proposta política, um modelo de gestão, planos e projetos inovadores. Nada. Até mesmo porque a candidata, hoje governadora, acomodou-se em atirar pedras na vidraça situacionista, jogando areia nos olhos dos observadores políticos. Por isso não se pode tributar responsabilidades a ela. Não prometeu nada nem lhe cobraram coisa alguma.
Responsáveis são os que votaram nela, sem procurar saber a que ela viria, quais as propostas iniovadoras e salvacionistas, encantados que estavam pelas cores e pela virulência do discurso oposicionista. Deu no que deu.
Que tal se nós pensássemos duas vezes antes de escolher os nossos candidatos, e ultrapassássemos esse primarismo de fascinio pelas cores e discursos, o fisiologismo, e avançãssemos até a investigação dos propósitos estruturantes dos candidatos, definindo a sua ideologia?
Quem sabe, deixaríamos de ser o Rio Grave do Norte, ou Rio Greve do Norte e seríamos "Grandes" do Norte?
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