domingo, 5 de junho de 2011

Artigo de Paulo Afonso Linhares

O DILEMA DA COPA

PAULO AFONSO LINHARES

            Três anos nos separam do maior evento futebolístico que se realiza around the world, a cada quatro anos, desde a primeira, no Uruguai, em 1930. A Copa do Mundo de Futebol é o maior evento desse que é o esporte mais popular do mundo. O Brasil, maior ganhador desse magno torneio com cinco campeonatos, realizou uma copa em 1950. Embora tenha controlado diretamente a Fédération Internationale de Football Associaton (FIFA) por muitos anos, sob a presidência de João Havelange, ademais de sua condição da maior ganhador das copas, o Brasil há muitos anos que pretendia realiza mais uma copa do mundo. Finalmente, depois de muita catimba do presidente Lula, a entidade maior do futebol resolveu realizar a sua 18ª copa no Brasil, em 2014 (já foram realizadas em 15 países de quatro continentes).
            O entusiasmo foi tanto que nos esquecemos da enorme fragilidade da maioria das cidades que sediarão os jogos da copa de 2014 (Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Manaus, Cuiabá e Brasília), com péssimas infra-estrutures urbanas e aeroportuárias, sucateamento da rede hoteleira e, sobretudo, dificuldades para aparelhar todas essas cidades de praças esportivas adequadas ao rigoroso paladar dos homens da Fifa que, por exemplo, não aceitaram nenhum dos estádios existente, impondo ou grandes reformas ou a integral construção de novo, como é o caso de Natal e São Paulo. E o dinheiro para isso? A Fifa e a Confederação Brasileira de Futebol se encantaram com a fórmula mágica dos técnicos brasileiros, do governo federal: tudo será construído a partir do financiamento das chamadas parcerias público-privadas, as chamadas “PPPs”.
            O problema é que nenhum empresário de juízo vai enterrar, literalmente, um bilhão de dólares num estádio em Natal (e em algumas outras capitais), com pequenas ou nenhuma possibilidade de retorno do investimento. Mesmo porque o futebol potiguar é extremamente pobre e de baixíssimo nível técnico e como atividade econômica. Na maioria das cidades-sedes brasileiras, os preços das entradas para partidas de futebol são entre dez e trinta vezes menores do que os dos estádios europeus, norte-americanos e japoneses. Na recente decisão da Champions League de 2011, entre o Barcelona e o Manchester United, os 87.695 presentes à belíssima festa do fantástico Estádio de Wembley tiveram que desembolsar uma grana inimaginável em qualquer estádio brasileiro: a Uefa divulgou que o ingresso mais barato para assistir a partida que definiu o campeão europeu de 2011 custaria 176 libras esterlinas, com taxas incluídas (cerca de R$ 475). Com ingresso de R$ 50, uma bem azeitado ABC vs América ou um bom Potiba, levaria para o estádio apenas os jogadores,árbitros, gandulas, homens da imprensa, policiais e uma duas dúzias de torcedores fanáticos. Daí das enorme dificuldades para decolar que têm as PPPs.
            Com o tempo que falta para a Copa de 2014 dificilmente os estádios estarão prontos. Em Natal, o Machadão ainda continua de pé; em São Paulo, a esperada construção do estádio que o Corinthians construirá no Itaquera ainda nem começou. As duas cidades estão ameaçadas de ficar de fora. Só que em, pouco tempo São Paulo se mobilizará para atender as exigências da Fifa; o mesmo não se diga de Natal, que dificilmente superará a carrada de problemas que atravancam a sua pretensão de sediar jogos do Mundial de 2014. E ficará de fora dessa festa, com gravíssimos reflexos para o desenvolvimento do RN. Esta é uma conclusão dolorosa para nós, mesmo porque já advertia o filósofo Lucius Annaeus Sêneca que “[...] Nada é tão lamentável e nocivo como antecipar desgraças.” O grande problema - e a desgraça -  do RN é a falta de definição para os enormes investimentos que deveriam já ter começado, a despeito dos esforços do governo do Estado. Um estúpido e confuso elefantinho, numa canoa sem rumo nem remos. A propósito, não foi sem razão que o mesmo Sêneca deixou lançado que “[...] Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir.”

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