Barco mal carregado
A governadora Rosalba Ciarlini está enfrentando sérios momentos de turbulência administrativa e política.
Certamente muito mais cedo do que ela imaginava acabou a paciência daqueles que têm voz. Todos sabem que a governadora não tem culpa pela situação em que recebeu o Estado, mas boa parte já entende que é pouco, ou quase nada, o que tem conseguido fazer: primeiro, pra superar a situação desoladora que encontrou; e, segundo, para começar a melhorar a vida dos que dependem da assistência estatal.
Até agora não aconteceu, nenhuma coisa, nem outra.
Essa, a turbulência administrativa; que alcançou proporção – eu diria até – impiedosa, com a vaia que ecoou no Machadão, sábado, por ocasião da festa de formatura do Proerd.
Ou seja: O povo não quer nem saber que a governadora Rosalba Ciarlini não pode fazer nenhum milagre. O que ele sabe, é que precisa desse milagre. E, por isso, o tem exigido de forma tão enfática e tão determinada.
Claro: Quando me refiro a “povo”, não estou pensando, apenas, nos servidores que clamam por melhores salários e por condições de trabalho mais adequadas.
De certa forma, por terem emprego – e emprego público – num Estado de desempregados – os servidores, de uma certa forma – repito - são até uns privilegiados. Pouco ou muito, têm o seu pedacinho certo, todo final de mês.
Estou me referindo, principalmente, aos que, nem com isso podem contar e estão aí, sem emprego, sem salário, sem casa, sem escola, sem remédio, sem saúde, sem nada.
Então, sem nenhuma dúvida, é pesadíssima a barra que Rosalba está enfrentando. Será que ela vai conseguir surportá-la até o fim? Ela não pode é perder a cabeça e se transformar numa fabricante de ilusões.
Para complicar, já há clara sinalização de que essa impaciência, essa atitude – digamos – de incompreensão diante das dificuldades, já contaminam, inclusive, a elite política encastelada na Assembléia Legislativa.
É como se, no pensamento e na atitude da elite política, a responsabilidade pelo ônus da crise pesasse única e exclusivamente sobre os ombros de Rosalba e, não como de fato deve pesar, sobre os ombros de todos.
Considero uma afronta, por exemplo, o Estado numa situação dessa e a nossa Assembléia Legislativa, como se não tivesse nada a ver com esse quadro de dificuldades para o povo e para o governo, está se dedicando a discutir se deve restabelecer ou não, a questão da eleição fora de época, com direito à reeleição, para os seus dirigentes.
O barco – ninguém pode se iludir - é um só. E está mal carregado. A solução tem que ser buscada em conjunto, dentro da lei e da realidade, ou ninguém escapará do naufrágio.
* Texto do comentário que assino na edição desta quarta-feira do NOVO JORNAL.
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