A FORÇA DOS PARTIDOS
Paulo Afonso
Linhares
É sempre a senzala
vista sob a ótica da
casa-grande. As elites brasileiras são marcadamente paternalistas e, como tal, sempre enxergam o
povo como incapaz de tomar suas próprias decisões. A nossa intelligentsia continua a entender, por
exemplo, que é necessário estabelecer uma forte tutela através do Poder Judiciário, com a imposição de marcos regulatórios rigorosos e abrangentes, para o processo eleitoral.
Aos partidos políticos apenas cabe
o cumprimento de um cipoal de normas que, grosso modo, tratam das candidaturas,
da propaganda eleitoral e da movimentação financeira dos partidos e candidatos. Um aspecto
interessante dessa questão é o grau cada em mais acentuado do uso de tecnologia
informacional (TI) nesses processos, facilitadores de um controle tão rígido das
atividades partidárias e eleitorais
que tornam decerto bem mais distante o exercício pleno das práticas democráticas.
Noutras palavras, o arsenal jurídico-normativo posto à disposição da Justiça Eleitoral com o desiderato de coibir os vícios e abusos do poder político e econômico - que são atitudes ilegitimadoras da representação política resultante
dos processos de eleição dos agentes políticos - tem genericamente alcançado seus objetivos, embora sem acarretar a evolução do sistema partidário. Aliás, a estrutura
arcaica e a enorme pobreza dos partidos políticos brasileiros, o fazem absolutamente inadequados ao
desempenho da imensas tarefas de que são portadores por definição constitucional e legal. Os partidos políticos, sobretudo seus órgãos locais (comissões municipais provisórias e diretórios municipais) e regionais (comissões estaduais provisórias e diretórios estaduais), de per
si não têm qualquer condição de arcar com as enormes despesas das campanhas eleitorais
que, no Brasil, ocorrem a cada dois anos.
O acentuado déficit democrático, que as instituições erigidas na Constituição de 1988 não conseguiram
mitigar, deve ser imputado à fragilidade orgânica dos partidos políticos, que rigorosamente têm atuação quase sempre
apenas nos períodos eleitorais e
cada vez ficam mais distantes de serem os interlocutores da sociedade, papel
que por excelência lhes é reservado em qualquer democracia que mereça esse nome. Afinal, não é o partido político o moderno príncipe na visão do filósofo Antonio
Gramsci? Por que então, no Brasil, a
sua atuação tem caráter tão secundário e pouco
decisivo dos processos políticos? Ora, são os partidos políticos instituições de mediação entre a
Sociedade e o Estado, formados por cidadãos organizados no dúplice desiderato de dar exequibilidade a um conjunto de
propostas que encorpam um determinado projeto de sociedade - que constitui os
chamados "programas partidários" - bem
assim a difusão de ideais e
valores que informam uma certa visão do mundo. Para realização destes objetivos, os partidos políticos estabelecem estruturas organizacionais cuja espinha
dorsal é a militância (o conjunto de cidadãos eleitores filiados) e as instâncias diretivas. O poder de mobilização de um partido é diretamente proporcional ao de sua militância.
Ocorre que, na destinação natural da conquista e manutenção do poder pelos partidos políticos, não raro as lideranças situadas nas mais altas instâncias partidárias sobrelevam o jogo das alianças e o próprio desfrute do
poder por uma nomenclatura de poucos privilegiados em detrimento da militância que, a partir de certo nível, deixa de se reconhecer como partícipe da estrutura
partidária, passando a uma vida politicamente
desorganizada enquanto cidadãos. Este fenômeno ocorre, presentemente, com o PT, em alguns Municípios brasileiros, nos quais o Diretório Nacional vem impondo posições políticas, em vista
das eleições de 2012, ao
arrepio das instâncias partidárias inferiores. Nisto, infelizmente, se igualou aos outros
partidos; caiu na vala comum.
Embora o cidadão possa ter uma participação política através de instituições extrapartidárias, a existência de partidos bem estruturados e claramente definidos
nos campos político e ideológico e condição sine uma non ao
funcionamento regular do Estado Democrático de Direito. No Brasil, isto ainda é utopia, sobretudo, porque os poucos que acham possuir o
monopólio do pensar,
demorarão muito para
compreender que a proteção que impõem ao povo, com suas leis cheias de afetação e bobagens, apenas reforçam o jugo da ignorância e da lassidão políticas. Afinal, a
pedra angular da democracia é a noção basilar da igualdade entre cidadãos e a natural propensão de cada um para ser livre.
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