Farmácia não é supermercado
e remédio não é confeito
Paulo Tarcísio Neto
Medicina/UFRN
paulo_tarcisio@hotmail.com
“Tudo é
veneno; tudo é remédio.” Frase antiga que se atribui a Shakespeare e que resume
um dos paradigmas básicos da medicina e farmacologia: a diferença entre o
remédio e o veneno está na dose. Isso tem como implicação o fato de que
qualquer medicação, tomada de maneira equivocada tende a provocar muito mais
males do que bens àquele que a utilizou.
Duas semanas
atrás, falamos um pouco sobre os antibióticos: medicação que, tomada em dose
menor do que aquela que deve ser utilizada, pode levar o indivíduo a produzir,
com o tempo, uma população de “super-bactérias” resistentes contra as quais não
teríamos um arsenal terapêutico eficaz. Outro equívoco similar cometido pelas pessoas
é acreditar que “quanto mais comprimidos eu tomar, melhor”, isto é: o certo é
eu tomar um comprimido pra dor de cabeça, mas se eu tomar dois ou três, a dor
passará duas ou três vezes mais rápido.
Essa “regra
de três”, entretanto, não existe no corpo humano. Toda medicação, como dizia
Shakespeare, é um veneno em pequenas doses. Se tomo um hiper-dose dessa
medicação, é veneno que eu estou tomando. Por exemplo, é nocivo ao corpo tomar
em altas doses de medicações pra dor, mesmo essas mais simples, que geralmente
temos em casa ou até mesmo levamos conosco. Algumas podem provocar severas
tonturas, outras até mesmo problemas nos vasos ou no fígado. Se necessitamos
tomar remédios para azia numa freqüência muito elevada também é um sinal de que
precisamos procurar um médico.
Os efeitos
colaterais das medicações são exatamente as provas de que na verdade elas são
venenosas e devem ser tomadas com cautela, sempre sob orientação médica. Nosso
médico é o responsável por nos ensinar a ler os sinais que nosso corpo nos dá. Precisamos
aprender a enxergar as medicações não como algo mágico que fará os problemas do
meu corpo sumirem de uma hora pra outra, mas sim como um mal necessário que, se
usado de maneira errada, multiplicará nossas doenças em 100 vezes. Farmácia não
é supermercado e remédio não é confeito. Quando o assunto é medicação, quanto
menos precisarmos delas, melhor. Sempre consulte seu médico se você tem algum
sintoma que persiste há algum tempo. A hipocondria é uma doença psiquiátrica e
pede tratamento.
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