Isolda Lemos |
Brasil, ano de 1971, período da ditadura militar.
Um tempo cruel. Pessoas que lutavam por liberdade de expressão desapareciam, eram torturadas, perseguidas, famílias destruídas.
Muitas vítimas sobreviveram e contam o que presenciaram.
Isolda, uma jovem, voava para o Chile em busca de paz, viver um amor, não sabia o que iria passar naquele Chile vermelho.
"Do Ventre da Cordilheira, uma carta para Yasmine".
Um livro emocionante por sua sinceridade e angústia e que a história não pode esquecer.
Será relançado dia 19 de julho, após 17 anos.
A 2ª edição vem com fotos inéditas e cartas do seu companheiro Rubens Lemos, jornalista, na época exilado político.
Comemorando seus 70 anos, Isolda fala um pouco sobre o livro e dos momentos que passou.
Por que a vontade de escrever a carta?
ISOLDA - Todo mundo sabia do contexto geral, mas não dos detalhes, da minha visão, precisava desabafar, sentí que havia chegado a hora, e escrevi uma carta para minha filha Yasmine quando ela fez 18 anos, foi um alívio poder contar coisas que eu, Rubens e Rubinho passamos, nosso filho com menos de dois anos.
" Ouvi quando falavam de exilados perseguidos e mortos na fronteira.
Eu não entendia aquela confusão.
Seu pai se esforçava para me fazer feliz...
a paz que eu procurei quando segui viagem estava longe de encontrar naquele Chile vermelho. (trechos)
Sua narrativa é angustiada e forte, era o que sentia quando estava lá?
ISOLDA - Sentia angústia, eu não entendia nada de política, fui para ficar ao lado do meu marido, do pai do meu filho, queria construir uma família e só voltar ao Brasil muito tempo depois, todos felizes, depois comecei a perceber a realidade. O governo de Allende ameaçado, os socialistas não eram mais bem vindos. Engravidei de Yasmine, a situação cada vez pior, corríamos riscos .
No livro há vários trechos marcantes, entre eles o seu sequestro e prisão no Rio de Janeiro, naquele momento você pensou em tirar a própria vida?
ISOLDA - Foi um dos piores momentos da minha vida, já era o ano de 1972, a polícia me informou que eu nunca mais iria ver Rubinho. Minha cabeça girou, a gravidez já bem evidente, eu sabia que iria morrer; lembro que tracei todo o percurso de onde eu estava sentada, até a janela mais próxima, me jogaria com meu filho, não suportaria perdê-lo.
Ficamos muito tempo abraçados,
os três.
Imprensando você na minha barriga...eu não sabia das torturas,
prisões das pessoas que chegavam de um país socialista.
Era a ditadura de Médici". (trechos)
O que a fez desistir?
ISOLDA - Entre o horror, desespero e o medo, eu rezava o oficio de Nossa Senhora , não podia perder minha fé, sou devota dela, Deus e Nossa Senhora e amigos solidários nos salvaram.
Se o tempo voltasse, faria tudo de novo?
Por amor sim, de tudo que passamos, tivemos três filhos, três frutos de um amor forte e verdadeiro. Não me arrependo de nada . Nossa história é o nosso legado .
Éramos jovens, quentes,
sonhadores e alegres, apesar das contigências...(trechos)
O que diria para a nova geração?
ISOLDA - Aproveitem a liberdade conquistada com sangue de forma responsável. Hoje todo mundo fala mal, critica, depois vai dormir tranquilo. É preciso saber que houve uma história com barbaridades, de pessoas que deram suas vidas para que hoje todas as pessoas falem, se expressem.
Gostaria de voltar ao Chile?
ISOLDA - Não. Fui convidada a sair do país, fui deportada sem ter culpa de nada , impossível esquecer.
Imperdível!! Um livro que conta uma grande história de amor, vivida e sentida por uma família inesquecível!! Uma prova de Amor é Fé!
ResponderExcluirUm grande abraço de, Jadson