O INFERNO DO
CIDADÃO-CONSUMIDOR
Paulo
Afonso Linhares
Nos dias que correm, a maior virtude dos burocratas
encarapitados nas diversas esferas da estrutura do Estado federal brasileiro, é descobrir alguma maneira de causar
percalços
e dissabores para o cidadão-consumidor,
quanto melhor quando essa ações
nefastas que praticam à
sombra do jus imperii (direito de
praticar atos de soberania) estatal se transforma em canais de arrecadação desmedida de recursos da sociedade
que vão
irrigar ou máquinas
administrativas ineficientes ou para manter acesa a voracíssima fogueira da corrupção. A despeito da condição natural energúmenos e cretinos, aos burocratas de
plantão
não
falta criatividade para engendrar sacanagens contra o cidadão-consumidor, tornando cada vez mais
pesado o fardo. O que eles querem, afinal, é o poder para disseminar o vasto conteúdo de seus sacos de ruindades.
Fato é
que cada vez mais a vida das pessoas, nestes Brasis desvairados, se tornam
oneradas. Como se não
bastasse um sistema tributário
mal estruturado, voraz e injusto, nos planos federal, estadual e municipal, que
ostenta mais de meia centena de espécies
de tributos, o Estado brasileiro crescentemente enfatiza a arrecadação
de receitas pelo exercício
daquilo que no direito norte-americano se conhece como police
power, o chamado "poder de polícia"
(que nada tem a ver com a atividade policial). Muitas vezes até que as ações estatais vêm revestidas de aparentes bons propósitos, como é o caso das inúmeras exigências dos órgãos encarregados da proteção ambiental ou da saúde pública.
Noutros casos, todavia, são cenas de ladroagem explícita tendo como vítima o cidadão-consumidor, em que os burocratas
criam arapucas sem o menor sinal de respeito ao bom senso e à lógica mais elementar. Um exemplo disto
são
as famigeradas "lombadas eletrônica",
os "pardais" e outros aparatos eletrônicos de fiscalização remota colocados na vias públicas urbanas e até na rodovias intermunicipais e
interestaduais, com o único
objetivo de multar motoristas que, para escaparem desses genuínos achaques, se sujeitam a trafegar
em baixíssima
velocidade e contribuindo para tornar o trânsito
cada vez mais caótico
nas grandes cidades brasileiras. É
muito difícil
manter um veículo
automotor no limite de 50 quilômetros/hora
E os órgãos fiscalizadores de mãos dadas com empresários picaretas faturam somas
fabulosas de recursos extorquídos
da população
indefesa; os "pardais" e "lombadas eletrônicas" se transformam em
poderosos máquinas
de "fazer" dinheiro, que vão
alimentar os caixas dos políticos
por interposição
as empresas que os exploram mediante contrato com a Administração Pública.
Outro absurdo neste país
verde-amarelo é
a atuação,
contra os interesses da sociedade, das principais agências reguladoras de serviços públicos que, após o governo FHC, surgiram aos montes.
Na verdade, mais uma vez partiu o Brasil para a cópia de instituições alienígenas sem o cuidado das indispensáveis reduções sociológicas e política, idêntico erro cometido pelos pais da República nos seus primórdios, à frente Ruy Barbosa que, encantado
pela american democracy tal qual
Alexis de Tocqueville, resolveu transplantar para cá a configuração básica do Estado norte-americano,
apesar das enormes diferenças
de formação
entre ambas nações.
No rastro das privatizações ocorridas no governo FHC surgiram
a ANATEL, ANEEL, ANCINE, ANAC, ANTAQ, ANTT, ANP, ANVISA, ANS e ANA, na condição de estruturas paralelas aos
tradicionais ministério,
iniciando-se uma guerra de competências
que perdura até
hoje. A ANATEL e a ANAC são
as campeãs
em reclamações
por providências
por parte da população.
as empresas de telefonia celular fazem o que bem entende contra o consumidor e
nada de efetivo lhes acontece. Abusos de toda natureza são tolerados olimpicamente ignorados pela ANAC. Em recente
viagem aérea,
pela empresa TAM, ao pleitear um assento no corredor do avião para melhor acomodar compleição
um tanto robusta, indo do check-in, deparei-me com a insólita assertiva os únicos assentos de corredor eram na
primeira fila de cadeiras e na duas fileiras que ficam ao lado das saídas de emergências laterais, porém, para ocupá-las qualquer gordinho teria que
pagar R$ 30,00. Protestei com veemência,
mas, a mocinha sem se abalar apenas disse que eram "regras da
empresa" e "zefinir" como se diz no francês com sotaque de Caraúbas. Que é da ANAC que não vê uma agressão dessas contra o consumidor? Ora,
voando por aí
enquanto as poucas companhias de aviação,
livres e soltas "de canga e corda", fazem a festa em cima dos cidadãos-consumidores.
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