quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Artigo de João Faustino

Sua excelência o professor

João Faustino
Prof. da UFRN


Assisti atentamente o discurso de posse da Presidenta Dilma Rousseff. Nela não votei e, se dependesse de mim, outro candidato estaria escrevendo este novo momento da história do Brasil. Portanto, assisti aquele ato de posse como um crítico, sem nenhuma euforia, sem preconceito, mas também sem qualquer ranço de frustração. Confesso que suas palavras, sua postura, suas verdades, encheram-me de esperança.
Não me sensibilizou a fala sobre a economia, nem a ênfase dada à redução da pobreza nem ao fortalecimento da classe média, chavões que já cansaram. Me impressionou sim, uma proposta de mudança mais profunda, resistente às crises mundiais e aos retrocessos econômicos. Refiro-me à referência que fez à educação, patrimônio maior, legado permanente e indestrutível, definidor da história e da trajetória da humanidade.
Disse a presidenta Dilma em seu discurso de posse: “Só existirá ensino de qualidade se o professor e a professora forem tratados como as verdadeiras autoridades da Educação, com formação continuada, remuneração adequada e sólido compromisso com a educação das crianças e dos jovens”.
Devolver dignidade ao exercício profissional do magistério; enxergar o professor como o mais importante de todos os construtores da sociedade; vê-lo como agente capaz de transformar e de garantir ao ser humano a sabedoria necessária que permita formar opções éticas e inteligentes, é o imperativo de uma sociedade que deseja ser competitiva e justa.
Verdadeiramente não se pode pensar em educação de qualidade sem um professor bem formado, bem remunerado, motivado para o exercício dessa ação transformadora que é educar. O professor é o professor e sua missão é ensinar.
O profissional do magistério exerce uma das poucas profissões, onde nele tudo é observado. Com isso a sua ação pedagógica não se restringe apenas à sala de aula. Tudo no professor é analisado, avaliado, assimilado. Sua conduta deve ser exemplar – um modelo a ser seguido pelas gerações que se sucedem.
Para que o professor retome o seu papel de maior autoridade da educação, como deseja a presidenta recém empossada é preciso que ele volte a ser o professor, portador do título que a sabedoria greco-romana lhe conferiu ao longo dos séculos.
Nessas ultimas décadas, os movimentos sindicais tentaram transformar esse título de professor em rótulo de “trabalhador da educação”. Assim, sindicatos e associações de professores passaram a ter nova denominação onde o termo professor é substituído por “trabalhador em educação”. Sabemos que o professor é um trabalhador e como tal dignifica e é dignificado pela classe trabalhadora. Todavia, antes de tudo o professor é aquele que guia, que orienta, que ensina, que marca a vida das pessoas com o seu conhecimento e o seu exemplo.
Para que a educação melhore, o professor tem que voltar a ser a maior autoridade da educação. Tem que ser tratado por sua excelência - o professor. Esperamos que as palavras da presidenta não expressem apenas uma intenção, um sentimento, mas que defina, verdadeiramente, uma prioridade governamental e que possamos ver o professor como o profissional insubstituível para a construção de uma sociedade justa e solidária, competitiva e, sobretudo, humana.
O magistério tem que ser uma carreira de Estado, a exemplo de tantas outras consideradas essenciais à organização e ao crescimento ético e moral da sociedade. Somente assim poderemos tratar o professor por sua excelência, autoridade maior da educação.

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