O ESTRESSE DOS VETOS
Paulo Afonso Linhares
Desde o final dos anos 70 do século passado que as elites políticas potiguares abandonaram o
confronto, entre seus diversos grupos,
como forma de resolver as questões
fundamentais que envolvem a aquisição
e a manutenção
do poder político,
sobretudo, no que toca à
ocupação
do aparelho estatal. Os últimos
acirramentos políticos
no Rio Grande do Norte, aqueles que dividiam profundamente a sociedade - em
alguns casos até
mesmo os lares - remontam ao governo Aluizio Alves.
O mundo dividido entre "araras" (partidários da UDN, que atendiam à liderança maior do senador Dinarte Mariz) e
"papagaios" ou "bacuraus" (liderados de Aluizio Alves em
torno do movimento político
denominado "Cruzada da Esperança",
formado pelo PSD, PTB, PL e por grupos da esquerda proscrita), foi palco de
muitos confrontos em todos os rincões
do Rio Grande do Norte, tendo como pano de fundo até assassinatos. O paradoxo era o fato
de Aluizio Alves ter sido eleito pela UDN deputado federal em 1945, com
participação
na Assembleia Nacional Constituinte que gestou a Constituição de 1946. Reeleito em 1950, 1954 e
1958, foi secretário-geral
da UDN e vice-líder
da bancada. Apesar da importância
que teve na eleição
de Dinarte Mariz para o governo do Estado
em 1955, rompeu com este por se sentir desprestigiado pelo correligionário e ingressou no PSD, sendo eleito
governador em 1960 contra o dinartismo. As divergências entre os dois líderes tornou-se cada dia mais
ferrenha e, segundo relata a Wikipedia, "... com o advento do Regime
Militar de 1964 foi Mariz quem retomou o comando da cena política, o que não impediu, contudo, o ingresso de Aluízio Alves na ARENA e a conquista de
seu quinto mandato de deputado federal em 1966 após Mariz vetar sua candidatura a senador.
No ano anterior Aluízio
Alves derrotara o grupo de Dinarte Mariz ao eleger o monsenhor Valfredo Gurgel
para governador."
Com a "paz pública"
de 1978, protagonizada pelo então
governador Tarcísio Maia e pelo líder oposicionista Aluizio Alves, iniciou-se
um longo período de colaboração dos grupos mais importantes, que
passaram a celebrar alianças
pontuais, embora também
continuassem alguns confrontos, como ocorreu com as acirradas eleições de 1982 em que o jovem engenheiro
José
Agripino Maia, pretenso herdeiro do "dinartismo", infligiu pesada
derrota ao veterano e até
então
imbatível
Aluizio Alves, pelo governo do Estado. Quatro anos depois, um correligionário de Aluizio, Geraldo José de Melo, do PMDB, derrotou o
candidato ao governo João Faustino Ferreira Neto, ligado a
Agripino. Ímpeto
não
mais havia e as desavenças
passaram à
condição
de meros exercícios
de retórica;
tudo passou a ter cheiro e cor de "acordãos", chapões etc.
Certamente é
pela crença
nessa passividade das elites políticas
do RN isto que causou tanta estranheza os vetos apostos pela governadora
Rosalba Ciarlini às
disposições
do orçamento
geral do Estado, votado pela Assembleia Legislativa, referentes a emendas
parlamentares que destinavam mais de 70 milhões de reais ao Poder Judiciário, ao Ministério Público e à Defensória Pública. O clima que se seguiu foi de
declaração
de guerra, posto que vetos dessa natureza sejam mais que normais, inclusive a
presidente Dilma usou largamente a caneta para vetar algumas modificações inseridas na versão primitiva da lei orçamentária de 2013, algumas oriundas de sua
base parlamentar.
De um lado magistrados e promotores de justiça pintados para guerra e do outro a
governadora Rosalba e seus auxiliares que afirma que os mais de 70 milhões objeto dos vetos eram verbas
extras, um "plus" cuja extirpação
jamais comprometeria os orçamentos
desses órgãos; enfim, eles teriam garantidos os
recursos para o custeio de suas missões
institucionais. Retaliações
contra o Executivo? Pode até
ser, mas, a questão
é
administrativo-financeira e não
político-partidária. Como tal deve ser resolvida no
diálogo
que tenha como azimute a independência
e harmonia entre os poderes. Afinal de contas, já vai longe aquele episódio em que o jovem governador Aluizio
Alves, diante de pedido de liberação
de verbas para reformas do prédio
do Tribunal de Justiça
estadual foi lacônico:
"Defiro. Liberem-se os recursos. Limpe-se por fora, já que por dentro não é possível"... As palavras podem não ter sido exatamente estas, mas, o
sentido foi. Pano rápido.
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