CERIMÔNIA DE
ADEUS
Paulo Afonso Linhares
A região
de Mossoró
foi abençoada
com várias
vocações
econômica,
a exemplo do sal marinho, da fruticultura de alto rendimento, das indústrias de exploração do calcário e, "last but not least", a tão elogiada indústria da exploração do petróleo. A propósito do petróleo explorado aqui, durante muitos
anos os mossoroense alimentaram um certo "complexo de Dallas", ao
colocar o Rio Grande do Norte como o Texas brasileiro e Mossoró na condição da capital desta (importante) província petrolífera. Aliás, alguns idiotas até falavam que o RN poderia ser membro
da OPEP e coisas do gênero.
Numa avaliação
bem realista, posto que perfunctória,
pode-se afirmar que a presença
da Petrobrás
e dezenas de empresas do ramo petróleo, nas duas últimas décadas, trouxe importantes reflexos
econômicos
sem, contudo, impor modificações
mais profundas na estrutura social dos centros urbanos situados na área da exploração, notadamente Mossoró", cujo crescimento desordenado
tem acarretado enormes problemas como o crescimento de favelas, o acentuado
desemprego, as precárias
condições
da saúde
pública
e os alarmantes índices
de criminalidade.
Após
a descobertamente das jazidas do pré-sal,
a despeito das incertezas e do grande volume de recursos que sua exploração enseja, mormente as enormes
dificuldades tecnológicas
que acarretam as operações
em alto mar - somente a lâmina
d'água
é
superior a sete quilômetros
de profundidade - a Petrobrás resolveu apostar todas as suas
fichas nessa nova possibilidade de investimento. O petróleo explorado na região de Mossoró - poços em terra de pequena produção - tornou-se uma atividade pouco
atraente se comparada com o que pode resultar da exploração petrolífera na camada do pré-sal. Segundo queixa-se a própria Petrobrás, os muitos poços de petróleo em exploração no RN já estariam "maduros", de
modo que cada vez mais aumentam os custos de produção com o uso de técnicas necessárias para manter níveis razoáveis de produtividade; em muitos
casos, talvez fosse mais econômico
literalmente abandonar esses poços.
Inapelavelmente, a Petrobrás começa a arrumar as malas. Segue a velha lógica do capitalismo - no que decerto
não
estaria errada - segundo a qual devem ser buscados os investimentos de maior
desempenho econômico-financeiro,
a despeito da responsabilidade social que a atividade acarreta. Claro, não se pode exigir que uma empresa que
tem ações
negociadas e bolsa de valores, embora o controle de sua gestão seja estatal, direcione seus
investimentos para áreas
pouco rentáveis
somente para atender a demandas alheias a seus interesses corporativos.
Obviamente que os reclamos dos acionistas soam mais alto que os da região de Mossoró que, ao fim e a cabo, herdará apenas os buracos e um enorme
passivo ambiental.
Por mais que os organismos da sociedade civil local e os
políticos
possam espernear, com suas audiências
públicas
e outras pirotécnicas,
dificilmente essa lógica
de mercado vai mudar. A não
ser que algum iluminado mostre, nessas tentativas de convencimentos da Petrobrás, um cenário que favoreça a manutenção dos investimentos na área de exploração local, em detrimento daquela na
camada do pré-sal,
que se tornou uma coqueluche nacional e
alvo de acirradas disputas no cenário
federativo, como é
o caso dessa lenga-lenga da destinação
dos seus royalties. Não
há
razão,
contudo, para qualquer desespero, mesmo porque a lacuna econômica deixada pela Petrobrás e suas terceirizadas será preenchida, mais cedo ou mais tarde,
ou pelo aumento de uma das outras atividades existentes ou mesmo como a eclosão de novos "clusters" econômicos. Já se observa esse fenômeno com relação às indústrias do calcário, em face do surgimento de fábricas de cimento na região fronteiriça com o Ceará. O surgimento das "fazendas de
vento", os parques de energia eólica,
na região
da Costa Branca, pode ser uma nova e excelente aposta de Mossoró e Municípios da região que polariza. Ciao, Petrobrás.
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