O QUE ELE NÃO QUER ESQUECER
Paulo Afonso Linhares
Um espectador privilegiado da cena política brasileira, nas últimas quatro décadas, resolve coligir em livro as ideias que defendeu na tribuna da Câmara dos Deputados, ao longo de onze mandatos consecutivos, uma permanência igualada por poucos. Sim, é com o livro "O que eu não quero esquecer", que o deputado federal e atual presidente da Casa legislativa, Henrique Eduardo Alves, faz um balanço de sua vida parlamentar através de uma série de pronunciamentos agrupados em cinco blocos temáticos: Parlamento, democracia e liberdade; amor e respeito às origens: o Rio Grande do Norte e o Nordeste; franqueza e coragem nos grandes debates do país; aos amigos, lealdade; e, onze mandatos: o dever e a paixão de legislar. Este último bloco é uma cronologia da atuação parlamentar de Henrique Alves, que abrange 42 anos (de 1971 a 2012), de modo minucioso.
O livro de Henrique é uma bem cuidada edição da Câmara dos Deputados, a começar pelo excelente projeto gráfico, passando pelas fotografias bem balanceadas e pelos blocos temáticos com interessantes discursos parlamentares feitos em 42 anos de intensa atuação em momentos críticos da história desta República. Uma coisa muito interessante e inovadora nesse livro foi a quebra daquele formato tradicional das publicações de discursos parlamentares, aquelas enfadonhas transcrições das atas das casas legislativas, com apartes, intervenções das mesas diretoras, aplausos e outras manifestações. A inovação, neste caso, é a transformação dos discursos em textos diretos e distribuídos nos quatros primeiros blocos temáticos referidos acima. Aliás, os textos reconstruídos têm como matéria-prima o que há de mais significativo de cada discurso, um bom resumo. Sem dúvida, essa forma tornou a leitura bem mais amena e nada "boring", o contrário do que ocorre com mais de noventa por cento das publicações de discursos paramentares.
Outro aspecto interessante do livro em comento são os três prefácios: o Vice-Presidente da República Michel Temer (Política como destino), o então presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (Tornando possível o impossível) e o senador Garibaldi Alves Filho (Trajetória de um vitorioso). No entanto, é tocante o texto que serve de apresentação, de autoria de Ulysses Guimarães (Henrique, por Ulysses), com seu inconfundível estilo grandiloquente e rico em imagens evocativas de virtudes políticas. Aliás, o condestável da oposição à Ditadura Militar, deputado Ulysses Guimarães (que também emplacou 11 mandatos seguidos na Câmara dos Deputados) foi, sem dúvida, um dos grandes mestres de Henrique, no front parlamentar quanto mesmo na política. Noutro estilo, mas, não menos significativo, o texto de outro mestre que muito influenciou a formação político-parlamentar de Henrique Alves, que foi o mineiro Tancredo Neves (Henrique, por Tancredo). O fecho dessa série de depoimentos, como não poderia ser diferente, é o de Aluízio Alves (Henrique, por Aluízio), este que foi a grande inspiração de vida de Henrique Alves. Muito tocante.
Por fim, a marca do livro do deputado Henrique é a do equilíbrio, tudo bem balanceado e na justa medida, sem tirar nem pôr uma vírgula que seja. Aliás, um excelente repositório para uso de historiadores, cientistas políticos e demais pesquisadores da política brasileira e dada atuação da Câmara dos Deputados nas últimas quatro décadas. Uma excelente contribuição que reclama atenta leitura, sem favor algum ou rasgação graciosa de seda. O livro vale pelo que mostra e contém. Inegável que uma memória resta preservada, ao menos naquilo que ele, Henrique Alves, não quer esquecer.
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