Tomei conhecimento agora, no blog de Heitor Gregório, do falecimento do meu antigo colega de seminário, Manoel Pereira dos Santos, ex-prefeito de Natal e ex-secretário de Estado nos governos José Agripino e Rosalba Ciarlini.
Era um homem super-preparado.
No início do seu segundo governo, em 1991, o atual senador José Agripino me disse:
- Se o Rio Grande do Norte tivesse uns três Manoel Pereira, a nossa situação seria outra bem diferente - pra melhor.
Conheci Manoel Pereira no seminário de São Pedro nos anos 50 - a partir de 1957.
No começo de 1961, ao final do "seminário ferial", em São José de Mipibu, o nosso reitor - à época Cônego Lucilo Alves Machado, nos avisou: Não havia terminado em tempo o serviço de manutenção e pintura do seminário.
Por essa razão, tinha que adiar o início do ano letivo. Assim, pedia a quem morasse em Natal ou em cidades circunvizinhas que conseguisse com as suas famílias hospedagem em casa para, pelo menos mais um colega.
Manoel Pereira foi comigo para São Gonçalo.
Na época, a cidade estava vinculada à paróquia de Macaíba, sem um sacerdote residente.
O pároco de Macaíba era o padre Chacon.
Manoel, paraibano residente em Nova Cruz, pertencia a uma paróquia dinâmica e vibrante, conduzida pelo monsenhor Pedro Moura, que criara, inclusive, uma ordem religiosa na cidade.
Meu convite a Manoel para passar aquela semana com a minha família tivera por motivação mostrar-lhe o que era o outro lado: ou seja, uma paróquia "rebaixada", desmotivada, sem padre, com igreja fechada.
Naquelas férias - final de 1960 - tinham sido as minhas primeiras em casa, depois de 4 anos de seminário. Eu estava com 16 anos
Foram tempos inesqueciveis. O líder da cidade - político e religioso, era o então ex-prefeito Manoel Soares da Câmara. Ele me estimulara a me integrar à comunidade, convocá-la para a oração pelo menos uma vez por dia, trazendo-a para dentro da Igreja, que passou a abrir todas as noites.
E assim - durante o dia eu estava em contacto com as familias, conversando sobre a sua realidade, despertando a juventude a se preparar para encarar os desafios do amanhã, promovendo reuniões de leitura, etc. À noite, na igreja - que superlotava - rezávamos o terço, eu lia um texto do evangelho e sobre ele fazia uma reflexão.
Na última noite de nossas férias extras, após descer a pequena escada da calçada de São Gonçalo e ganhando a praça de Matriz onde, então nós morávamos, quase que mato Manoel de susto:
- Manoel, amanhã quando você voltar para o seminário, vou mandar uma carta pro Padre Lucilo comunicando que decidi deixar o seminário.
Manoel não caiu. Segurou-se. E alguns segundos depois, fazendo um gesto com a mão em direção da Igreja, que, mais uma vez lotara a fim de rezar comigo, perguntou:
- E o que você vai dizer pra esse povo?
E eu: "Amanhã, depois do terço, vou contar a verdade. Não estou abdicando da minha fé. Apenas senti que a minha missão é outra".
Ele seguiu o seu rumo. Terminou o seminário menor. Foi para o seminário maior em Fortaleza. Depois do curso de Filosofia foi selecionado para estudar Teologia em Roma.
Contudo, não chegou a se ordenar.
Também entendeu ser outra a sua vocação. Abraçou, com extrema dedicação, o serviço público.
Que Deus o acolha.
O sepultamento será às 16 horas no Morada da Paz, em Emaús, após missa de corpo presente marcada para às 15 horas.
Foto: Frankie Marcone/Reprodução Internet.
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