sábado, 12 de fevereiro de 2011

Artigo de João Faustino

A educação e os novos tempos

João Faustino – Professor da UFRN

Com tristeza observo que a prática educacional adotada nos dias de hoje, nas escolas públicas, está muito mais próxima do modelo do início do século passado do que algo que possa se assemelhar aos avanços ocorridos na medicina, na engenharia, na eletrônica, na comunicação, na psicologia etc.

Se estabelecermos uma comparação entre os métodos praticados naquela época e os que se encontram em vigor hoje em dia, é certo que há diferenças; todavia, raramente se poderá pensar que houve revolução, mudanças radicais que transformaram a prática pedagógica e, especialmente, o uso de recursos para aprendizagem.

A forma de organização das turmas, o espaço físico, a sala de aula, o quadro negro (ou verde), a organização dos horários, os exercícios, os estímulos, o currículo escolar, o formalismo, enfim, tudo, mas tudo mesmo, se assemelha a uma escola que continua sendo velha, distante verdadeiramente de um mundo em mudanças constantes, algumas quase que imperceptíveis mas que influem e definem os destinos da humanidade.

A estrutura organizacional, os métodos estão presentes no processo educacional há mais de 100 anos com os mesmos fundamentos e com características primárias muito semelhantes.

É verdade que houve mudanças. No decorrer do último século elas ocorreram, sobretudo envolvendo questões de caráter social, ideológico, moral e ético. Por exemplo, a Igreja católica não é mais a instituição de maior responsabilidade pela educação, Suas atribuições foram transferidas, quase que totalmente, para o Estado; as mulheres, hoje, são maioria nas universidades e, praticamente, em todos os segmentos do saber; o castigo físico dominante em determinada época, hoje encontra-se totalmente abolido.

Com isso não desejamos negar a importância e o valor da história da educação, rica sob todos os aspectos, marco da trajetória das idéias e do processo civilizatório.

As tecnologias modernas estão aí. Muitos as usam e sabem que elas existem, todavia, a resistência à sua aplicabilidade se encontra na própria escola e na estrutura de poder que rege o sistema educacional.

Aqui no Rio Grande do Norte, o prof. Dalton Melo de Andrade, quando secretário de Educação, implantou o Projeto Saci. Com ele se usou um satélite gerenciado pelo INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais) para melhoria do processo educacional. Uma revolução, que levamos adiante, tanto eu, quanto Diógenes da Cunha Lima, seus substitutos que, assim, tornamos realidade o aperfeiçoamento e a modernização das nossas escolas.

Revolução também ocorreu quando implantamos o projeto Logos II e com ele, usando o ensino à distância – sem escola e sem professor – formamos 12 mil professores leigos. Ressalte-se, ainda, que o professor Marcos Guerra, quando secretário de Educação, também implantou, no município de Serra do Mel, um sistema de ensino à distância, onde uma pequena rede de televisão permitiu que crianças e jovens concluíssem seus estudos, numa região onde não havia nem professor, nem escola devidamente equipada.

Hoje, o Rio Grande do Norte não tem, mas não tem mesmo, professores de matemática, física, química, biologia e língua estrangeira para atenderem à demanda existente e, dificilmente, a curto e médio prazos, preencheremos essa lacuna. Entretanto, há anos os gestores educacionais insistem na contratação de estagiários, recrutando estudantes dessas áreas para o exercício do magistério, numa eloqüente demonstração de desperdício e incapacidade criativa.

As inovações tecnológicas estão à disposição do Estado. Elas existem e podem muito bem suprir essa deficiência que macula o nosso sistema educacional, pois, sobre o conteúdo dessas disciplinas, hoje, os alunos nada sabem porque não têm onde aprender.

A escola tem que se libertar do atraso e marchar para um encontro rumo ao mundo moderno, buscando tudo aquilo que a tecnologia nos oferece.

A burocracia educacional precisa ousar nas mudanças, estimulando jovens e adultos a buscarem conhecimento, inteligência, criatividade para acompanhar os avanços científicos e tecnológicos dos nossos tempos, sem perder de vista os valores sobre os quais sua humanidade foi construída.

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