quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O que dizer de uma licitação convocada num sábado de carnaval?

Legal, mas amoral (*)

O que dizer de uma licitação toda “legalizada” mas convocada num sábado de carnaval?
Isso ocorreu, aqui em Natal, para efeito da terceirização da chamada “inspeção veicular”.
Claro: Pode ter sido uma mera, “oportuna” e, até, “explicável” coincidência.
Mas, aqui pra nós, no serviço público, tal prática não pode mais ser aceita.
Por mais legal que tenha sido, fede. Tem um jeitão explícito de imoralidade e de arrumadinho, mesmo tendo sido feita dentro da mais absoluta legalidade.
Não vou dizer aqui que não tem quem leia um diário oficial num sábado de carnaval. Tem. Afinal, nesse mundo de meu Deus tem gente pra tudo.
Do mesmo jeito, também não posso dizer que foi esta a primeira vez que uma “coincidência” de tal ordem aconteceu. Não foi. Como também, certamente, não terá sido a última vez que tal prática legalista nos impõe uma amoralidade.
E se termina vinda à tona, como ocorreu nesse caso da inspeção veicular, dói bastante. No bolso de todos e na consciência de alguns.
No bolso de todos, porque não é brincadeira, você pagar por um serviço público aqui no RN, um dos estados mais pobres deste país, o dobro do que se paga em São Paulo, a unidade mais rica e mais poderosa da Federação.
E na consciência?
Na consciência pela constatação de que essa suposta falcatrua passou pelo crivo daqueles em que votamos para nos representar e, supostamente, portanto, para nos defender.
Numa hora dessa, eu tenho de me questionar: Que danado eu fiz com o meu voto?
Dói ou não dói?
Outra coisa legalíssima de que muito se tem falado ultimamente é questão do super-aumento concedido aos políticos, equiparando seus vencimentos ao que percebem os integrantes do Poder Judicário.
Nada mais justo do que todos eles ganhem bem e muito bem. Mas, ao ponto de deixarem os outros na miséria? Aí, não. Não é justo, embora seja legal.
Nossa legislação, feita, aliás, por aqueles a quem elegemos, permite que os grandes salários possam subir de forma ilimitada. Mas, ao mesmo tempo, impede que haja qualquer vinculação dos grandes salários ao salário mínimo.
Quer dizer: Em matéria de ganhos, quando se trata de remuneração e de outras vantagens, para os grandes, o céu é o limite; para os pequenos, a massa majoritária da população, o limite é o rigor duro, frio e cego da lei.
Acho importante refletir sobre essas questões, especialmente quando elas estão aí, ocupando as manchetes, até que um outro fato espetacular as suplante e as relegue ao esquecimento.
E é isso – infelizmente – o que invariavelmente tem acontecido. Ou não? Falamos, nos revoltamos, externamos indignação, denunciamos, protestamos e, depois, esquecemos.

(*) Artigo que estou assinando na edição desta quarta-feira do NOVO JORNAL.


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