terça-feira, 1 de março de 2011

Artigo de João Faustino

Exemplos que precisam ser lembrados

João Faustino (Prof. da UFRN)

Quando ingressei na política partidária disputando o meu primeiro mandato, em 1978, tive o privilégio de ser, naquele pleito, o mais votado do Estado e, proporcionalmente, um dos mais votados do Brasil. Vinha da Secretaria de Educação, onde havia constituído uma excelente equipe e realizado um trabalho sério e inovador, inspirado na conduta austera e empreendedora de Tarcísio Maia.
Foi nessa década de 70 que comecei a viajar pelo Rio Grande do Norte, a conhecer as estradas de barro, as pequenas cidades e vilas e a conviver com as lideranças municipais. A política é feita assim, especialmente naquela época, quando a relação partidária precedia de um clima de confiança e respeito entre lideranças e liderados, entre o candidato e líderes políticos locais.
Foi nessa atividade que conheci pessoas que, até hoje, guardo na memória como símbolos de retidão e de lealdade. A palavra dada era a cláusula determinante do contrato e o apoio que recebia, muitas vezes, expressava um gesto de gratidão pelo trabalho realizado em favor do município.
Figuras que me cativaram com o gesto da amizade e do apoio político permanecem na minha lembrança e no meu cotidiano, alguns, como Gerôncio Queiroz, nunca de mim se afastaram e, em todas as circunstâncias, marcharam comigo construindo momentos inesquecíveis da minha vida pública.
Nasci na política fazendo amigos, sempre seguindo a sábia orientação de um líder na concepção mais ampla da palavra; de alguém que dedicou sua profissão de médico e sua vida a serviço das pessoas mais pobres.  Refiro-me a José Fernandes de Melo, avô dos meus filhos e pai de Sonia, companheira e esposa há 46 anos.
José Fernandes doou mais de 50 anos de sua vida à população do Alto Oeste do Estado, especialmente à cidade de Pau dos Ferros, onde foi prefeito várias vezes. No próximo dia 2 estaria ele completando 94 anos.
Construiu uma vida pública limpa, realizou tudo que a sua consciência, pautada num forte humanismo, foi capaz de lhe ditar. Era um homem intransigente na defesa de suas concepções ao mesmo tempo que era brando e tolerante com os mais humildes. Sabia entender como ninguém a tristeza dos pobres e a dor dos aflitos. Traduzia, com impecável precisão, os motivos que levaram muitos ao sofrimento da doença e do abandono. Foi ele o meu guia, com ele andei pelos caminhos difíceis da política, recebendo sempre o estímulo, o exemplo da conduta ética e soldaria, a amizade que nunca me faltou.
Não é fácil realizar uma obra política no interior do Estado, criar raízes, viver intensamente os problemas do povo e, durante mais de meio século, preservar-se como líder e como paradigma de honradez e dignidade.
O ser humano pode até se curvar ao determinismo do tempo, mas não pode permitir que esse mesmo tempo arquive a memória, anule o passado, silencie diante dos exemplos que não podem ser esquecidos.
Hoje homenageio a homens de bem que fizeram e que construíram a vida pública do Rio Grande do Norte. Entre eles, é viva a presença de José Fernandes de Melo.

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