domingo, 17 de março de 2013

Artigo de Paulo Afonso Linhares


PAPA CHICO 
Paulo Afonso Linhares 
            Incrível a enorme capacidade que tem a Igreja Católica de surpreender, católicos ou não católicos do mundo inteiro. Com quase dois mil anos de existência e um histórico de sobrevivência admirável, não poderia ser diferente, sobretudo, pela enorme capacidade que tem essa instituição de se renovar sem abrir mão de seu corolário de princípios. Recentemente, causou espanto a renúncia do papa Bento XVI, até mesmo pelo fato de que a última abdicação papal ocorreu no longínquo século 13 da nossa era. Os católicos de todas as partes ficaram desolados, a despeito da postura ultraconservadora daquele que, na pele do cardeal Joseph Ratzinger, exerceu forte influência no papado de João Paulo II. De repente, a nau de Pedro parecia soçobrar num escalpelado mar de intrigas, escândalos financeiros e sexuais, além das dificuldades de digerir questões científicas e culturais, mormente quando o timoneiro Bento admitiu que se achava sem forças para prosseguir à frente da Igreja Católica, preferindo terminar seus dias num sossegado claustro romano, onde se dedicará às orações e à reflexão. No dia 28 de fevereiro de 2013, o papa Bento passou à condição de bispo emérito de Roma, deixando vago o trono papal. 
            Definitivamente os olhos do mundo se voltaram para Roma: qual seria o futuro da Igreja? Quem seria o sucessor de Bento XVI?  Mais de uma centena de cardeais – os mais altos dignitários da hierarquia católica e eleitores nas escolhas dos papas – foram chamados a compor o conclave que elegeria o novo inquilino do Palácio Apostólico, num clima de enormes expectativas. A imprensa mundial passou a especular sobre as chances de alguns cardeais europeus e norte-americanos. Alguns nomes, como o do cardeal Angelo Scola, responsável pelo maior arcebispado da Itália, o de Milão, era o “pole position” para suceder Bento XVI. Vários outros nomes passaram a compor as bolsas de apostas, a exemplo do arcebispo de São Paulo, o brasileiro Odilo Scherer. 
            Seguindo os tradicionais e antigos ritos, foi instalado o conclave, na Capela Sistina, em Roma. As câmeras do mundo inteiro se fixaram na chaminé por onde sairia a fumaça negra, para indicar que nenhum dos votados teria atingido a maioria exigida, e a branca para anunciar a eleição do pontífice, o sinal de que “habemus papam”. Duas votações e só fumaça preta. Finalmente, no segundo dia, eis que a fumaça branca finalmente enche de ansiedade a multidão que lotava a Praça de São Pedro, para saber quem fora eleito papa. Mais uma grande surpresa: a escolha dos cardeais-eleitores recaiu sobre o arcebispo de Buenos Aires, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, soldado da Companhia de Jesus (uma congregação religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderados pelo basco Íñigo López de Loyola, conhecido posteriormente como Inácio de Loyola), que tomou o nome de Francisco I. 
            Desde a primeira aparição com as vestes papais, no balcão do Palácio Apostólico, que o papa Francisco causou excelente impressão e alimentou as esperanças de milhões de católicos de que a barca de Pedro, doravante, estaria em boas mãos. Nas movimentações seguintes, o novo papa mostrou-se determinado em assumir a enorme missão de governar a Igreja Católica, embora esboçando gestos de serena humildade. Aliás, foi imediata a associação que tantos fizeram de sua imagem à do papa João XXIII, o bom camponês Angelo Giuseppe Roncalli que, embora sem maior sofisticação intelectual, foi o pontífice que deu nova feição à velha Igreja, com a realização do Concílio Vaticano II. 
            Agora começa o pontificado do papa Francisco, cujo nome decerto foi inspirado no exemplo de São Francisco Xavier, nascido em 1506, cofundador da Companhia de Jesus que desenvolveu um grande trabalho missionário no Japão e na Índia, pelo que passou a ser conhecido como “o Apóstolo do Oriente”.  Os jesuítas, na Igreja ou fora dela, são exemplos de disciplina e de sólida formação doutrinária, além da reconhecida competência intelectual. Religioso habituado ao trabalho pastoral, Francisco I, o papa Chico para nós brasileiros, passa a representar uma enorme esperança de continuidade dessa admirável instituição multissecular, sobretudo, para inseri-la na contemporaneidade do mundo sem, contudo, perder a essencialidade do papel que representa na vida de milhões de católicos deste sofrido planeta. Toca pra diante, papa Chico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários críticos sem identificação não serão aceitos.