Farmácia não é supermercado
e remédio não é confeito
“Tudo é veneno; tudo é remédio.” Frase antiga que se atribui a Shakespeare e que resume um dos paradigmas básicos da medicina e farmacologia: a diferença entre o remédio e o veneno está na dose. Isso tem como implicação o fato de que qualquer medicação, tomada de maneira equivocada tende a provocar muito mais males do que bens àquele que a utilizou.
Duas semanas atrás, falamos um pouco sobre os antibióticos: medicação que, tomada em dose menor do que aquela que deve ser utilizada, pode levar o indivíduo a produzir, com o tempo, uma população de “super-bactérias” resistentes contra as quais não teríamos um arsenal terapêutico eficaz. Outro equívoco similar cometido pelas pessoas é acreditar que “quanto mais comprimidos eu tomar, melhor”, isto é: o certo é eu tomar um comprimido pra dor de cabeça, mas se eu tomar dois ou três, a dor passará duas ou três vezes mais rápido.
Essa “regra de três”, entretanto, não existe no corpo humano. Toda medicação, como dizia Shakespeare, é um veneno em pequenas doses. Se tomo uma hiper-dose dessa medicação, é veneno que eu estou tomando. Por exemplo, é nocivo ao corpo tomar em altas doses medicações pra dor, mesmo essas mais simples, que geralmente temos em casa ou até mesmo levamos conosco. Algumas podem provocar severas tonturas, outras até mesmo problemas nos vasos ou no fígado. Se necessitamos tomar remédios para azia numa freqüência muito elevada também é um sinal de que precisamos procurar um médico.
Os efeitos colaterais das medicações são exatamente as provas de que na verdade elas são venenosas e devem ser tomadas com cautela, sempre sob orientação médica. Nosso médico é o responsável por nos ensinar a ler os sinais que nosso corpo nos dá. Precisamos aprender a enxergar as medicações não como algo mágico que fará os problemas do meu corpo sumirem de uma hora pra outra, mas sim como um mal necessário que, se usado de maneira errada, multiplicará nossas doenças em 100 vezes.
Farmácia não é supermercado e remédio não é confeito. Quando o assunto é medicação, quanto menos precisarmos delas, melhor. Sempre consulte seu médico se você tem algum sintoma que persiste há algum tempo. A hipocondria é uma doença psiquiátrica e pede tratamento.
Paulo Tarcísio Neto
Medicina UFRN
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