O FATOR DILMA
Paulo Afonso
Linhares
E o patinho feio se tornou um portentoso cisne... Quando o
ex-presidente Lula anunciou, dois anos antes de terminar o seu segundo governo,
que sua candidata seria a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma
Rousseff, muitos analistas políticos acharam que ele estava
absolutamente equivocado, por vários
motivos, sobretudo, porque o seu governo acabaria a partir daquele anúncio.
Outro problema era a própria candidata que, ademais de jamais
ter sido eleita para qualquer coisa, era sabidamente uma pessoa de
comportamento extremamente hard e
avesso aos trejeitos da política rasteira e barateira, que marca
o clientelismo ainda bem presente no cenário político
brasileiro. Todos achavam que a "xerifona" colocada na Casa Civil numa
das maiores crises institucionais que se tem notícia
nestes últimos trinta anos, que foi a ruidosa
saída do ex-ministro José
Dirceu e que desencadeou a defenestração de todos os
auxiliares mais importantes e próximos ao presidente Lula, seria uma aposta perdida.
Aliás, ressalte-se que a oposição
encastelada, sobretudo, no DEM e no PSDB, fez um enorme estrago político
na esteira do "Mensalão", quando detonou com precisão
e competência, literalmente, todos o staff do então
presidente, sendo Dilma uma das poucas exceções
de sobrevivência. E foi a escolhida para apagar o
incêndio, o que fez com mão
de ferro e absoluto sucesso, o que valeu a sua indicação
para a candidatura presidencial. A despeito do bombardeio de que foi alvo a
partir de então, a candidatura de Dilma se
consolidou e redundou na vitória sobre José
Serra, posto que num apertado segundo turno. As apostas da oposição,
cada vez mais desfalcada com as derrotas
de alguns dos seus eminentes próceres regionais (na guilhotina
eleitoral de 2010 rolaram os mandatos de Tasso Jereissati, Marco Maciel, Artur
Virgílio, Mão
Santa etc.), eram de que o governo Dilma seria um retumbante fracasso. Até
agora, todos os indicativos mostram que o governo austero e avesso a quaisquer
pirotecnias da presidente Dilma alcança uma aprovação popular em torno de 77%, segundo recente
pesquisa CNI/Ibope, algo inédito na recente história
da república. As apostas foram perdidas pela oposição.
O quê de especial tem o governo Dilma? Com
efeito, ele incorpora todos os acertos de uma política
econômica que iniciou no governo Fernando
Henrique Cardoso, aperfeiçoou-se no governo Lula, todavia, mantém
como características a sobriedade, a rapidez e
firmeza nas ações para debelar graves focos de
corrupção que vieram à
tona e o avanço das políticas
sociais do governo.
Ademais, no plano da política
externa, a ofensiva do governo Dilma fortalece laços
do Brasil com tradicionais parceiros, como o Estados Unidos da América
e os países da União
Europeia, sem abrir mão de efetiva participação
no movimento dos países emergentes, especialmente dos
seus parceiros do BRIC, o bloco de interesses econômicos
formado pelo Brasil, Rússia, Índia e China, que se destacam no cenário
mundial como países em desenvolvimento. Ao
que parece, alguns rumos da política externa brasileira começam
a ser corrigidos, com substituição das questões
mais marcadamente ideológicas por outras de perfil mais
substancial, de cunho econômico e político.
E tem enfrentado problemas como a condenação recente do Brasil
pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, situada em San José , Costa
Rica, pela morte do jornalista Vladmir Herzog, além
da questão dos desaparecidos da Guerrilha do
Araguaia. Pela lei brasileira, segundo interpretação dos conservadores, essa questão
foi resolvida com a Lei de Anistia (Lei n° 6.683 - de 28 de agosto de 1979). Os
juízes da Corte de San José
dizem que não e o mesmo disse o próprio
Congresso Nacional quando aprovou, recentemente, a Comissão
da Verdade, para apuração de agressões
aos direitos humanos por mais de cinco décadas, no Brasil. Claro que isto
abriu um vasto campo de enfrentamento entre o bloco conservador mais vinculado às
Forças Armadas, sobretudo, os generais de
pijamas do Clube Militar, e os setores que se autodenominam como progressistas.
Aliás, a recente comemoração
de aniversário do Movimento Militar de 1964, foi
recebida com manifestação contrária que resultou em pancadarias, gás
lacrimogêneo e prisões.
Coisas da democracia, embora caiba à presidente Dilma manter essas situações
sob controle, evitando que pequenos focos possam tornar-se incêndios
de maiores proporções. Por enquanto, Dilma surfa em índices
de popularidades inéditos na "história
deste país". Que assim permaneça.
A meninada agradece.
Muito interessante o comentário de Paulo Linhares, mas, por dever de justiça e é uma injustiça que se tem cometido ao longo dos anos, Itamar Franco foi quem teve a coragem de oferecer, politicamente, as armas que, depois, FHC, usou como "louros", para se eleger e reeleger presidente da República. O Plano Real, começou, realmente, em seu governo, confiando a sua execução ao seu ministro da Fazenda, FHC. A História não pode continuar sendo contada por caminhos tortuosos...
ResponderExcluirSe eu estiver equivocado, por favor, corrijam!
ResponderExcluir