domingo, 6 de maio de 2012

Artigo de Paulo Afonso Linhares

Calamidade tem nome

Paulo Afonso Linhares


A exemplo de mais de 130 municípios do Rio Grande do Norte, o de Guamaré está em estado de emergência, decretado na forma da lei. É a calamidade pública decorrente da falta de chuvas que ameaça as populações desses municípios. Num plano mais geral, é uma tristeza que as estiagens ainda façam sofrer pessoas e animais nesta rica e vasta região nordestina, sobretudo porque todas as soluções técnicas e políticas estão todas colocadas por diversos estudiosos dessa questão, há mais de cem anos, a exemplo  do que escreveram  Felipe Guerra (na clássica obra Secas contra a seca, de 1909,  equiparada pelo pesquisador  "norte-americano, Geraldo Waring, aos “Sertões” de Euclides da Cunha, para quem realmente desejar ter uma idéia mais completa do Nordeste brasileiro e seus problemas", conforme se lê em http://bit.ly/JiVZN3) e o brilhante senador Eloy Castriciano de Souza (1873-1959) que, além da obra Calvário das Secas, usou sua longa carreira parlamentar iniciada como deputado estadual em 1895, com quatro mandatos de deputado federal  e finda como senador (três mandatos) em 1937, para debater os problemas do Nordeste brasileiro e suas soluções.

Inadmissível mais ainda é a atitude tomada pela administração municipal de Guamaré, que proporcionalmente é o município mais rico do Rio Grande do Norte, porquanto aufere uma enorme receita mensal de royalties de petróleo e gás, além do ISS que cobra da indústria petrolífera local. No entanto, a despeito dessa receita enorme, pouco chega à população em forma de benefícios sociais, pois infelizmente já se tornou tradição nesse jovem Município os desmandos dos sucessivos prefeitos municipais com desvios desse recursos públicos, de sorte que tem sido raro que um deles termine o mandato sem intervenção. As gestões municipais de Guamaré têm sido uma calamidade atrás de outra.

Ora, com a boa receita mensal desse pequeno Município de Guamaré as dificuldades atuais que levaram a decretação do estado de emergência poderiam ser facilmente superadas, caso os recursos públicos municipais fossem aplicados corretamente. No entanto, um absurdo foi a notícia agora chega ao conhecimento da opinião pública deste Estado que o prefeito de Guamaré resolveu gastar sete milhões de reais com a festa de aniversário da cidade, com apresentações de vários cantores e bandas famosos e caros. Algo extremamente vergonhoso. Outros Municípios podem até ter problemas com a falta de recursos para enfrentar o recente problema da estiagem, mas, Guamaré jamais deveria ressentir-se deles, caso resolvesse empregar uma pequena parte desse montante. Um caminhão-pipa com capacidade para dez mil litros custa em torno de 200 mil reais; uma carreta-pipa nova de trinta mil litros fica em 600 mil reais. Com dez caminhões-pipa novos grande parte dos problemas de Guamaré causados pela atual estiagem estariam solucionados.

Infelizmente, a opção perdulária pelo gasto dos recursos do Município de Guamaré  com pagamento de altos cachês a cantores e bandas famosos é um absurdo. Isto sem falar que nesse tipo de contratação é muito mais fácil de alimentar uma ampla rede de corrupção, sobretudo, com o uso de superfaturamento das operações. E grande parte dos recursos gastos com a estrutura para realização dessas festas vai para o bolso do gestor municipal e seus acólitos. Essa, sim, uma verdadeira calamidade. Por frustrante e absurda que possa ser.  Infelizmente, coisa deste Brasil, ainda sem corrutelo.

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