Calamidade tem nome
Paulo Afonso Linhares
A exemplo de mais de 130 municípios
do Rio Grande do Norte, o de Guamaré está
em estado de emergência, decretado na forma da lei. É
a calamidade pública decorrente da falta de chuvas
que ameaça as populações
desses municípios. Num plano mais geral, é
uma tristeza que as estiagens ainda façam sofrer pessoas e animais nesta
rica e vasta região nordestina, sobretudo porque todas
as soluções técnicas
e políticas estão
todas colocadas por diversos estudiosos dessa questão,
há
mais de cem anos, a exemplo do que
escreveram Felipe Guerra (na clássica
obra Secas contra a seca, de
1909, equiparada pelo pesquisador "norte-americano, Geraldo Waring, aos “Sertões”
de Euclides da Cunha, para quem realmente desejar ter uma idéia mais completa
do Nordeste brasileiro e seus problemas", conforme se lê
em http://bit.ly/JiVZN3) e o brilhante
senador Eloy Castriciano de Souza (1873-1959) que, além
da obra Calvário
das Secas, usou sua longa carreira parlamentar iniciada como
deputado estadual em 1895, com quatro mandatos de deputado federal e finda como senador (três
mandatos) em 1937, para debater os problemas do Nordeste brasileiro e suas soluções.
Inadmissível mais ainda é
a atitude tomada pela administração municipal de
Guamaré, que proporcionalmente é
o município mais rico do Rio Grande do Norte,
porquanto aufere uma enorme receita mensal de royalties de petróleo e gás,
além do ISS que cobra da indústria
petrolífera local. No entanto, a despeito
dessa receita enorme, pouco chega à população
em forma de benefícios sociais, pois infelizmente já
se tornou tradição nesse jovem Município
os desmandos dos sucessivos prefeitos municipais com desvios desse recursos públicos,
de sorte que tem sido raro que um deles termine o mandato sem intervenção.
As gestões municipais de Guamaré
têm
sido uma calamidade atrás de outra.
Ora, com a boa receita mensal desse pequeno Município
de Guamaré as dificuldades atuais que levaram a
decretação do estado de emergência
poderiam ser facilmente superadas, caso os recursos públicos
municipais fossem aplicados corretamente. No entanto, um absurdo foi a notícia
agora chega ao conhecimento da opinião pública
deste Estado que o prefeito de Guamaré resolveu gastar sete milhões
de reais com a festa de aniversário da cidade, com apresentações
de vários cantores e bandas famosos e
caros. Algo extremamente vergonhoso. Outros Municípios
podem até ter problemas com a falta de
recursos para enfrentar o recente problema da estiagem, mas, Guamaré
jamais deveria ressentir-se deles, caso resolvesse empregar uma pequena parte
desse montante. Um caminhão-pipa com capacidade para dez mil
litros custa em torno de 200 mil reais; uma carreta-pipa nova de trinta mil
litros fica em 600 mil reais. Com dez caminhões-pipa
novos grande parte dos problemas de Guamaré causados pela atual estiagem
estariam solucionados.
Infelizmente, a opção perdulária
pelo gasto dos recursos do Município de Guamaré com pagamento de altos cachês
a cantores e bandas famosos é um absurdo. Isto sem falar que nesse
tipo de contratação é
muito mais fácil de alimentar uma ampla rede de
corrupção, sobretudo, com o uso de
superfaturamento das operações. E grande parte
dos recursos gastos com a estrutura para realização
dessas festas vai para o bolso do gestor municipal e seus acólitos.
Essa, sim, uma verdadeira calamidade. Por frustrante e absurda que possa
ser. Infelizmente, coisa deste Brasil,
ainda sem corrutelo.
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