A
DIMENSÃO DA ESPERANÇA
Paulo Afonso Linhares
Tornou-se
uma tradição política brasileira a fala do presidente da República alusiva ao 7
de Setembro, portanto, algo protocolar e de apelo meramente retórico, tanto que
até algumas pessoas se incomodavam com essa inserção presidencial a atrapalhar
a novela da época. No governo Lula, essa aparição do presidente passou a ser um
momento de prestação de contas do governo e anúncio de novos projetos e
políticas públicas. No segundo feriado da Independência do seu governo, a
presidente Dilma Rousseff manteve-se na linha de seu antecessor ao dirigir-se à
nação através de rede nacional de televisão e rádio, ademais da grande
repercussão instantânea nas redes sociais, para anunciar novos rumos de seu governo.
O
pronunciamento da presidente da República foi firme, incisivo e sem rodeios.
Objetivava ela anunciar as linhas mestras de uma nova política para o
desenvolvimento do país, sobretudo, as bases da parceria entre o setor público
e a iniciativa privada na reestruturação do setor de transportes, em especial
do modal ferroviário. Com efeito, a presidente Dilma demonstrou a vontade
política de seu governo para resolver um dos gargalos da estrutura de
transportes do país, hoje ocupada maioritariamente pelo transporte rodoviário,
mesmo porque, como é por demais conhecido, a partir da 1964 iniciou-se o
desmonte dos dois modais mais importantes do país, para servir aos interesses
dos lobbies das indústrias
automobilísticas norte-americana e europeia.
Ademais,
no período que antecedeu ao golpe militar de 1964, os setores mais avançados do
sindicalismo brasileiro eram os ferroviários e marítimos. Desorganizando os
transportes ferroviários e a navegação de cabotagem, restaram atendidos os
interesses da indústria de transportes rodoviários e, por vias reflexas,
enfraqueceria esses setores do sindicalismo brasileiro. Aliás, não custa
recordar que o golpe de 1964 foi perpetrado para supostamente evitar que o
então presidente Jango Goulart fizesse do Brasil uma "República
Sindicalista", segundo bradavam os golpistas civis e militares, embora até
hoje ninguém saiba, nem eles próprios, o que raios isto significava.
A
enorme fragilidade dos transportes ferroviários brasileiros, foi agravada pela
desativação de milhares de quilômetros de ferrovias - inclusive a nossa
bucólica Mossoró-Souza - decorrente da "privatização" da Rede
Ferroviária Federal Sociedade Anônima - RFFSA, que era uma sociedade de
economia mista integrante da Administração Indireta do Governo Federal,
vinculada funcionalmente ao Ministério dos Transportes e criada mediante
autorização da Lei nº 3.115, de 16 de março de 1957 e que, em 1996, operava uma
malha que compreendia cerca de 22 mil quilômetros de linhas (73% do total
nacional). Incluída em 1992 no Programa Nacional de Desestatização, a RFFSA foi
transferida para o setor privado, a preço vil, no período de 1996/1998, de acordo com o modelo que
estabeleceu a segmentação do sistema ferroviário em seis malhas regionais, sua
concessão pela União por 30 anos, mediante licitação, e o arrendamento, por
igual prazo, dos ativos operacionais da RFFSA aos novos concessionários. Os
novos donos privados da RFFSA, mantiveram em operação uns poucos ramais
rentáveis e o resto foi vendido para o ferro velho.
A
presidente Dilma retoma essa questão fundamental para o desenvolvimento
nacional, porém, em outras bases: buscando uma parceria com a iniciativa
privada na qual esta também participe dos investimentos nos diversos modais dos
transportes, seja ferroviário, rodoviário, marítimo e aeroportuário, com relevo
para o binômio integração-complementaridade a partir de um novo modelo baseado
no planejamento e na logística. A interlocução que a presidente Dilma
estabelece agora com o setor privado vai render essas PPP (parceria
público-privada) dos transportes e certamente vai beneficiar outros setores da
economia. Uma mostra disto, foi o anúncio da redução das tarifas de energia
elétrica 16,2% para os consumidores residenciais e 28% para as indústrias, a
partir do início de 2013. Em suma, a fala da presidenta (com "a"
mesmo) nos trouxe orgulho e esperança. Ademais da fala inteligente e bem
pronunciada, a sua imagem impecavelmente bonita, em todos os ângulos e
sentidos. De encher os olhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários críticos sem identificação não serão aceitos.