DEU A LOUCA NAS PESQUISAS
Paulo Afonso Linhares
Observando a cena política destas
eleições de 2012, em Mossoró, é inevitável a comparação com aquela fábula de
Esopo (moralista e fabulista grego do século 6 a.C., que teria nascido em
alguma cidade da Anatólia, no extremo oeste da Ásia), intitulada “O menino e o
lobo”, assim resumida: “Um pastor de ovelhas achava a vida muito monótona. Por
isso, inventava de tudo para se distrair. A sua diversão favorita era fingir
que estava em apuros. - Um lobo! Socorro! Socorro! - costumava gritar aos
quatro ventos. Quando as pessoas do povoado vinham em seu socorro,
encontravam-no perfeitamente seguro, rindo a valer. Um dia apareceu um lobo de
verdade na frente do pastor. Desesperado, ele começou a gritar como sempre
fazia: - Um lobo! Socorro! Socorro! Desta vez ninguém veio socorrê-lo, e o
pastor teve de se esconder em cima de uma moita de espinhos, enquanto o lobo
devorava todas as suas ovelhas. Moral: Quando os mentirosos falam a verdade,
ninguém acredita.” O pastorzinho abusou e se deu mal.
Assim,
a opinião pública brasileira começa a enxergar as pesquisas eleitorais,
sobretudo, se tomado o exemplo específico de Mossoró, com absoluta
desconfiança. A verdade é que essas sondagens, publicadas ao longo do presente
processo eleitoral, têm confundido a cabeça do eleitor pelas enormes
disparidades dos números apresentados. E não era para serem assim utilizadas as
pesquisas eleitorais – como reles peças das campanhas dos partidos e coligações
–, mas, como ferramentas para aferição a cada momento de um processo eleitoral
do comportamento do eleitor. Os resultados de uma boa amostragem podem ser bons
elementos para correção dos rumos das campanhas, do agir dos candidatos etc. O
mais grave é que as pesquisas eleitorais, no atual processo eleitoral, servem a
todos os figurinos, apetites políticos e possibilidades financeiras; algumas
são realizadas por empresas (chamadas todas elas de “institutos”) sofisticadas
e outras por empresas de fundo de quintal, entretanto, em qualquer dos casos
elas querem satisfazer aquele que paga pelo serviço, que geralmente utiliza
como testa-de-ferro o veículo de comunicação que publica a pesquisa.
Quem primeiro
utilizou as pesquisas de opinião pública, foi George Gallup que fundou The
American Institute of Public Opinion (Instituto Americano de Opinião
Pública) - que mais tarde se tornaria a The Gallup Organization – no ano de
1935. Na verdade, Gallup desenvolveu um método de “estudos de opinião pública
em uma ampla gama de questões políticas, sociais e econômicas, incluindo as
esperanças e temores de pessoas ao redor do mundo, as atividades que realizam
em momentos de lazer, sua moral e crenças religiosas” (disp. 28 set 2012).
A utilização de métodos e técnicas apropriados – que tiveram um enorme
incremento nas “sociedades da informação”, para usar a categoria popularizada
por Manuel Castells na obra “Sociedade em rede” – de sondagem da opinião
pública sempre rende enorme dividendos em diversos domínios, como um bom índice
de aproximação das realidades cujo conhecimento se busca. O inverso é
desastroso, principalmente quando se visa falsear estas realidades, presentes
e, sobretudo, futuras.
Mais uma vez o
problema é o abuso. Toda uma parafernália ligada às campanhas eleitorais (os
showmícios, a distribuição de camisetas, bonés e outros elementos de propaganda
etc), em boa hora foram legalmente banidos das campanhas eleitorais, no Brasil.
Havia enormes abusos, como as dispendiosas contratações de artistas para os
showmícios; quem tinha mais “bala” fazia melhores campanhas que atraia um eleitorado
composto por jovens que não dispunham de maiores opções de lazer e que faziam
dos eventos eleitorais verdadeiras baladas. Em alguns desses, aliás, quando os
discursos dos candidatos eram recebidos com estrepitosas vaias. Enormes abusos.
Já sanados, na legislação eleitoral. O legislador pátrio impôs um regramento às
pesquisas e testes eleitorais nos art. 33 a 35, da Lei nº 9.504, de 30/09/1997.
Com os abusos que continuam, em larga escala, a tendência é que surja uma
legislação mais severa, até mesmo proibitiva das pesquisas e testes, nos
próximos pleitos eleitorais.
Em suma, o grave é
que das quase duas dezenas de pesquisas publicadas em Mossoró é impossível
saber quem estaria mais próximo da verdade. Daí que, por mais credibilidade e
prestígio que tenham o “instituto” que a realizou e o veículo de comunicação
que a divulgue, ainda assim ninguém mais acreditará. Como na fábula do
pastorzinho mentiroso e do lobo. Acima dessas patifarias, uma certeza: a
pesquisa das urnas, no próximo dia 7 de outubro de 2012 revelará a face da
verdade. E ai, alguma Inês já será irremediavelmente morta.
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