domingo, 11 de novembro de 2012

Artigo de Paulo Afonso Linhares


OBAMA E O BRASIL

Paulo Afonso Linhares

O enorme "complexo de vira-lata" -  lembre-se de Nelson Rodrigues - impele a imprensa brasileira a especular sempre quais os impactos, no Brasil, das eleições presidenciais norte-americanas, a cada quatro anos, depois de fastidiosa explicação, com ares de grande novidade, sobre o sistema eleitoral dos EUA. No vira e mexe que se segue findam por concluir que, no máximo, pode haver alguma mudança pontual no relacionamento do governo norte-americano com a América do Sul, mas, dificilmente o Brasil é levado em consideração, não existe e passa muito longe dos discursos dos candidatos ao mais famoso emprego do planeta, que é o de presidente dos EUA.

No recente pleito de 2012, a disputa presidencial norte-americana pôs frente a frente o maneiríssimo Barack Obama, que tentava a reeleição, contra o ex-governador  do Massachussets, Mitt Romney. Cá no velho patropi, os bravos redatores dos jornalões (os poucos sobreviventes, ainda não engolidos pela Internet) e das grandes redes televisivas externavam essa dúvida atroz: Romney ou Obama? Tanto faz um quanto o outro. Afinal, nada é mais parecido com um político republicano norte-americano que um político democrata. Ou vice-versa. As diferenças no tratamento dispensado ao Brasil por republicanos e democratas é praticamente nenhuma.

O Tio Sam somente tem olhos para chineses, japoneses, coreanos e para seus (falidos) parceiros da Europa ocidental. Para os "cucarachas" latino-americanos,  o bode velho vira a cara numa comprometedora rabiscava... Os sucessivos governos norte-americanos, democratas ou republicanos, nunca inclui os países latino-americanos em suas agendas. Assim, por que haveria Obama - afinal reeleito confortavelmente, embora parecesse que Romney "apertaria" a eleição - de enfatizar as relações bilaterais com o Brasil?

Obviamente que no mercado mundial tem o Brasil uma presença difícil de ser ignorada, embora sem o peso de uma China. Aliás, qualquer presidente eleito nos EUA lhe dará um mesmo tratamento, seja democrata ou republicano. Certo é que desde o governo Lula, o presidente Obama tem dado alguma atenção ao Brasil, porém, muito distante de uma parceria positivamente diferenciada. No comércio bilateral Brasil-EUA há diversos conflitos que envolvem barreiras alfandegárias e que tem desaguado na Organização Mundial do Comércio, alguns deles há décadas. E os impasses se eternizam.

É curioso lembrar que os democratas são tradicionalmente mais duros na política externa que os republicanos. Barack Obama, nesse segundo mandato presidencial, não será exceção. Com a enorme crise europeia, tudo leva a crer que o Brasil poderá qualificar-se como parceiro importante dos EUA nesta região do planeta. Um fator desestimulante é a própria crise que se abate, também, sobre a economia norte-americana, projetando considerável e preocupante  aumento na taxa de desemprego. Obama tem pela frente enormes desafios, sobretudo, para fazer com que o seu país volte a crescer. E mantenha uma liderança na cena política internacional que começa a ser confrontada pelo gigante chinês que, a despeito das advertências tantas vezes trombeteadas, definitivamente despertou de seu sono milenar. 

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