OBAMA E O BRASIL
Paulo Afonso Linhares
O enorme
"complexo de vira-lata" -
lembre-se de Nelson Rodrigues - impele a imprensa brasileira a especular
sempre quais os impactos, no Brasil, das eleições presidenciais
norte-americanas, a cada quatro anos, depois de fastidiosa explicação, com ares
de grande novidade, sobre o sistema eleitoral dos EUA. No vira e mexe que se
segue findam por concluir que, no máximo, pode haver alguma mudança pontual no
relacionamento do governo norte-americano com a América do Sul, mas,
dificilmente o Brasil é levado em consideração, não existe e passa muito longe
dos discursos dos candidatos ao mais famoso emprego do planeta, que é o de
presidente dos EUA.
No recente pleito
de 2012, a disputa presidencial norte-americana pôs frente a frente o
maneiríssimo Barack Obama, que tentava a reeleição, contra o ex-governador do Massachussets, Mitt Romney. Cá no velho
patropi, os bravos redatores dos jornalões (os poucos sobreviventes, ainda não
engolidos pela Internet) e das grandes redes televisivas externavam essa dúvida
atroz: Romney ou Obama? Tanto faz um quanto o outro. Afinal, nada é mais
parecido com um político republicano norte-americano que um político democrata.
Ou vice-versa. As diferenças no tratamento dispensado ao Brasil por
republicanos e democratas é praticamente nenhuma.
O Tio Sam somente
tem olhos para chineses, japoneses, coreanos e para seus (falidos) parceiros da
Europa ocidental. Para os "cucarachas" latino-americanos, o bode velho vira a cara numa comprometedora rabiscava...
Os sucessivos governos norte-americanos, democratas ou republicanos, nunca
inclui os países latino-americanos em suas agendas. Assim, por que haveria
Obama - afinal reeleito confortavelmente, embora parecesse que Romney
"apertaria" a eleição - de enfatizar as relações bilaterais com o
Brasil?
Obviamente que no
mercado mundial tem o Brasil uma presença difícil de ser ignorada, embora sem o
peso de uma China. Aliás, qualquer presidente eleito nos EUA lhe dará um mesmo
tratamento, seja democrata ou republicano. Certo é que desde o governo Lula, o
presidente Obama tem dado alguma atenção ao Brasil, porém, muito distante de
uma parceria positivamente diferenciada. No comércio bilateral Brasil-EUA há
diversos conflitos que envolvem barreiras alfandegárias e que tem desaguado na
Organização Mundial do Comércio, alguns deles há décadas. E os impasses se
eternizam.
É curioso lembrar
que os democratas são tradicionalmente mais duros na política externa que os
republicanos. Barack Obama, nesse segundo mandato presidencial, não será
exceção. Com a enorme crise europeia, tudo leva a crer que o Brasil poderá
qualificar-se como parceiro importante dos EUA nesta região do planeta. Um
fator desestimulante é a própria crise que se abate, também, sobre a economia
norte-americana, projetando considerável e preocupante aumento na taxa de desemprego. Obama tem pela
frente enormes desafios, sobretudo, para fazer com que o seu país volte a
crescer. E mantenha uma liderança na cena política internacional que começa a ser
confrontada pelo gigante chinês que, a despeito das advertências tantas vezes
trombeteadas, definitivamente despertou de seu sono milenar.
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