DEMOCRACIA
ALÉM DOS PARTIDOS?
Paulo
Afonso Linhares
O
Brasil vive, atualmente, a dupla condição de país
emergente: na economia é o "B" do quinteto de países
que formam o bloco denominado BRICS; na política,
começa a se consolidar a segunda maior
democracia do planeta, com seus 142.822.038
eleitores (curioso é
que os Estados de São Paulo, Rio de
Janeiro e Minas Gerais concentram 41,6% do eleitorado brasileiro, com 59.388.252 votantes),
somente atrás de outro ilustre emergente que é
a Índia. No entanto, segundo dados
divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral projeta-se uma situação
curiosa e não menos preocupante: somente 15.328.977 pessoas são filiadas a algum partido,
um pouco mais de 10% dos eleitores. Periodicamente, devem os partidos políticos
informar à Justiça Eleitoral nome, título de eleitor e local de votação das pessoas
filiadas à sigla.
E
por que esses dados preocupam? Ora, todas as reflexões
teóricas acerca da democracia colocam os
partidos como os grandes vetores das atividades políticas
nas sociedades abertas contemporâneas. Nos Estados democráticos,
a preservação e proteção
dos direitos e das
liberdades civis, individuais, coletivas e suprainduviduais, os cidadãos
devem modelar o governo que estabelecerem através
das manifestações legitimadoras da soberania popular, através
de eleições livres.
Entretanto,
os processos de legitimação do poder nos Estados contemporâneos
- caracterizados pela tendência de despersonalização do poder
- dificilmente isto terá êxito sem a providencial intermediação
dos partidos políticos, que são
instituições
que se fundam em ações conscientes e na aprovação
dos diversos grupos sociais que se fazem representar. Aliás,
são muitos os estudiosos do tema
que não
enxergam democracias autênticas sem partidos políticos
fortes e atuantes na representação de segmentos da sociedade; alguns
até consideram os partidos como
aglutinadores de ações políticas
mesmo nos Estados não democráticos,
a exemplo do constitucionalista Paulo Bonavides, para quem “tanto na democracia como na ditadura,
o partido político é hoje o poder institucionalizado das massas”,
ademais da circunstância de que "a legitimidade no poder se relaciona com a necessidade e
a finalidade mesma do poder político que se exerce na sociedade através principalmente de uma obediência consentida e espontânea"
(cfr. Ciência política.
10. ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 267/277).
Os
números do TSE apenas revelam algo
bastante conhecido empiricamente: os partidos políticos
brasileiros são estruturas frágeis
e que, ainda, têm menos influência
nas ações políticas
que determinadas lideranças ("Lula é
maior que o PT"...), segmentos econômicos,
grupos de pressão e, lastimavelmente, de norte a sul
destes Brasis, as velhas e novas oligarquias políticas.
Com efeito, os partidos nada mais são que "cartórios"
onde se alugam ou se vendem legendas para candidaturas parlamentares ou
executivas, bem assim os espaços de propaganda eleitoral de rádio
e TV. Um verdadeiro mercado persa, onde o que menos conta é
o interesse público.
Outros
dados curiosos mostram o ranking dos partidos políticos
brasileiros: o PMDB,
que é o partido mais antigo em exercício registrado na Justiça Eleitoral, fundado em 30 de junho de 1981,
desponta como a sigla fundado
em 1980mais popular,
com 2.355.480 votantes (15,3% de todos os filiados
no país). No segundo lugar vem o PT,
fundado em 1980 e registrado
na Justiça Eleitoral em 1982, com 1.589.635 filiados, 10,3% do total declarado pelos
partidos. Registrado no TSE em 1995, com 9,2% do eleitorado, o PP é
o terceiro
partido com maior número de filiados (1.416.188). O PSDB vem em
quarto lugar, com 7,8% (1.350.574 filiados). Em quinto lugar vem o PDT, com 1.207.682
filiados. No último lugar, dos 32 partidos
registrados no TSE está o PCO
(Partido da Causa Operária), fundado em 1997, com apenas 2.659 (0,01%) eleitores
filiados. O PEN,
criado em junho de 2012, é o segundo
partido com menor registro de filiados, 11.288 ou
0,07%.
Pequeno
ou grande, pouco importa, os partidos políticos brasileiros pouca influência
têm na formulação
das políticas de governo e no cumprimento do
papel tradicionalmente reservado à oposição,
de fiscalização da gestão
governamental. Os partidos políticos - e de resto a própria
atividade política e os políticos
em geral - são vistos com enorme desconfiança,
quando não com indisfarçado
desdém, atitudes que recebem enorme reforço
dos meios de comunicação e artísticos,
mesmo aqueles de cariz conservador. Sem dúvida, grassa na sociedade brasileira,
máxime nos setores de classe média,
um latente anarquismo que se traduz numa aversão
às instituições,
a ponto que se lançam em protestos de rua e confrontos
vazios de conteúdo políticos,
como é o caso dos black blocs. O
baixo número de filiados é
péssimo sinal porquanto induz a ideia
de um déficit de legitimidade que contamina
todo o sistema político e agudiza ainda mais a crise da
democracia representativa no Brasil. No mais,
é torcer para que haja uma reforma que
mude as perspectivas dos partidos políticos e os coloque no lugar em que efetivamente merece, para que possamos
ter uma democracia autêntica e verdadeira. Avante.
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