quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Artigo de André Barros, professor da Nova Acrópole

PoliticArte
            
“Chegou a sua hora de fazer a diferença.”

Talvez essa seja a frase mais repetida e (por quê não?) sobre a qual menos se reflete neste momento de eleições. É claro que possui um certo apelo: temos uma predisposição para nos interessarmos pelo que é “novo”, pelo que é “diferente”. Além disso, principalmente no contexto político, já conhecemos os efeitos daquilo que é “velho” e “igual”...                                   
Assim, gostaria de propor algo realmente diferente: procurar um conceito novo... no mundo clássico! O que os grandes pensadores da antiguidade têm a nos dizer de inovador sobre a Política? E mais, qual a própria origem da palavra?
O termo política deriva da palavra grega politikè, que une os termos polis (cidade) e technè (arte). Ou seja, seria a arte ou técnica de organizar uma cidade e fazê-la prosperar. Isso nos leva a refletir até que ponto alguém estaria apto para governar: se considero a Medicina como a arte da saúde, ninguém gostaria de ser operado por um doutor que não estudou profundamente esta arte, ou até mesmo que, apesar de ter estudado, ainda não teve este conhecimento sido colocado em prova.                                                                       
E esta arte parece estar cada vez mais à beira da extinção, sem museus ou conservatórios que possam cultivá-la e passá-la adiante para as próximas gerações. Talvez esse seja um dos maiores problemas de extinção que podemos enfrentar: a extinção de uma forma de arte. O que faríamos nós se a música chegasse a um tal estado em que não houvesse mais instrumentistas, ou cantores? O que seria do nosso cotidiano se se perdessem as técnicas culinárias?
Não permitiríamos isso. De fato, se algo desta natureza acontecesse, sentiríamos uma necessidade profunda, quase inevitável, de resgatar essa forma de arte com nossos próprios esforços. Aprenderíamos novamente a cantar, a tocar, a cozinhar, a pintar... Porque isso é vital e essencial para nos sentirmos seres humanos, indo além do utilitarismo para dar um significado maior, mais profundo às nossas vidas.
Convido então a fazermos o mesmo com a arte da política. E, da mesma forma que faríamos com as outras artes - em que começaríamos com pequenas experiências, até podermos criar obras-primas - iniciemos pelo governo de nós mesmos. Assim como o exigiríamos em nossa cidade, façamos com que nossa melhor parte, nossos valores realmente humanos, governe sobre as demais. Que possamos organizar cada periferia de nossas vidas, limpando e revitalizando as praças de nossas relações, investindo na saúde de nossos pensamentos, educando as nossas emoções...
Confúcio afirmava que “A ordem política é o fruto de uma ordem ética”.   Chegou a hora de sermos éticos, porque em verdade nunca deixou de ser hora.
Chegou a hora de sermos diferentes, porque ser bom é ser diferente.                  Chegou a hora de fazermos a diferença.


André Barros

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