PoliticArte
“Chegou a
sua hora de fazer a diferença.”
Talvez essa seja a frase mais repetida e (por quê não?) sobre a
qual menos se reflete neste momento de eleições. É claro que possui um certo
apelo: temos uma predisposição para nos interessarmos pelo que é “novo”, pelo
que é “diferente”. Além disso, principalmente no contexto político, já
conhecemos os efeitos daquilo que é “velho” e “igual”...
Assim,
gostaria de propor algo realmente diferente: procurar um conceito novo... no
mundo clássico! O que os grandes pensadores da antiguidade têm a nos dizer de
inovador sobre a Política? E mais, qual a própria origem da palavra?
O termo política deriva da palavra
grega politikè, que une os termos polis (cidade) e technè (arte). Ou seja,
seria a arte ou técnica de organizar uma cidade e fazê-la prosperar. Isso nos
leva a refletir até que ponto alguém estaria apto para governar: se considero a
Medicina como a arte da saúde, ninguém gostaria de ser operado por um doutor
que não estudou profundamente esta arte, ou até mesmo que, apesar de ter
estudado, ainda não teve este conhecimento sido colocado em prova.
E
esta arte parece estar cada vez mais à beira da extinção, sem museus ou
conservatórios que possam cultivá-la e passá-la adiante para as próximas
gerações. Talvez esse seja um dos maiores problemas de extinção que podemos
enfrentar: a extinção de uma forma de arte. O que faríamos nós se a música
chegasse a um tal estado em que não houvesse mais instrumentistas, ou cantores?
O que seria do nosso cotidiano se se perdessem as técnicas culinárias?
Não
permitiríamos isso. De fato, se algo desta natureza acontecesse, sentiríamos
uma necessidade profunda, quase inevitável, de resgatar essa forma de arte com
nossos próprios esforços. Aprenderíamos novamente a cantar, a tocar, a
cozinhar, a pintar... Porque isso é vital e essencial para nos sentirmos seres
humanos, indo além do utilitarismo para dar um significado maior, mais profundo
às nossas vidas.
Convido
então a fazermos o mesmo com a arte da política. E, da mesma forma que faríamos
com as outras artes - em que começaríamos com pequenas experiências, até
podermos criar obras-primas - iniciemos pelo governo de nós mesmos. Assim como
o exigiríamos em nossa cidade, façamos com que nossa melhor parte, nossos
valores realmente humanos, governe sobre as demais. Que possamos organizar cada
periferia de nossas vidas, limpando e revitalizando as praças de nossas relações, investindo na saúde
de nossos pensamentos, educando as nossas emoções...
Confúcio
afirmava que “A ordem política é o fruto de uma ordem ética”. Chegou a hora de sermos éticos, porque em
verdade nunca deixou de ser hora.
Chegou
a hora de sermos diferentes, porque ser bom é ser diferente. Chegou a hora de fazermos a
diferença.
André Barros
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