A REPROVAÇÃO DO RN
Paulo Afonso Linhares
Um lugar comum em todos os discursos
acerca de desenvolvimento é o
imprescindível
papel que a educação
básica
joga na evolução
dos povos e construção
das riquezas das nações.
Parece ate um enfadonho bordão, mas, não é.
Com efeito, sem educação
as perspectivas todas são
nulas e quaisquer promessas de redenção social, política econômica e cultural caem
no vazio mais profundo. Do contrário, grassam sempre a escuridão da ignorância e o maldito silêncio da omissão, que resultam em miséria, desamparo,
fome, desesperança,
violência,
abandono e desespero.
Por isto é que enorme choque a comunidade potiguar teve com a divulgação do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), de 2013. Segundo definição do INEP - Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, "o Ideb foi criado pelo Inep em 2007, em uma escala de zero
a dez. Sintetiza dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da
educação: aprovação e média de desempenho dos estudantes em língua portuguesa e matemática. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar,
obtidos no Censo Escolar, e médias de
desempenho nas avaliações do Inep, o Saeb e a Prova Brasil. A série histórica de resultados do Ideb se inicia em 2005, a partir de
onde foram estabelecidas metas bienais de qualidade a serem atingidas não apenas pelo País, mas também por escolas,
municípios e unidades da Federação."
O Rio Grande do Norte, em 2103 foi
reprovado no Ideb, pois, para uma
modesta meta de 3,4, no ensino fundamental, atingiu míseros 3,1; dos 3,2 da meta do ensino
médio
para 2013, mal atingiu sofrível 2,7. Sem dúvida, um desastre estelar. A vergonhosa reprovação do ensino do RN, a cargo do Sistema
Estadual de Educação, na posição do penúltimo pior Estado da federação, não
deixa de inspirar enormes preocupações. Onde falhou o sistema educacional desta unidade federativa? Teriam os
dirigentes desse sistema estadual, à frente
a atual governadora do RN, agido de modo negligente?
Coloque-se a carapuça em quem merecer. Fato é que os índices de avaliação do ensino, em 2013, gravemente depõem contra os gestores da educação e do governo desta capitania de João de Barros. É um fato. Aliás, por mais que esperneiem os defensores do atual governo do
Estado, contra fatos não
valem argumentos (contra facta non valent argumenta). Resta-nos,
lastimavelmente, engolir em seco a nossa vergonha, não apenas pelo
fiasco, mas, sobretudo, pelo passivo
social que teremos de assumir, todos nós desta bela tribo dos potiguares, conterrâneos do genial Luiz da Câmara Cascudo. Fracassamos na educação de nossas crianças
e jovens infantes? Fracassamos, melhor dizendo, fracassou o governo do
Estado, que se mostrou incompetente para imprimir uma boa gestão, em 2013, à educação
das meninas e meninos deste Estado?
À toda evidência foi o que ocorreu, mesmo porque não deixa de ser irritante o argumento
de que a questão
seria a falta de dinheiro (os políticos e assemelhados chamam "dinheiro" apenas de
"recurso", algo malicioso e debochado). Há "grana" suficiente para manter a educação do ensino fundamental e médio; não fazer uma boa gestão desses dinheiros resulta inapelavelmente num retumbante
fracasso como o que o Estado do Rio
Grande do Norte está a amargar os fraquíssimos índices obtidos no Ideb.
Que fazer? Chorar o velho e precioso
leite derramado? Não.
O próximo
governo do RN que assumirá em 1º de janeiro de 2015, tem por obrigação
corrigir esses desacertos lamentáveis, mesmo sabendo que dificilmente vai recuperar o tempo
perdido, pois, infelizmente, os danos educacionais são permanentes e, em grande medida,
irreversíveis.
Talvez até seja preciso ousar, pois, em derradeira análise, como asseverou o educador-mor
Paulo Freire, que pontificou por estas plagas, "...acreditamos que a
educação sozinha não transforma a
sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se a
nossa opção é progressiva, se estamos a favor da vida e não da morte, da
equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o
diferente e não de sua negação,
não temos outro
caminho se não viver a nossa opção.Encarná-la, diminuindo,
assim, a distância entre o que dizemos e o que fazemos". Essas
palavras de sabedoria ecoam em nossas mentes e deixam uma rastro de desolação e impotência, porquanto o atual governo, no
ano de 2013, sequer tenha sido capaz de fazer o velho dever de casa.
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