domingo, 14 de setembro de 2014

Artigo de Paulo Afonso Linhares

A REPROVAÇÃO DO RN

Paulo Afonso Linhares

Um lugar comum em todos os discursos acerca de desenvolvimento é o imprescindível papel que a educação básica joga na evolução dos povos e construção das riquezas das nações. Parece ate um enfadonho bordão, mas, não é. Com efeito, sem educação as perspectivas todas são nulas e quaisquer promessas de redenção social, política econômica  e cultural caem no vazio mais profundo. Do contrário, grassam sempre a escuridão da ignorância e o maldito silêncio da omissão, que resultam em miséria, desamparo, fome, desesperança, violência, abandono e desespero.
Por isto é que enorme choque a comunidade potiguar teve com a divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), de 2013. Segundo definição  do INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, "o Ideb foi criado pelo Inep em 2007, em uma escala de zero a dez. Sintetiza dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: aprovação e média de desempenho dos estudantes em língua portuguesa e matemática. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias de desempenho nas avaliações do Inep, o Saeb e a Prova Brasil. A série histórica de resultados do Ideb se inicia em 2005, a partir de onde foram estabelecidas metas bienais de qualidade a serem atingidas não apenas pelo País, mas também por escolas, municípios e unidades da Federação."
O Rio Grande do Norte, em 2103 foi reprovado no Ideb, pois, para uma  modesta meta de 3,4, no ensino fundamental, atingiu míseros 3,1; dos 3,2 da meta do ensino médio para 2013, mal atingiu sofrível 2,7. Sem dúvida, um desastre estelar. A vergonhosa reprovação do ensino do RN, a cargo do Sistema Estadual de Educação,  na posição do penúltimo pior Estado da federação, não deixa de inspirar enormes preocupações. Onde falhou o sistema educacional  desta unidade federativa? Teriam os dirigentes desse sistema estadual, à frente a atual governadora do RN, agido de modo negligente?
Coloque-se a carapuça em quem merecer. Fato é que os índices de avaliação do ensino, em 2013, gravemente depõem contra os gestores da educação e do governo desta capitania de João de Barros. É um fato. Aliás, por mais que esperneiem os defensores do atual governo do Estado, contra fatos não valem argumentos (contra facta non valent argumenta). Resta-nos, lastimavelmente, engolir em seco a nossa vergonha,  não apenas  pelo fiasco, mas, sobretudo,  pelo passivo social que teremos de assumir, todos nós desta bela tribo dos potiguares, conterrâneos do genial   Luiz da Câmara Cascudo. Fracassamos na educação de nossas crianças  e jovens infantes? Fracassamos, melhor dizendo, fracassou o governo do Estado, que se mostrou incompetente para imprimir uma boa gestão, em 2013, à educação das meninas e meninos deste Estado?
À toda evidência foi o que ocorreu, mesmo porque não deixa de ser irritante o argumento de que a questão seria a falta de dinheiro (os políticos e assemelhados chamam "dinheiro" apenas de "recurso", algo malicioso e debochado). Há "grana" suficiente para manter a educação do ensino fundamental e médio; não fazer uma boa gestão desses dinheiros resulta inapelavelmente num retumbante fracasso como o que o Estado  do Rio Grande do Norte está a amargar  os fraquíssimos índices obtidos no Ideb.

Que fazer? Chorar o velho e precioso leite derramado? Não. O próximo governo do RN que assumirá em 1º de janeiro de 2015, tem por obrigação  corrigir esses desacertos lamentáveis, mesmo sabendo que dificilmente vai recuperar o tempo perdido, pois, infelizmente, os danos educacionais são permanentes e, em grande medida, irreversíveis. Talvez até seja preciso ousar, pois, em derradeira análise, como asseverou o educador-mor Paulo Freire, que pontificou por estas plagas, "...acreditamos que a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é progressiva, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho se não viver a nossa opção.Encarná-la, diminuindo, assim, a distância entre o que dizemos e o que fazemos". Essas palavras de sabedoria ecoam em nossas mentes e deixam uma rastro de desolação e impotência, porquanto o atual governo, no ano de 2013, sequer tenha sido capaz de fazer o velho dever de casa.

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