terça-feira, 24 de maio de 2016

Entrevista de Kelps Lima no Jornal da Educativa

Qual o principal gargalo, qual a principal dificuldade que o senhor vê no governo Robinson Faria?

Kelps - A principal dificuldade é que o governador não sabe o que está fazendo. Ele não fez plano de governo, ele não fez transição, ele não montou uma equipe antecipadamente e ele tá passando o governo apagando incêndios e apagando os incêndios errados. 
Você não tem nenhum grande projeto estratégico do Estado que esteja no seu início, que por mais que a solução demore 10 anos, 15 anos, mas a população tenha a sensação daquela pessoa que tá doente, que está fazendo um tratamento, que o tratamento iniciou, mas ela sabe que, após o tratamento estará curada. 
O governo de Robinson é um governo perdido, que fica buscando soluções mágicas. Robinson gastou 700 milhões do Fundo Previdenciário, que terá de devolver, por uma decisão do Tribunal de Contas; Robinson aumentou em 300 milhões de reais a carga tributária, gastou todo dinheiro dos depósitos judiciais e, ainda assim, no seu segundo ano de governo, os salários já estão atrasados. 
Não há um índice do governo Robinson Faria em seu segundo ano que seja melhor que o segundo ano da ex-governadora Rosalba. Isso, mesmo o governo de Rosalba tendo sido muito ruim. Robinson conseguiu a façanha de ser pior. E a gente não sente segurança no governo. O governador fez promessas mirabolantes e agora a gente tá pagando uma conta muito cara.


Hoje, o noticioso "Bom dia RN" apresentou um quadro caótico em várias escolas estaduais aqui em Natal. O senhor diria que esse é um problema pontual, isolado; ou que os exemplos mostrados constituem uma realidade até rotineira em outros pontos do Rio Grande do Norte?


Kelps - A educação, tal qual a saúde e a segurança, elas estão em colapso. E elas são a ponta de uma grande crise que é no miolo do governo.  Nós não temos no Rio Grande do Norte nenhuma plano estratégico de gestão. Nós precisamos fazer uma grande reformulação na forma de gerir a máquina. E nós não temos um plano de desenvolvimento econômico que faça com que o Estado tenha mais dinheiro, mais emprego e que arrecade mais para financiar esses serviços. 
Sem esses dois eixos - gestão pública moderna e um plano de desenvolvimento econômico que gere riqueza para o Estado, impostos para financiar esses serviços, nem educação, nem saúde, nem segurança vão funcionar bem nunca. 
Mas, eles são a febre do câncer maior que é a falência da gestão pública potiguar. 
Qual a maior crítica que eu faço ao governador? É que ele não apresentou nenhum plano para mudar as raízes do problema, os alicerces do problema. Claro que Robinson Faria, nem nenhum outro governador vai resolver os problemas do Estado da noite para o dia. Mas, a solução pra começar, não pode ser paliativa. 
É como você estar com uma doença muito grave - você estar com câncer e vai ao médico. O médico não diz pra você: "Olhe, tome água com açúcar, um analgésico e vá pra casa que você vai ficar bom". 
Você adoraria receber essa notícia. Mas, não é verdade. Ele vai lhe dizer: Olhe (primeiro você ter que procurar um médico especialista, que passou 10 anos numa Universidade para ser especialista nesse tipo de câncer). Ele vai lhe dizer que o tratamento é longo e é sofrido: você vai fazer uma quimioterapia, vai cair cabelo, vai perder peso, vai baixar imunidade... mas, você vai sobreviver. 
Robinson Faria tá dando, quando muito, água com açúcar para tratar câncer. E é por isso, que a situação das escolas, dos hospitais, das estradas e da violência nas ruas, está no ponto em que chegou no Rio Grande do Norte. 


Quando era candidato, o governador Robinson Faria chegou a dizer algumas vezes que os problemas que o Estado enfrentava, naquela época, não eram questão de falta de recursos. Tratavam-se simplesmente de falta de gestão. O senhor acha que ele dizia isso por dizer ou porque entendia que era isso mesmo?

A gente só tem duas alternativas nesse caso. Ou foi por má fé ou foi por total desconhecimento da máquina pública potiguar. 
Como não me cabe julgar o caráter dele, eu vou partir do princípio que foi despreparo mesmo. Robinson Faria não se preparou para ser governador do Rio Grande do Norte. Ainda mais numa crise nas proporções que nós temos no Brasil e no Estado. 
Nós temos uma crise econômica profunda no Estado brasileiro. A Nação sofre a maior depressão econômica desde a década de 30 e o Rio Grande do Norte sofre uma crise de falência administrativa enorme. 
Só na Previdência nos temos um rombo de um bilhão por ano. O Estado arrecada 6 bilhões por ano de receita própria. Um bilhão vai só para cobrir o rombo da Previdência. É dinheiro que deixa de ir pras escolas, pros hospitais, pras viaturas da Polícia e o governador não apresentou uma alternativa pra gente, pelo menos, estancar essa sangria e esse rombo para não crescer.



Do seu modo de ver as coisas e pelo que o governo tem proposta, tem acenado, o que o senhor diria à população: "Fique tranquila que as coisas vão melhorar..." Ou: "Se prepare que o pior ainda não chegou"?

Olhe só: Mantidas as condições de temperatura e pressão, as coisas ainda vão piorar até que comece uma melhora. 
Mas, a primeira mudança tem que ocorrer na população. Este ano nós vamos ter eleições. Se você acreditar em falsos milagres; Se você acreditar que vão ser promessas doces ao ouvido do eleitor que vão resolver os problemas do Rio Grande do Norte, você não está ajudando a resolver o problema da sua cidade nem do seu Estado. 
Todos os moradores da Zona Norte de Natal adoraram quando Robinson Faria prometeu uma ponte do Alecrim pra Zona Norte. Essa ponte custa 1 bilhão de reais e não vai sair do papel nunca. Mas, as pessoas da Zona Norte acreditaram. 
Robinson Faria foi para uma reunião com representantes do comércio e disse que não iria aumentar impostos. Os comerciantes adoraram. E ele aumentou o imposto. 
O governador Robinson Faria disse que ia dar expediente nos hospitais, ia colocar um birô no Walfredo Gurgel. Até hoje não fez isso e a situação só piorou. 
Então, o eleitor que for pra rua e acreditar nesse tipo de promessa, ele vai ter o mesmo resultado que sempre teve no Rio Grande do Norte, só que, agora, numa situação pior. 
Pra gente melhorar, acima de tudo, nós precisamos - o conjunto inteiro da sociedade - mudar o critério de escolha dos nossos representantes e não acreditar em salvador da pátria, nem em milagre, nem em solução fácil para um problema complexo. 

CONTINUA

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