NO COMPASSO DO DESÂNIMO
Paulo Afonso Linhares
O Brasil terminou 2015 exangue, “à vara e a remo” como se dizia em tempos idos. Alguns até já dizem que esse foi o ano que, para os brasileiros, ainda não terminou, tamanhas foram as pendências herdadas pelo bruxuleante exercício de 2016. Aliás, uma penca de coisas estão indefinidas à espera do real começo deste ano que, como sabido por todos, somente ganha corpo depois do período momesco. Enfim, nos albores de mais um carnaval e parodiando aquela famosa marchinha de Chico Buarque (“Quem me vê sempre parado,/ Distante garante que eu não sei sambar.../Tô me guardando pra quando o carnaval chegar. Eu tô só vendo, sabendo,/ Sentindo, escutando e não posso falar.../ Tô me guardando pra quando o carnaval chegar”...), pode-se dizer que o Brasil está guardando-se mesmo, literalmente, para quando o carnaval passar. Assim, findo que seja mais um reinado de Momo e terminados os recessos das casas legislativas e tribunais, as refregas políticas voltarão com redobrado ardor.
Como o impeachment da presidenta Dilma perdeu força depois da recente decisão do Supremo Tribunal Federal acerca do rito a ser observado, nesse caso, pelo Congresso Nacional, o palco principal deverá ser o Tribunal Superior Eleitoral, onde pede ação que pode solapar os mandados de Dilma e do vice-presidente Michel Temer. Noutro campo, o rosário investigativo da "Operação Lava Jato", que se expande como aquelas histórias do "Livro das Mil e Uma Noites", narrativas encadeadas e nunca concluídas feitas pela bela Xerazade, parece igualmente não ter fim, porquanto o doutor Moro e seus parceiros da Polícia Federal e do Procuradoria da República sempre encontram mais uma ponta de fio nesse novelo e a novela se arrasta enquanto, cada vez mais atônito, a economia do Brasil afunda. Em recente relatório, o FMI culpa essa demora da Lava Jato por uma parte dos problemas que este país enfrenta no front econômico.
Aliás, tantos os que, distantes, veem um Brasil desanimado, atônito e quase parando, até dizem que não irá à frente nem sairá do atoleiro em que o meteram, a exemplo do que buzina nos nossos ouvidos e invadem nossas retinas, já fastigiosas dessas lenga-lenga, as diatribes da Rede Globo e seus parceiros de empreitada golpista. É incrível ver a felicidade de um William Waack, Alexandre Garcia, Miriam Leitão ou Carlos Alberto Sardenberg, quando divulgam alguma notícia desfavorável ao nosso país, seja a queda de um indicador econômico importante, a derrota do governo para o indefectível Aëdes aegypti com sua três orgivas de desgraças (dengue, Zika e febre chikungunya) ou mesmo a derrota de um reles lutador de MMA tupiniquim para qualquer galego americano.
Com efeito, a pauta comum da imprensa conservadora escrita, falada ou televisada, é a inarredável torcida contra o Brasil, como se isso pudesse funcionar como poderoso lenitivo.
E quem levou este país-continente para tão lamacento impasse? Muitos idiotas em uníssono grito dirão: “Foi o PT!!!”. Menos, menos, reinaldos azedos de plantão! Essa é uma simplificação grosseira da realidade política, social e econômica do Brasil, na “Era PT”. Inúmeros fatores levaram este país para o enorme atoleiro que é, a um só tempo, ético, jurídico-político, social e econômico, inclusive algumas pendências centenárias que a sociedade brasileira e suas elites foram incapazes de resolver. Claro, conseguir um bode (ou uma cabra?) expiatório é sempre uma boa escapatória para resolver coisas irresolvidas e quiçá irresolvíveis. Foi assim “a questão judia” para os nazistas alemães, o macarthismo dos norte-americanos dos anos `50, ou o “perigo comunista” dos anos ´60, ambos do conturbado século XX, em grande parte do mundo, inclusive nestas paragens de Pindorama. Sempre os outros são os culpados pelas desgraças coletivas.
Que petistas, principalmente os mais ilustres deles - Lula e Dilma - têm parcela de culpa pelo o atual estado de coisas não há dúvida, mas, muitos outros políticos, partidos, empresas e empresários, devem arcar, também, com a fatura salgada dos desmandos de toda ordem que atolam o país, embaralham a economia e impõem à nação um compasso de desânimo. E a maior culpa de Lula e Dilma reside nas concessões que fizeram e fazem a aliados políticos com a nítida margem de fisiologismo; bem longe, aliás, daquilo que é natural nas democracias maduras: a busca de consensos. Mais de noventa por cento dos empresários brasileiros, os que ainda estão soltos, alimentam grosseiras diatribes contra a dupla Lula/Dilma.
O presidencialismo de coalizão não deixa de ser um grave desvio político e a causa básica dos problemas colocados pelas crises ética, política e econômica: o fatiamento dos espaços de governo entre os partidos aliados causou estragos nas gestões de FHC, de Lula e de Dilma, sobretudo, com os escândalos variados que atingem áreas vitais da Administração Pública.
Uma coisa é certa: o furacão do impeachment de Dilma perde força, passando todos os olhares a ser fixados no processo que pende do Tribunal Superior Eleitoral e que pode tomar o mandato de Dilma, contudo, essa solução aponta para um efeito colateral: dificilmente Michel Temer escaparia, o que impõe um intrincado dilema: a quem entregar o governo? Ao ladino Eduardo Cunha ou ao bem falante Renan Calheiros? Bem, o doutor Lewandowsky até que poderia "dar no aro", mas, aí é outra história.
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