domingo, 14 de agosto de 2011

Artigo de Paulo Afonso Linhares


O PREÇO DA FAXINA

Paulo Afonso Linhares



             A presidente Dilma Rousseff surpreendeu a maioria dos analistas políticos com os enormes índices de popularidade, segundo aferição de diversos institutos de pesquisa, algo bem difícil de ser alcançado por um presidente em início de governo. Aliás, ela apresentou índices superiores aos que teve o presidente Lula – talvez o chefe de Estado brasileiro melhor avaliado em sondagem da opinião pública que se tem notícia – no mesmo período de governo. Todavia, recentemente o governo Dilma foi avaliado pelo Ibope a mando do próprio governo e o resultado foi desestimulante em razão da queda de sua popularidade e da própria presidente, em todos os níveis, numa média de seis (6) pontos percentuais.
            As pessoas ficaram atônitas. Ora, depois da enorme e corajosa “faxina” que a presidente Dilma está a fazer em seu governo, cortando pela raiz as traquinagens que têm aprontado os seus aliados políticos, a começar pelos republicanos comandados pelo senador e até então ministro Alfredo Nascimento (PR-AM) encarapitados no poderoso Ministério dos Transportes e, sobretudo, no Dnit, autarquia a ele vinculada e que detém um dos maiores orçamentos da União Federal, isso depois de ter defenestrado da Casa Civil o ministro Antônio Palocci, sob uma avalanche de acusação de favorecimento indevido e advocacia administrativa, embora ela tenha deixado que o governo sangrasse por um tempo mais do que razoável. Mais recentemente a insubordinação e grosseria do ministro Nelson Jobim, da Defesa, que agrediu gratuitamente a própria presidente (dizendo à imprensa que não votara nela em 2010, mas, em José Serra), além de outras colegas de ministério, foi respondida com a demissão sumária.
            Enfim, neste sentido as atitudes da presidente Dilma foram positivas e que indicam uso das regras de governança, aqui entendida simples e genericamente como a arte do bom governo. Claro, os aliados atingidos pela cimitarra vingadora da presidente Dilma começaram a chiar, a exemplo do discurso que o senador Alfredo Nascimento proferiu no Senado Federal depois de afastado do governo, cuja tônica foi uma torrente de acusações de ter sido abandonado pela antiga chefa. Para ele e outros conhecedores da cena política atual, os atos de Dilma poderiam comprometer a chamada “governabilidade”, com a perda de importantes aliados políticos do governo. Ora, Dilma nada poderia fazer para salvar quase três dezenas de ocupantes de cargos importantes no Ministério dos Transportes/Dnit, inclusive Nascimento, diante das graves acusações de corrupção divulgadas na mídia. Assim, era impossível esperar dela uma atitude que não fosse de mandar apurar tudo e mais: afastar dos cargos as pessoas que têm sido alvos dessas acusações.
            A vassoura presidencial tem continuado a atuar. Desta feita voltou-se para os ministérios da Agricultura e do Turismo, com a prisão de várias exercentes de postos chaves nessas rapartições, dessa feita com comprometimento do PMDB, PTB e do próprio PT. No entanto, com tantos casos de corrupção vindos à baila, a opinião pública nacional fez uma leitura enviezada desses episódios, computando à presidente Dilma toda a carga negativa por eles, ou seja, como se a corrupção fosse culpa não apenas de membros de seu governo, mas, dela própria. Óbvio, isso é um absurdo. No entanto, é assim que o populacho faz certas leituras de fatos políticos. Do tipo: “Jesus ou Barrabás”, na célebre votação encaminhada por Pôncio Pilatos, embora sem querer (nem dever) comparações. O povo fez uma leitura fora de ordem e de lógica: o bandido Barrabás foi absolvido e solto; Jesus foi para os açoites cruéis, para a coroa de espinhos, para a morte na cruz.
            Por isso, não se pode estranhar os números das pesquisas, desfavoráveis à presidente Dilma e seu governo. O povo acha que a responsabilidade é sua. Ora, apesar da tolerância à corrupção havida nos governos anteriores, em nome sempre da governabilidade, esse vistoso biombo de indignidades inconfessáveis. Dilma está certa e continua a sua faina contra os corruptos, embora pague um preço por isso. O alarme dos tantos ratos que infestam a máquina estatal e, malgré tout, também, se aboletam em gabinetes das duas casas do Congresso Nacional, não devem ser suficientes para deter a mão firme da presidente Dilma. Afinal, como qualquer boa dona de casa, ele deve querer a casa limpa. E haja faxina.

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