domingo, 22 de janeiro de 2012

Artigo de Paulo Afonso Linhares

O RACISMO DO BBB

Paulo Afonso Linhares

            Uma das piores e recentes invenções da televisão mundial é, sem dúvida, os tais reality shows, cujo “mérito” foi colocar em escala global uma tara sexual que era comumente exercitada por pessoas isolada e solitariamente: o voyeurismo, cujo cerne consiste no ato de observar sem ser visto e seguir todos os pormenores íntimos de alguém.  O voyeurismo é uma fase normal da criança que, através da observação pretende identificar as diferenças existentes entre meninos e meninas; muitas vezes os pais flagram as suas crianças a servir-lhes de plateia quando das performances sexuais que realizam (os pais, óbvio) na calada da noite. Os baixinhos praticam à larga o voyeurismo e abandonam essa prática do somente observar sorrateiramente, de serem meros espectadores, quando passam à condição de “atores”. Um pequeno grau de voyeurismo pode ser algo sadio, mesmo nos adultos, porém, de regra é ele considerado como tara sexual. Com a televisão e, sobretudo, o advento da Internet o voyeurismo ganhou um enorme impulso. Em muitos sites são vistas imagens captadas por câmaras ocultas, na sua maioria envolvendo o sexo e uma espécie de prostituição virtual.
            No entanto, o voyeurismo como grande espetáculo de massa está ocorrendo com os realities show, a exemplo do Big-Brother Brasil (BBB) realizado, no Brasil, pela poderosa Rede Globo de Televisão, já na sua décima-segunda edição. Embora possa ser definido como algo bem inferior à definição de lixo cultural. O BBB finda sendo um excelente negócio, pois a Globo tanto fatura com os ricos patrocínios quanto mesmo com a interatividade que estabelece com o telespectador: semanalmente, várias são as “oportunidades” nas quais este vota, decidindo sobre aspectos do jogo, sobretudo, de quem deve sair; cada ligação dessa custa uma pequena quantia, quase imperceptível para pessoas individuais, porém, que representam uma montanha de dinheiro arrecadado pela Globo em parceria com as operadoras de telefonia. Talvez cada dia que essa tolice que é o BBB fica no ar, arrecada em ligações telefônicas mais do que o prêmio de 1 milhão de reais que é oferecido ao ganhador.
            Na edição desse atual BBB, que é movido aos apelos sexuais para todos os gostos, alguns participantes exageram na dose: uma casal, o negro Daniel Echaniz e a (falsa) loura Monique pintaram o sete embaixo de um  edredom que parecia um couro de onça pintada. Na verdade, nada mais fizeram do que, segundo reza a imprensa “especializada”, teria ocorrido em todos os outros BBB. O balaio de gato ocorreu porque a moça, bêbada que só uma gambá, fez barulho demais e gerou a suspeita de que o rapaz teria abusado sexualmente da colega de confinamento. Deu polícia e muito que falar pelo Brasil afora essa putaria televisiva. Na delegacia de polícia, Monique disse que tudo foi por ela consentido, porém, matreiramente, a direção da Rede Globo determinou a desclassificação e saída de Daniel Echaniz do programa ao argumento de que teria violado as regras. Sem dúvida que, se havia uma regra proibitiva daquele tipo de exibição, embora a Globo não tenha explicitado, deveria valer para os dois que estavam a brincar de “miau-miau” (não confundir com Bial-Bial, que não chega a ser nem uma rima pobre).
            Inolvidável que houve racismo nessa parada: nesta democracia racial, até que negro pode transar com loura, desde que isso não seja para o deleite de alguns milhões de voyeurs e voyeuses idiotizados pela Vênus Platinada. O erro de Echaniz foi pensar que consigo seria diferente. A Rede Globo, de um ridículo atroz, teima em manter na sua grade de programação lixos culturais (irrecicláveis) como o caso do seu BBB. Vote!

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