O professor argentino radicado em Natal, Gabriel E. Vitullo, creditou ao falecido presidente argentino Nestor Kirchner, o feito de ter resgatado a atividade política como instrumento de transformação.
Vitullo é Doutor em Ciências Políticas , está no Brasil há 12 anos, dois dos quais em Natal, onde é o diretor do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Essa consideração sobre o papel desempenhado por Kirchner como presidente e líder político do seu país, ele fez numa rápida entrevista que me concedeu, via e-mail, e que passo a transcrever:
Qual o principal papel desempenhado por Kichner como presidente e/ou líder político na Argentina?
Como presidente (2003-2007) e depois como principal articulador e conselheiro político do governo Cristina Fernández de Kirchner, Nestor Kirchner tem desempenhado um papel fundamental. Kirchner, como emergente da fabulosa crise que se deflagrou no país em 2001-2002, veio resgatar a importância da política como ferramenta transformadora e como espaço para a discussão de diferentes projetos de futuro. Foi ele quem, da presidência, encabeçou o processo de forte crítica ao modelo neoliberal e a necessidade de pensar os eixos em torno dos quais construir um modelo diferente, que garanta altos índices de crescimento com distribuição de renda e reparação das grandes injustiças sociais. Kirchner teve um papel de destaque, ainda, no processamento e castigo aos torturadores e assassinos da última ditadura cívico-militar que sofrera a Argentina (1976-1983), até então impunes, propiciando, assim, a conquista da memória e da justiça.
Que impacto imediato a sua falta pode exercer sobre o momento argentino, do ponto de vista interno e do ponto de vista externo?
O impacto político interno será fortíssimo, na medida em que ele era a principal figura política do país e principal candidato a suceder a sua esposa no exercício da presidência da república, com eleições agendadas para outubro de 2011. De fato, ele há meses vinha encabeçando todas as pesquisas de opinião, com chances crescentes de ganhar a eleição em primeiro turno, em um quadro de forte fragmentação da oposição. Do ponto externo, a UNASUL perde seu Secretario Geral e um dos principais impulsionadores dos processos de integração latino-americana e de enfrentamento à ALCA. Governos progressistas como o de Lula, Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa ou José Mujica também perdem um grande aliado.
O vácuo político (na política interna) resultante de sua morte será "naturalmente" absorvido pela liderança da presidente Cristina ou existem outras possibilidades?
O vácuo será parcialmente absorvido pela presidenta Cristina, que tem ainda um ano de mandato pela frente e que, provavelmente e depois do que aconteceu, venha pleitear a sua reeleição (embora seja muito cedo ainda para imaginar qualquer cenário futuro quanto a candidaturas e realinhamentos político-partidários). Vale destacar que a presidente é uma mulher de grande fortaleza, com uma grande capacidade política.
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