A atitude do secretário de Obras de Natal, Demétrio Torres, entregando o cargo à prefeita Micarla de Sousa por discordar do seu comando político constitui gesto de grandeza que, há bom tempo, não testemunhava. Não vai ser fácil pra Micarla encontrar um substituto à altura. Isto é: um substituto que consiga aliar a competência do secretário demissionário, com sua inquestionável experiência de executivo do serviço público e com a sua correção política.
Há informações (que não consegui confirmar, diga-se de passagem, mas há indícios que as endossam) de que, na realidade, a adesão de Micarla à candidatura da ex-ministra Dilma, foi para Demétrio apenas a gota d’água. Há algum tempo ela já havia perdido o encanto com a esperança que a eleição de Micarla represnetava. E a cada dia via crescer aquele sentimento incômodo semelhante ao de um peixe fora d’água.
Por correção política, vinha conseguindo superar esse desconforto pessoal. Afinal, estava ali por integrar um grupo político. Não chegou lá de pára-quedas. Chegou porque ajudara a construir a vitória e se sentia, portanto, co-responsável com o dever de dignificá-la contribuindo com a realização de um governo comprometido com o discurso levado à praça pública.
Mas, na hora em que Micarla , distanciada desse compromisso, sem consultar aliados, apenas lhes comunicou seu novo posicionamento político-eleitoral, não teve a menor dúvida: abriu a porta pra sair.
Infelizmente, a prefeita recebe um pedido de demissão desse quilate com a maior naturalidade do mundo. Praticamente como se nada de grave tivesse acontecido. “O senador José Agripino já tinha me dito que eu me preparasse para essa possibilidade porque ele seria chamado para integrar a equipe da governadora eleita” – disse ela na entrevista de 2ª feira na 95 FM.
Imagino, francamente, que Micarla tenha falado isso sem qualquer maldade, mas é o tipo da declaração que explicita a relação de distância que ela tem com a sua equipe. Uma relação de imperatriz com súditos, no sentido de que a imperatriz não se rebaixa para ouvir o súdito. Quando o escuta, ouve quem fala por ele.
Esse tipo de comportamento é muito complicado – e me arrisco a dizer – muito prejudicial a quem o adota. No serviço público principalmente. Ninguém faz nada sozinho. Um secretário de um governante jamais será um súdito, por mais humilde e tolerante que seja.
Quem dirige precisa de uma equipe - competente, séria, experiente, correta e, de preferência, que tenha espírito público e seja capaz de trabalhar unida. Sob um comando, é certo. Mas, um comando que não se sinta rebaixado por ter uma equipe merecedora de respeito. Pelo contrário.
(*) Este foi o meu comentário na edição de ontem do NOVO JORNAL. Para receber o NOVO JORNAL em casa, faça uma assinatura: 3221-4554.
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