ESTÁTUAS DE FUMAÇA
Paulo Afonso Linhares
Durante o s oito anos de governo Lula armou-se contra ele uma oposição raivosa bem ao estilo da velha UDN que levou Getúlio Vargas ao suicídio, cujo núcleo duro era formado pelo PSDB, DEM e PPS. Com razoável conhecimento da máquina federal (o PSDB foi governo 8 anos e o DEM, sob as mais diversas denominações, é governo desde quando D. Afonso Henriques fundou o Reino de Portugal, quase quatro séculos antes das caravelas da esquadra de Cabral tocar o litoral deste país...), a oposição tem dado nó de tudo que é jeito, algumas vezes com coisas fundamentadas (como aquela história do mensalão, p. ex.), mas, na maioria das situações, eles construíram apenas portentosas esculturas de fumaça, como fazia a personagem famosa do escritor italiano Giovanni Papini, no conto “A Nova Escultura”, do seu livro Gog, aquele extravagante escultor que buscava nas esculturas engendradas a partir de rolos de fumaça, conceber a mais efêmera e transitória das formas de realização artística, pois acreditava que “a única solução plástica possível consiste em passar da imobilidade ao efêmero”.
Assim, com rolos de fumaça transmudados em tijolos, que a oposição ao governo Lula erigiu a sua fortaleza. De fumaça eram, também, as suas estátuas de guerreiros. O grave é que, algumas vezes, esses factóides gerados a partir de poderosos recursos midiáticos (toda a grande imprensa, a partir da Rede Globo, o Estadão, a Folha de São, Paulo, a revista Veja etc., fizeram cerrada oposição ao governo Lula), posto quer voláteis estátuas de fumaças, complicaram muito a vida de Lula e de seus companheiros, quase todos imolados, a começar por José Dirceu, o condestável da coorte petista que chegou ao poder, passando por Genuíno, Gushiken e Antônio Palocci. Mais estranhamente ainda, foi o inusitado fenômeno de crescimento contínuo dos índices de popularidade do governo e mais ainda do próprio Lula, transformado ídolo popular poucas vezes equiparado “na história deste país”. Ou seja, quando a oposição armava o esquema e derrubava algum dos mais próximos colaboradores de Lula, este se fortalecia, de modo que no fim do seu segundo mandato obteve uma aprovação de 87% segundo pesquisa CNI-Ibope e 83% de acordo com o Datafolha, no mesmo período.
Ao que parece, o ateliê da oposição voltar a funcionar a todo vapor, perdão, com a fumaça toda. Do nada, o jornal Folha de São Paulo - que vem mostrando um perfil cada vez mais conservador e muito distante daquela postura democrática e republicana que exibia diante da Ditadura Militar – engendrou um “sólido” factóide fumacento. O alvo, "last but not least" (último, mas não menos importante), é o ministro-chefe da Casa Civil do governo Dilma Rousseff, Antônio Palocci. Com manchete sensacionalista a Folha disse que Palocci havia, em quatro anos, multiplicado 20 vezes, prestando consultoria a empresas. Embora sem dizer diretamente, soltou o veneno. Claro, o chamado homo medius fica indignado por enxergar nisso alguma falcatrua, mesmo que a Folha não tenha dito que aquela evolução patrimonial teria origem ilícita. Mas, o homem comum não é o destinatário dessa ação política. Na verdade, essa matéria jornalística é apenas a senha para que deputados e senadores de oposição deflagrem uma série de pressões contra o governo e suas bancadas em ambas as casas do Congresso, sobretudo os manjadíssimos artifícios da criação de CPIs e da convocação do ministro Palocci para “explicar” a origem de sua fortuna, a despeito de ter ele demonstrado a lisura das consultorias que prestou a empresa privadas, antes de tornar-se ministro-chefe do Gabinete Civil. Aliás, para o nível da consultoria prestada por Palocci, comparada aos padrões internacionais, o dinheiro que sua firma de consultoria auferiu nesse – investido na compra de um apartamento e de uma sala-escritório - é uma merreca, mas para os padrões do homem comum brasileiro, parece ser muito dinheiro. É com isso que joga a oposição e sua parceira, a Folha de São Paulo.
No entanto, dificilmente Palocci irá à Canossa, como quer a oposição que, minoritária e confusa, aposta suas fichas na traição que pode ocorrer na base governista, sobretudo vindo dos tantos fisiológicos que pululam nos partidos aliados da presidente Dilma, que tem-se mostrado firme na condução do governo, além de rápida e cortante nas suas decisões, o que faz com que os seus opositores do PSDB-DEM-PPS experimentem aquela sensação de “fool's paradise” (“paraíso dos tolos”) de que nos fala Shakespeare, num verso do seu Romeo and Juliet. Pano rápido.
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