domingo, 21 de outubro de 2012

Artigo de Paulo Afonso Linhares


A FIRULA DO LULA
Paulo Afonso Linhares 
            Na rica linguagem do futebol, uma demonstração de grande domínio da bola, de habilidade excepcional, “de verdadeiro virtuosismo no lidar com ela”, segundo complementa o Aurélio, é chamada de “firula”. Na verdade, as firulas marcam as trajetórias dos grandes craques: a “folha seca” de Didi, os dribles desconcertantes de Garrincha ou o famoso drible da vaca, a “roulette” do Zidane, o “chapéu”, o “elástico” ou a “pedalada” (do Robinho). Firulas legítimas. Coisa de craque, distante anos-luz dos pernas de pau que vivem a teimar com a bola.
            Goste dele ou não, é mais ou menos assim que, na política, tem sido a trajetória de craque desse cabeça-chata nordestino que chegou à Presidência da República por dois mandatos consecutivos e fez sua sucessora: Luiz Inácio “Lula” da Silva que, a despeito da imagem de despreparado, analfabeto e beberrão que seus opositores tentaram lhe impingir, o tempo mostrou que era ele sim o grande maestro da orquestra e não mero títere nas mãos dos melhores quadros partidários, do porte de Zé Dirceu, Antônio Palocci, Zé Genuíno etc., tanto que estes e outros auxiliares e amigos mais próximos de Lula foram “detonados” pela poderosa mídia conservadora (Veja, Estadão, Folha de São Paulo, Rede Globo etc.), também conhecida como PIG, que significa “Partido da Imprensa Golpista”, para usar a expressão popularizada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim e tão martelada em discurso parlamentar do deputado petista Fernando Ferro. Segundo Amorim, o termo PIG pode ser definido da seguinte forma: “Em nenhuma democracia séria do mundo jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político — o PIG, Partido da Imprensa Golpista” (Blog “Conversa Afiada”, em 28 de abril de 2009).
            Se alguém tinha dúvida sobre o mérito político de Lula – goste ou não dele – basta a enorme firula que fez em São Paulo, para colocar um insosso candidato a prefeito da capital paulista na disputa do segundo turno da eleição deste ano de 2012, Fernando Haddad, que era o sétimo colocado nas intenções de votos dos grandes institutos de pesquisa. Fato é que ninguém acreditava que Lula – saído de um rigoroso tratamento contra um câncer de laringe – pudesse viabilizar o seu afilhado Haddad na disputa pela maior prefeitura do país.  Lula chamou para si toda a responsabilidade, pela derrota ou vitória. E caiu em campo para viabilizar apoios para Haddad, nem que para isto tivesse que rifar candidaturas petistas em outros Estados. O destroço do frágil PT mossoroense, obrigado a abandonar a tese da candidatura própria para apoiar a candidata do PSB que, afinal, foi derrotada, fez parte do esforço (que é um rima, mas, não uma solução...) para atrair o governador Eduardo Campos e seus seguidores paulistas no apoio a Fernando Haddad.
            A última pesquisa do Datafolha mostra um quadro muito favorável a Fernando Haddad, que tem 49% de intenções de voto contra 32% de José Serra, que apresenta uma maioria para o primeiro de 17%. Em situação normal, dificilmente esse cenário poderá ter grandes mudanças nos próximos sete dias, ou seja, até o dia 28 de outubro, data da eleição do segundo turno. Confirmada que seja a eleição de Haddad para prefeito de São Paulo, será a consagração do ex-presidente Lula como um dos grandes expoentes da política brasileira de todos os tempos. Mal comparado, o ex-presidente Lula terá dado, na política, um salto triplo carpado de costas, firula que somente fica para o bico de grandes e talentosos pelés.

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