domingo, 16 de dezembro de 2012

Artigo de Paulo Afonso Linhares


O preço das alianças
PAULO AFONSO LINHARES
Tradicionalmente, as alianças políticas são espaços de tensionamentos justo porque envolvem a atuação de forças inevitavelmente diferentes tanto na visão política quanto mesmo na ideológica. Contudo, o sucesso ou não desses “arranjos” que se dão, sobretudo, no nível partidário, depende do grau das diferenças político-ideológicas que separam os partidos políticos aliados. Quanto maior a afinidade político-ideológica entre eles, mais possibilidades de acerto terá a aliança; partidos muito diferentes não devem celebrar alianças políticas, sejam aquelas meramente eleitorais, sejam mesmo aquelas que implicam condomínios de governo. Neste caso, é quase certo que os efeitos colaterais serão por demais onerosos, principalmente para o partido que flexibilizou em demasia pontos programáticos e, em casos mais graves, a quebra de princípios. Os primeiros são balizas e como tal podem ser mudados, posto que possam as mudanças acarretar prejuízos em graus diversos; os segundos, os princípios, são pilares sobre os quais se assentam as instituições partidárias e são inflexíveis, de modo que, retirado um deles que seja, desabará todo o edifício institucional.  
           Nos primeiros anos de fundação, no começo dos anos ’80, o Partido dos Trabalhadores era muito rigoroso na celebração de alianças político-partidárias, mesmo aquelas mais singelas de cunho eleitoral. Em alguns casos até havia exageros – nos planos regional e local - de não se permiti-las nem com aqueles partidos reconhecidamente situados no “campo da esquerda”. Embora pareça um enorme paradoxo, fato é que essa segregação a que o PT se submeteu explica, em parte, o vertiginoso crescimento de um partido que chegou à presidência da República apenas 22 anos depois de fundado, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.
           Com efeito, na sua formação inicial o PT rejeitou tanto aquelas lideranças sindicais reconhecidamente “pelegas”, em troca daquelas que, no final da ditadura, apareceram no movimento sindical com a proposta da prática de uma nova modalidade de socialismo democrático, deixando de lado, também, os modelos dos países socialistas, sobretudo, pela antevisão do desmoronamento do império soviético. Para André Singer, isto significou a confluência do sindicalismo basista da época com a intelectualidade de Esquerda antistalinista (Cfr. O PT- Folha Explica, São Paulo, Publifolha, 2001). 
Em algumas experiências iniciais de governos petistas, os órgãos partidários passaram a entender quão complexas e tensionadas são as alianças política, principalmente aquelas de compartilhamento do poder e que são garantidoras da “governabilidade”. O primeiro grande teste foi a eleição da socióloga Maria Luiza Fontenelle prefeita do Município de Fortaleza: as divergências entre grupos conservadores da política local viabilizaram uma aliança informal do PT com algumas dessas forças. Vencida a eleição, os mesmos grupos que elegeram Maria Luiza passaram a fazer ferrenha oposição ao governo municipal a ponto de praticamente inviabilizá-lo.
 Na eleição de Lula, em 2002, a ordem era trazer para o governo todos os partidos aliados, num verdadeiro condomínio de poder. Personagens e grupos tradicionais da política viciada de antanho se aboletaram em postos-chaves do governo petista. Logo, a despeito dos avanços de políticas sociais e econômicas, nesse período, infelizmente o governo passou a ter enormes problemas com essa convivência com pessoas e partidos tão díspares. Daí para essa coisa chamada “Mensalão” foi um salto. Hoje, importantes lideranças petistas têm que suportar condenações de inspiração midiáticas do Supremo Tribunal Federal, cuja maioria de membros foi indicada por Lula e Dilma. 
Mais dia menos dia, os inimigos do PT querem chegar a Lula. Em belo artigo recentemente publicado, diz o teólogo Leonardo Boff que “[...] A ideologia que perpassa os principais pronunciamentos dos ministros do STF parece eco da voz de outros, da grande imprensa empresarial que nunca aceitou que Lula chegasse ao Planalto. Seu destino e condenação é a Planície. No Planalto poderia penetrar como faxineiro e limpador dos banheiros. Mas nunca como presidente.” Pelo método mais gravoso, o PT começa a descobrir o custo da governabilidade e dos equívocos que cometeu em seu santo nome.

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