2012:
muitas perdas poucos ganhos
Paulo Afonso Linhares
Partindo das perspectivas local e
regional o balanço
do ano 2013 oscila mais para o lado negativo: uma das maiores secas que sentem
notícia
se abateu sobre a região
nordestina sem que os governos tivessem qualquer preparação para enfrentá-la. Diante disto, é previsível que mais de 40% do rebanho bovino
do Rio Grande do Norte pereça
de fome, sede e doenças
oportunistas que afetam esses animais quando em estado de desnutrição. Infelizmente o governo federal e
os governos estaduais se recusam em aceitar que é possível a convivência com o fenômeno das estiagens, e mais, dele
tirar bons proveitos.
E cada vez que não chove no sertão se repetem os clamores seculares
por soluções
perenes para o problema das secas que, a estas alturas, é apenas político, pois as soluções técnicas já estão de há muito colocadas. Que é das obras da transposição das águas do Rio São Francisco para bacias fluviais do
Nordeste setentrional? Tudo "enganchado" na burocracia do controle de
contas públicas
dos cartórios de licenças
ambientais. E essa grande obra que se constitui um passo importante para solução do problema das secas no Nordeste
está
paralisada. Até
mesmo por não
ter maior afinidade cultual com a região
nordestina, a presidente Dilma não
tem demonstrado maior vontade de tocar essas obras da transposição, contrariamente do seu
antecessor, Lula, que era nordestino.
No "capital" humano, as
perdas de 2012 foram pesadíssimas,
bastando citar a morte do arquiteto-mor Oscar Niemeyer para que se tenha a
dimensão
de nossa perda. Pode-se lembrar, ainda,
a morte do jornalista Joelmir Bething e, no plano local, a do nossa Raibrito -
pesquisador e escritor Raimundo Soares de Brito - que deixa enorme e impreenchível lacuna na produção intelectual em Mossoró. Neste campo ficamos bem mais
pobres, pois Raibrito mantinha, sozinho e a despeito da idade provecta, um
ritmo de pesquisas e produção
de conhecimentos que rivalizavam com instituições universitárias inteiras.
Outra perda considerável foi o retrocesso patrocinado pelo
Supremo Tribunal Federal de alguns direitos fundamentais, quando do julgamento
do processo do "Mensalão".
Se é
bem certo que as instituições
republicanas brasileiras devem dar uma reposta dura aos casos de corrupção, mas certo ainda é que isto se paute no mais estrito
respeito aos princípios
que imantam o sistema de direitos e garantias o cidadão, de raiz constitucional. A propósito, em artigo recente publicado no
Consultor Jurídico,
afirma o advogado e ex-ministro da Justiça
Márcio
Thomaz Bastos: "À
sombra da legítima
expectativa republicana de responsabilização,
viceja um sentimento de desprezo pelos direitos e garantias fundamentais. O
"slogan" do combate à
impunidade a qualquer custo, quando exaltado pelo clamor de uma opinião popular que não conhece nuances, chega a agredir até mesmo o legítimo exercício da 'liberdade de defender a
liberdade', função
precípua
do advogado criminalista".
A principal crítica feita por juristas de todos os
matizes político-ideológicos, é relativa à precarização que o STF impôs, no julgamento do "Mensaläo", à sistemática probatória, de modo que meros indícios passaram a ser suficientes para
condenação
e imposição
de severas penas restritivas de liberdade, ademais da aplicação canhestra da chamada "teoria
do domínio
do fato" que resulta na responsabilização pura e simples daquele que exerce
certo cargo público
pelos eventos dos como criminosos ocorridos, mesmo que não haja sua participação direta, no órgão que dirige. "Quando juízes se deixam influenciar pela
'presunção
de culpabilidade' são
tentados a aceitar apenas 'indícios',
no lugar de prova concreta produzida sob contraditório. Como se coubesse à defesa provar a inocência do réu!", escreveu Thomaz Bastos no
artigo referido. Nesse mesmo rumo, avalia
um do mais brilhantes e não
menos conservador jurista brasileiro, Ives Gandra Martins: "Havia um
entendimento de que o processo penal deve beneficiar o réu. Para condenar, teria que haver
provas mais do que contundentes. Houve essa evolução do Supremo para a teoria do domínio do fato". O perigo da
ditadura não
é
o ditador, mas, o guardinha da esquina que executa as regras autoritárias daquele emanadas. Neste raciocínio, o perigo é se os milhares de juízes destes Brasis resolverem seguir a
cartilha do STF e começarem
a condenar pessoas a partir de meros indícios...
Ano ruim? Sim, porém com alguma coisa positiva: a
realização
de mais uma eleição
nacional para prefeitos e vereadores. Sim, uma enorme proeza em prol da
democracia foram as eleições
de 2012, abrangendo todos os Municípios
brasileiros, com o emprego de uma mega logística
por parte da Justiça
Eleitoral, que demonstrou alto índice
de eficiência
na condução
do processo, algo que não
somos acostumados de ver no serviço
público.
Boas eleições.
Ganhou a democracia e salvou-se este 2012 que se finda. Ufa!
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