EVITÁVEL TRAGÉDIA
SEVERINA
Paulo Afonso Linhares
Há
mais de um século
se construiu um postulado de que as estiagens no semi-árido do nordeste brasileiro são inevitáveis, como fenômeno natural, porém, os seus indesejáveis efeitos - aqueles que dificultam
a fixação
do homem à
terra como o déficit
hídrico,
as restrições
para desenvolvimento das atividades agrícolas
e pecuárias
etc. - são
equacionáveis
mediante inúmeros
recursos tecnológicos
específicos
que transformam as secas, em muitos casos, em fator positivo e possibilitam a
convivência
da população
nordestina com o meio ambiente árido.
A recente explosão
da fruticultura irrigada no Rio Grande do Norte, no Ceará e, sobretudo, no Vale do São Francisco pernambucano é uma flagrante demonstração desse enorme potencial da região. À guisa de exemplo, o Chile produziu
no ano 2012 quase dois bilhões
de dólares
em frutas em 200 mil hectares irrigados. Ora, somente a microrregião polarizada pelo Município de Petrolina, Pernambuco, tem
possibilidade de utilizar 1 milhão
de hectares irrigados com diversas culturas - equivalente a cinco Chiles - pois
dispõe
de abundantes recursos hídricos,
de excelentes solos e de com 3 mil horas
de intensa insolação
por ano, tudo possibilitando que até
três
colheitas anuais. Aliás,
as nobres castas de uvas exploradas ali tem produzido excelentes vinhos, o
mesmo que poderá ocorrer brevemente na microrregião
serrana em torno do Município
de São
Miguel, onde vem estabelecendo-se um pólo
vinícola.
Enfim, multifacetados e inúmeros
são
os exemplos de como a intermediação de tecnologias torna possível a convivência com as secas.
Quase todos os elementos que possibilitam essa harmoniosa
convivência
estão
presentes, à
exceção
de um que é
imprescindível:
a vontade política
para conjugar esses fatores a partir de políticas públicas estruturantes e mesmo
de programas emergenciais. Veja-se a atual situação de amplas faixas da região nordestina que, em razão da estiagem que se prolonga desde
2010, vem dizimando os rebanhos bovinos e impondo precarização enorme à vida das populações sertanejas. Reconheça-se que se não existisse um programa de
redistribuição
de renda como o Bolsa-Família,
do governo federal, muitas pessoas já
teriam perecido severinamente. No entanto, o mesmo governo federal - pelo fato
de concentrar enorme volume de recursos financeiros - deveria ter deflagrado
alguns programas emergenciais para salvar os rebanhos nordestinos atingidos
pela atual estiagem, sejam ações
assistenciais ou mediante financiamento com juros subsidiados, com recursos do
Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste - FNE que, segundo relatório atinente o exercício 2012, divulgado pelo seu gestor
(Banco do Nordeste do Brasil), detém
um patrimônio
líquido
que supera os 40 bilhões
de reais (R$ 42.848.162.000,00). Somente as transferências de recursos da União chegara, em 2012, a mais de 5 bilhões de reais (R$ 5.186.981.000,00).
Com efeito, algumas ações
anteriores como as linhas de crédito Pronaf –
Linha Especial Seca 2012 e Pronaf B –
Linha Especial Seca 2012, do BNB, são
extremamente tímidas
para o enfrentamento da gravíssima
situação
atual. As ações
devem ser concretas e imediatas, sem o rosário
de dificuldades da burocracia de Brasília.
Uma destas, por exemplo, seria a possibilidade de o governo federal comprar no
mercado interno ou até
importar rações
para salvar da dizimação
os rebanhos das regiões
atingidas, a serem distribuídas
mediante critérios
rigorosos aptos a evitar os velhos vícios
de sempre. Com apenas 10% das transferências
do FNE para 2013 - mais de meio bilhão
de reais! - muito poderia ser feito para minorar essa tragédia que poderia ser evitada. Com a
palavra a operosa presidente Dilma, que jamais deverá esquecer a aclamação que recebeu do povo nordestino, nas
urnas.
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