ELEIÇÕES 2014: O XADREZ
DA POLÍTICA POTIGUAR
Paulo Afonso Linhares
“João amava Teresa que amava Raimundo / que amava Maria que amava Joaquim que
amava Lili/que não amava ninguém./
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,/ Raimundo morreu de
desastre, Maria ficou para tia,/ Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto
Fernandes / que não tinha entrado na história.” Este singelíssimo verso de Drummond,
do poema intitulado "Quadrilha", faz lembrar o samba de crioulo doido
que é a política
do Rio Grande do Norte em vista das eleições (quase) gerais
de 2014, quando serão renovados os mandatos de todos os
deputados federais e estaduais, 1/3 dos senadores, do presidente da República
e seu respectivo vice-presidente.
Substituindo-se os
termos dessa equação poética, isto é,
os nomes das personagens drummondianas pelos de políticos
bem conhecidos nestas terras do índio Poti - e nem
precisaria mudar o nome do poema... - fica fácil de entender a
dinâmica dos diversos grupamentos políticos
e lideranças no azáfama da preparação
das candidaturas para os diversos postos eletivos às
eleições de 2014. Claro, tudo a partir do
zero: os correligionários e aliados de ontem podem não
ser os dessa próxima caminhada; os adversários
e desafetos de ontem talvez sejam os grandes parceiros nessa nova travessia
periodicamente imposta pelo regime democrático. Afinal, não
há amor que dure para
sempre, nem ódio que nunca acabe. E com os políticos
de todas as latitudes e extrações, inclusive os
potiguares, isto é até mais verdadeiro.
As peças
do xadrez - este na acepção mesma daquele jogo em que reis,
rainhas, bispos cavaleiros, torres e peões, participam de
intrincadas disputas de inteligência e perspicácia...
- começam a ser movimentadas no tabuleiro da
política potiguar. Embora sejam os
primeiros movimentos, já são
perceptíveis os rumos que tomarão
lideranças expressivas e outras sem qualquer
expressão. Claro, como sempre ocorre (ou
"sói acontecer", como se dizia na linguagem pedante de tempos
idos), o sonho de consumo de muitas dessas lideranças
é montar um projeto
que facilite-lhes a vida e permita o desfrute do poder, embora com custos de
campanha reduzidos. A partir daí,
tudo passa a ser possível e permitido: alianças
políticas estranhas para agasalhar
interesses os mais diversos de grupos políticos e de lideranças
individualmente consideradas, tudo para perpetuação de certas relações
de mando e uns tantos privilégios. No jargão
da política local, esse nirvana atende pelo
nome grosseiro e vulgar de "chapão".
Sim, todas as inúmeras
conversas que marcam essa fase inicial do processo político
de 2014 - onde "todo o mundo conversa com todo o mundo" - confluem
preliminarmente para a formação de um verdadeiro
"chapão" que contemplaria muitos
grupamentos políticos e respectivas lideranças.
Claro, pensar em "chapão" pressupõe
decidir que certos grupos, partidos e
lideranças ficam de fora do festim do poder,
no "sereno" nem tanto assim obsequioso; são
os "naufragados" em algum desastre político,
administrativo ou até sendo personagem da crônica
policial. Os "chapões" tão
ansiados geralmente não dão certo por uma
simples razão: as lideranças
políticas se "esquecem" de
combinar, também, com o povo que, sendo o dono do
voto, muitas vezes decide de outro modo.
O "chapão"
que se pretende montar para as eleições de 2014, no RN,
iria do DEM ao PT, passando pelo PMDB (que lideraria a aliança,
cabendo-lhe indicar o candidato a governador), PSB, PR, PDT, PTB e o novíssimo
PROS, que não tem nada contra, "muito porém
pelo contrário"... Nomes? Sim, esse "chapão"
que já ocupa alguns corações
e mentes tem como candidato a governador o empresário e ex-senador
Fernando Bezerra, cujo vice seria dado pelo PT de Fátima
Bezerra/Fernando Mineiro ou pelo PSB de Wilma de Faria; para a (única)
vaga de senador disputam a indicação Fátima Bezerra e Wilma
de Faria, ambas com bons cacifes hauridos dos resultados das primeiras
pesquisas eleitorais até agora divulgadas,
porém, a decisão
de quem fica e de quem "dança" nessa história
dependerá em muito de injunções
externas, de Brasília e alhures; candidatos a deputados
federal, a começar pelo atual presidente da Câmara
de Deputados, Henrique Eduardo Alves, participariam de uma enorme coligação
que, por baixo poderia eleger até seis deles, valendo o mesmo procedimento para a coligação
de deputados estaduais. Claro, tudo daria certo se combinado e, sobretudo,
aceito pelo povo.
Nessa "invencível
armada" (ou seria "armação"?) não
haveria lugar para a atual governadora Rosalba Ciarlini Rosado, cujo governo
enfrenta dificuldades e desacertos irremediáveis, nem para o
seu atual vice (e desafeto político), Robson
Faria, que vem construindo a ferro e fogo uma candidatura a governador, sem
combinar com outros caciques da política potiguar, nem
com o povo. São
os dois que não entrariam nessa história.
Se abrir mão dessa pretensa candidatura a
governador, Robson Faria poderá ganhar espaço nesse "chapão",
capaz de recolocá-lo na Assembleia Legislativa do RN e
garantir a reeleição do deputado federal Fábio
Faria. Aliás, Rosalba sequer teria legenda para
disputar a reeleição, face às desavenças
que a separam, atualmente, do seu correligionário senador José Agripino Maia, cuja
pretensão política já confessada, para 2014, é reeleger o filho, deputado federal Felipe Maia. Enfim, são
caminhos e veredas para todos os gostos e desgostos. Vejamos no que dará esse balaio de
gatos.
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