ORGULHOSAMENTE SÓS
Paulo Afonso Linhares
Num gravíssimo momento da vida político-institucional portuguesa, em
1932 tornou-se presidente do Conselho de Ministros - órgão de cúpula da administração do Estado lusitano de então - o economista conservador António de Oliveira Salazar que, após "legitimado" através de plebiscito realizado em 1933, o povo português lhe conferiu poderes absolutos e
imperiais. E não era para menos, pois, pelo sistema de votação adotado, todas as abstenções eram computadas como "sim" e o resultado foi
uma esmagadora vitória
daquilo que se transformaria numas das mais prolongadas, retrógradas e sanguinárias das ditaduras do século XX. A concepção salazarista se traduzia numa espécie de corporativismo de Estado autoritário fundado na
doutrina do nacionalismo econômico radical e na noção de autarcia, ou seja, de um
Estado de economia fechada que basta a si mesmo, tendo como ferramentas o
protecionismo e o isolacionismo. Por
isto que o lema isolacionista e imbecilóide do regime
salazarista era: “Orgulhosamente sós”. E isto
dizia
tudo!
Quando se pensava que o ideário salazarista estava morto e
enterrado, quatro décadas
após
a patética
morte do velho Salazar, eis o isolacionismo, de feição meramente política, rebrotou com força cá neste
sertão
potiguar, entre cactáceas
e bromeliáceas:
o casal reinante no governo do Rio Grande do Norte, Carlos Augusto Rosado e a
governadora Rosalba Ciarlini Rosado, resolveram romper com o vice-governador
Robinson Faria, do PSD, além de alijar do governo os aliados peemedebistas liderados
pela dupla Garibaldi Filho/ Henrique Alves. O mais grave, porém, foi igualmente o distanciamento
que mantiveram do senador José Agripino,
presidente nacional e estadual do seu partido, o DEM, além do deputado federal Felipe Maia e
outras lideranças
democratas. Enfim, embora tenha Rosalba conseguido o governo com o apoio de
todas essas forças
políticas,
Carlos/Rosalba resolveram governar sozinhos, orgulhosamente sós, como rezava o jargão salazarista.
O que não estava no script de Rosalba, pessoa inegavelmente
dotada de vocação
política,
era uma carrada de enormes problemas que desarranjam as diversas áreas de seu governo desde os primeiros dias. De princípio foi criado um conselho político composto por ela, o marido/mentor político Carlos Augusto, Robinson Faria,
José Agripino, Garibaldi Filho, Henrique Alves e João Maia. Ao que parece, esse conselho
somente se reuniu uma vez para as fotos da imprensa. E nada aconselhou, pois,
Carlos/Rosalba optaram por um perigoso isolamento político,
tendo como consequência inevitável o agravamento da crise do seu governo, que passou a ter
feição
própria,
pois, não
dava mais para continuar de olho no retrovisor com acusações ao governo anterior de Wilma de
Faria/Iberê Ferreira de Souza. Na verdade, Rosalba
"micarlizou" o seu governo, com todos os erros e trágicos detalhes da passagem de sua
aliada Micarla de Souza pela Prefeitura Municipal de Natal.
Enfim, os aliados se foram todos e os
correligionários
do DEM, à frente o senador José Agripino,
também,
"pegaram o beco". O mentor político Carlos Augusto, no usufruto da fama de estrategista,
nem assim tão
merecida, decerto apostava na capacidade
de articulação
política
que desenvolvera nos três
mandatos da esposa Rosalba frente à Prefeitura
de Mossoró,
quando tivesse que montar o projeto de reeleição da governadora, além do uso, em favor da Rosa, dos poderes miraculosos da Copa da
FIFA . De começo,
um erro elementar de perspectiva política, apontado por
nove entre dez analistas política do RN: as práticas políticas de Mossoró seriam
inservíveis
na aplicação
a um contexto mais amplo; assim, por exemplo, o relacionamento da Prefeitura
mossoroense com a Câmara
Municipal de Mossoró jamais
poderia servir de modelo para as relações bem mais complexas que o governo do Estado do Rio Grande
do Norte deve manter com a Assembleia Legislativa,Tribunal de Justiça e Ministério Público. Aliás, no bojo de uma dessas crises de relacionamento, quando
estava em pauta o repasse das parcelas duodecimais ao Tribunal de Justiça e Ministério Público,a governadora Rosalba os comparou - mal comparando
mesmo! - a dois garotos birrentos que brigam põe aumento das respectivas mesadas. Agressão inadmissível, a partir da qual o diálogo interinstitucional ficou dificílimo. Fato é que, não mais podendo imputar a Wilma/Iberê as dificuldades do seu governo, Rosalba voltou as baterias
para os outros poderes, acusando-os de drenar parcelas substanciais da receita
estadual para gasto perdulário e pouco criterioso.
Diante do princípio
da separação
dos poderes jamais poderia enveredar por esse caminho.
Por fim, muito tem vociferado Rosalba
e seus seguidores com a derrota que lhe foi imposta pelo senador Agripino na
recente convenção
do DEM, que negou legenda àquela para pleitear a reeleição às
eleições
de outubro próximo.
Fala de traição,
em fidelidade de trinta anos etc, enquanto o presidente do DEM fria e
precisamente argúi
a questão
de sobrevivência
política
do partido e de suas lideranças parlamentares como impeditiva de um atrelamento ao
projeto de reeleição
da governadora Rosalba. Na verdade, o senador Agripino apenas cobrou a conta
pelo olvido e distanciamento que lhe foram imposto pelos correligionários Carlos Augusto/Rosalba, que optaram
por governar o RN, no quadriênio 2011-2014, orgulhosamente sós. E conseguiram, mas, a um custo difícil da avaliar neste momento.
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