DE GUERRA E DÚVIDAS
PAULO AFONSO LINHARES
Nos dias que correm cada vez fica mais enfadonho falar de coisas óbvias, inarredáveis, algumas atitudes e ações que muita gente tem como antiquadas, firulas démodé, mania besta de gente do miolo amolecido. Democracia? Liberdades civis? Garantias constitucionais do cidadão? Para alguns, bobagens. O que emociona mesmo é ver a Tropa de Elite a se embrenhar pela espessa selva de barracos dos morros do Rio de Janeiro, um dos maiores caos urbanísticos do planeta, constituído de diversos cenários onde, até há bem pouco tempo, pontificava a elite do tráfico de drogas e suas "máquinas" (uma quantidade enorme de armas de todos os calibres e dezenas de encontradas em vários pontos do complexo de favelas do Alemão, no Bairro da Penha, Rio de Janeiro.
Foi mesmo por ali, no Morro do Alemão, que começou o primeiro capítulo dessa guerra do governo do Estado do Rio de Janeiro contra os narcotraficantes que dominam, há décadas, a maioria das favelas cariocas, "as comunidades" para usar o jargão politicamente correto. De repente, numa ensolarada manhã de novembro último. Segundo noticiado na imprensa nacional, cerca de 2.600 homens do Bope, das polícias Civil, Militar e do Exército, começaram a ocupação do Complexo do Alemão, no dia 28 de novembro de 2010, decerto uma data a ser lembrada pelos cariocas como a que o Estado saiu da letargia de décadas e resolveu assumir os seus deveres, dando pela primeira vez uma duríssima resposta, militar e política, aos traficantes de drogas que acintosamente dominava as diversas favelas do Rio de Janeiro, claro, à exceção daquelas que fazem parte do "Complexo do Alemão".
Com o suporte de helicópteros armados que dão suporte à operação, policiais que antes estavam posicionados nas principais entradas da Favela da Grota, avançam em direção ao morro do Alemão. Uma bem montada e executada operação de guerra pelas forças policiais cariocas com o inestimável apoio das forças armadas federais, principalmente o Corpo de Fuzileiros Navais e o Exército, cuja tarefa foi, de princípio, apenas prestar "apoio logístico", porém, sabe-se que fizeram muito mais do que isso. Sempre que são deflagradas operações dessa natureza, é importante lembrar que ela se circunscreve nos marcos do Estado Democrático de Direito, o que impõe o respeito a uma pauta de direitos e garantias fundamentais do cidadão, sobretudo a observância daquilo que é objeto maior da proteção constitucional, que é a dignidade da pessoa humana, núcleo imutável em torno do qual gravitam os direitos civis e políticos.
A propósito, ressalte-se que todos os barracos das favelas que compõem o Morro dom Alemão têm sido revirados às avessas pelas forças de segurança, claro, sem respeitar qualquer coisa. Atônita a população vê a fuga de seus antigos opressores e a chegada triunfal de seus novos senhoris, sem ter uma ideia, posto que vaga, da continuidade dessa ocupação territorial empreendida pelo poder público estadual do Rio de Janeiro que, de regra, seus agentes jamais podiam subir aos morros sem a licença dos soldados do tráfico. A tática de ocupação de território por parte das forças de segurança tem dado certo. Ótimo. Melhor ainda é que isso esteja realizando-se com respeito à dignidade e demais direito da já tão sofrida população dessas comunidades. O poder público tem que demonstrar seu compromisso com a qualidade de vida dessas populações, pois que senão a mudança terá sido apenas de canga. Estamos de olho.
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