NORDESTE ELEGE, SÃO PAULO OCUPA
PAULO AFONSO LINHARES
Numa reflexão sobre a atividade política da qual tenho sido atento observador, nas quatro últimas décadas, é forçoso render-se às palavra pessimistas do poeta latino Horácio: "Vitae summa brevis spem nos vetat incohare longam" ("A breve duração da vida não nos permite alimentar longas esperanças"). Sim, sempre tenho alimentado pequenas, médias e até bem longas esperanças de que o drama - já até tornado enfadonho - da população nordestina deste Brasil sem porteira, há de ter um fim, sobretudo pelas enormes potencialidades econômicas da região, aliadas à enorme capacidade de superação da gente forte ("O sertanejo é, antes de tudo, um forte", nas palavra de Euclides da Cunha - Os Sertões - parte II) que a habita. E por que até agora o Nordeste não deslanchou? Muitos são os fatores políticos, econômicos e sociológicos, na base dessa questão. Ficando apenas no primeiro aspecto, registre-se que muita gente tem dito, nestes últimos tempos, que os nordestinos votam mal, elegem pessimamente os seus representantes.Aliás, recentemente, logo após a divulgação da vitória eleitoral da Srª Dilma Rousseff, houve um acirramento de ânimos de eleitores paulistas contra os nordestinos que a elegeram: "Já matou afogado um nordestino hoje?" Perguntaram, no Tuiter, alguns paulistas ais afoitos.
Bem, na vitória de dona Dilma Rousseff tem preponderância o tempero nordestino e não apenas pelo fato de ser o seu padrinho - o presidente Lula - um nordestino, mas pela decisiva votação que recebeu na região. Dilma ganhou em todos os (nove) Estados nordestinos, mesmo naqueles em que a oposição fez os governadores (Rio Grande do Norte e Alagoas), obtendo na região uma média de 66,8% dos votos válidos. No Sudeste, Dilma ganhou apenas no Rio de Janeiro e em Minas Gerais , perdendo em todos os Estados sulistas e do Centro-Oeste, mesmo naqueles em que os partidos da base governista elegeram governadores (Rio Grande do Sul e Espírito Santo), na medida em que o candidato Serra obteve uma média, nos oitos Estado dessas regiões, apenas 52,6% dos votos válidos.
Esses resultados simetricamente opostos, açularam os sentimentos racistas de muitos sulistas, inclusive o desejo de cada um "afogar" o seu nordestino para fazê-lo purgar pelo "pecado" de ter eleito presidenta da República a Srª Rousseff, embora não tenham levado em conta aqueles energúmenos que nos Estados do Sul e Centro-Oeste, onde perdeu para Serra, Dilma perdeu por pequenas margens nessas regiões. Daí que sua vitória, nos percentuais obtidos, na região Nordeste, foi inegável diferencial em seu favor.
Todavia, neste momento em que a presidenta eleita Dilma Rousseff começa a montar o sua equipe de ministros, uma coisa soa estranho: todos os ministérios importantes ficaram nas mãos de paulistas, até mesmo para reafirmar aquela frase de autor desconhecido de que "o exército que combate e vence quase sempre não é o que ocupa". Está ai mais um drama nordestino: o Nordeste elegeu Dilma, porém é São Paulo que ocupa o "filé" do ministério. Está escrito nas estrelas: dificilmente algum dos Estados nordestinos terá ministro a ocupar pasta relevante no governo Dilma. Ao Nordeste, ao que parece, estão destinados os ossos, sobretudo aqueles bem duros de roer da Esplanada dos Ministérios. É por estas e outras que minhas esperanças, no poder de transformação da política, a cada dia encurtam mais e mais. Valha-nos, Padim Ciço Romão do Juazeiro, santo conhecedor desses meandros da politiquice federal.
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