Maria Helena Chaves Pinheiro: Um legado de amor
Nos últimos quatro meses os meus dias já não eram muito felizes. Preocupada e triste com a saúde de mamãe (Maria Helena Chaves Pinheiro), que estava internada numa UTI, fomos surpreendidos com a sua morte no último sábado (4). Surpreendidos porque, apesar de sabermos que o seu estado de saúde era grave, nunca estamos preparados para a partida de um ente querido. De uma mãe, pai ou filhos, então...
Foi difícil enterrá-la tão prematuramente, aos 85 anos. Prematura, sim, porque papai (Wober Lopes Pinheiro) vai completar 97 anos daqui uns dias, ainda lúcido. Então, pra mim, uma pessoa com menos de 90 anos é muito nova! E ela adorava quando eu dizia isso.
Mamãe, ao longo de sua vida, conseguiu arregimentar uma legião de admiradores, devido a sua forma de ajudar as pessoas. Ela foi mãe dos filhos biológicos, dos filhos criados, dos irmãos, dos sobrinhos, de funcionários da farmácia Santo Antônio e da Água de Cheiro, ambas de sua propriedade, as quais administrava com muito zelo, junto com papai ou enquanto ela exercia funções públicas. Cuidava de tudo: do comércio, da casa, dos filhos e filtrava todos os problemas para que ele não tivesse aborrecimentos.
Além dos seus cinco filhos biológicos, criou outras três: Lenilda, eu e Edilma, minha irmã. Nós duas, filhas de uma ex-empregada sua que todos chamavam carinhosamente de Lelé e que partiu mais prematuramente ainda, aos 33 anos de idade. E Lelé ajudou mamãe a criar três dos seus cinco filhos. Chamo-a de mamãe porque assim me foi ensinado e permitido por ela, uma vez que fui adotada em seu coração ainda bebê. Do jeito dela, que eu não entendia muito, fui educada, fui querida e aprendi a viver para o mundo, a ser independente, a lutar pelo que eu queria e precisava. E assim eu vivo a minha vida até hoje.
Mamãe não deixa só saudades, deixa uma lacuna, um espaço que não vai ser preenchido. Como comecei a trabalhar cedo na farmácia, aos 12 anos de idade, sempre estive bem próxima dela e convivíamos diariamente. Morei em sua casa até os 34 anos, quando, já formada, com um bom emprego, resolvi que era hora de formar a minha família, ter o meu cantinho e recebi dela conselhos para que só saísse da sua casa para a minha própria. Mesmo contrariando o seu conselho, porque fui morar num apartamento alugado, fui abençoada para seguir o meu rumo, a minha escolha, a minha vida. E quando pude comprar a minha casa ela disse que ia rezar e agradecer a Deus pela minha conquista. Que tudo o que ela mais queria era ver os filhos todos encaminhados.
Nos últimos tempos, com a velhice e a fragilidade física chegando, nos aproximamos mais ainda. E eu, já mãe de um filho, aprendi a entender os seus anseios, as suas preocupações e a sua maneira de me educar. E com isso, veio o perdão de qualquer mágoa que acumulei ao longo da juventude. E Deus me deu tempo de dizer isso a ela, nos deu tempo de apararmos todas as nossas arestas e dela saber que eu a amava muito como minha mãe. E dela ouvi palavras de carinho, de perdão e recebi a sua bênção, que é a coisa mais importante que um filho pode receber do pai ou da mãe.
Nos dias em que mamãe passou no hospital (126 dias), pude cuidar dela com mais carinho e com amor, indo diariamente visitá-la na UTI. Quando, por algum motivo eu não ia, pedia-lhe desculpas pela falta de tempo. E dela ouvia, mesmo tendo que fazer leitura labial, que eu tinha que cuidar das minhas coisas, do meu emprego e não me preocupasse. Ainda na sua lucidez, pudemos trocar beijos e palavras carinhosas, do jeito que fazíamos quando ia a sua casa e recebia a sua bênção quando me despedia. E ela, com dificuldades, mas com doçura perguntava por Arthurzinho (como ela chamava meu filho Arthur), como ele estava na escola, se já havia almoçado. Isso me fazia muito bem. Saber que mesmo com a sua dor física, com as sua limitações, não esquecia das pessoas queridas. Não esquecia que eu era sua filha e Arthur, seu neto, ambos do coração, do seu coração.
E mamãe se foi deixando um rastro de lembranças, de bons exemplos. Exemplos de luta, de como e quanto devemos ser fortes e lutar pela vida; exemplos de amor ao próximo. Por motivos óbvios, não herdei seus traços físicos, mas herdei traços da sua personalidade forte, do seu caráter, dos seus ensinamentos e do amor ao próximo. De quem sabe ser dura e amável quando precisa. Essa foi a herança, o legado que ela me deixou e que, com orgulho, uso nas minhas ações diárias e repasso para o meu filho. E são as boas lembranças e muitas outras que não dá para mencionar aqui, que guardarei para sempre. A saudade ainda é grande e vai permanecer por muito tempo. Mas, vou cuidar da minha vida, da minha família como ela ensinava sempre. Esquecê-la, jamais!
Esteja com Deus, mamãe! Um grande beijo e peço a sua bênção para mim e a nossa família.
Com amor,
Vilma Lúcia
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