FEIXE SENTIMENTAL
Walter Medeiros
Um feixe de poesia envolveu meu caminho
Na manhã de um tão sereno sábado,
Juntando alguma nostalgia da esquina
Com coisas belas guardadas por um louco
Na sua hora de mais completa lucidez,
Qual estranho manto de Arthur Bispo.
Um graveto veio do Céu bem nublado
Outro, do rosa choque do pé de jambo,
Alguns das calçadas - passarelas dos cachorros -
Do jardim de um supermercado,
Das árvores novas e antigas,
E dos manguitos pendurados nas alturas.
Veio o cheiro das folhas verdes quebradas,
Perfume nativo em todo o calçadão;
Do som que lembra alguma música
De um passado que vem, cortesão,
Recordar certo samba-canção,
Como algo que vem do infinito.
Insiste a nostalgia pelo carrinho de brinquedo,
Aquele Gordini azul e a caminhonete ATMA,
Que andavam nos rastros dos automóveis
Ou nas janelas da casa da minha avó;
Mas não tive tanto amor como aquele louco
Que guardou o passado, ainda que quebrado.
Assim, devia ter guardado umas latas de leite,
Uns saquinhos de Kanapu ou Dadá,
Uns papéis dos saborosos BigMilks,
As flâmulas do quartel e do ABC,
Mas foi apenas uma forte nostalgia,
Que ainda hoje vem ajudar a viver.
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