sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Artigo de Walter Medeiros

Lembrança da Festa de Santos Reis

Walter Medeiros waltermedeiros@supercabo.com.br

Dia desses, comentando com uma amiga sobre um fato ocorrido nos anos setenta, quando ela emprestou sua casa no Alto do Juruá para estudantes da UFRN realizarem uma reunião política clandestina, ela ficou meio sem jeito, pois não fazia parte do grupo, já que era, então, formada, e voltou-se com uma resposta inesperada: “Walter, eu acho que você está ficando velho”. Interessante como é fascinante lembrar coisas que ocorreram em momentos nos quais quem não foi contemporâneo do contexto jamais saberá realmente a sua importância, por mais simples e aparentemente sem influência que tais coisas pareçam.
Quando falam em velhice, trago exemplos que me estimulam a tratar o tempo com mais tranqüilidade, pois ainda não tenho direito à vaga de idoso, embora tenha a certeza de que alguns cabelos brancos que já tenho seriam suficientes para ninguém questionar o uso de uma delas ou até a utilização de filas preferenciais em supermercados e outros lugares. Mas nem tenho idade nem minha consciência permitiria tal contravenção. Ao renovar a minha habilitação, ano passado, quiseram entregar-me uma ficha preferencial, mas expliquei que teria ainda de entrar na fila comum.
Os exemplos acima referidos são comparações que faço entre uma mulher de 35 anos que encontrei na Serra do Sobrado, em Mata Grande, Alagoas, município que me concedeu o honroso Título de Cidadão. Lugar distante, alto, de acesso íngreme, aquela lavradora é casada, tem filhos e se considera velha para aprender a ler. Mais recentemente, encontrei um rapaz de 40 anos, de Ceará-Mirim, que sonha em voltar para sua cidade para se estabelecer definitivamente, por se achar velho e sem muitas outras coisas prá fazer na vida. A única razão nos seus argumentos poderia ser o fato de não ter mais nenhuma chance de se projetar como jogador de futebol.
Tem o terceiro exemplo, que é o grande estímulo: meu sogro, 95 anos, atravessou duas guerras mundiais, viu chegarem os primeiros automóveis no sertão, criou gado, plantou, dirigiu, viajou, dançou forró e tudo mais. Pois bem: ele tem como parâmetro Oscar Niemeyer e outros longevos, para afirmar sempre que quer viver pelo menos 120 anos. Na passagem de ano estava lá na Pedra do Rosário assistindo aos fogos da Ponte Newton Navarro, caminhando sem problemas e sem doença nenhuma. Festejava mais um belo momento do Ciclo Natalino.
Hoje, 6 de Janeiro, a grande festa é de Santos Reis. Aí tenho de relembrar, mesmo sem ser velho ou idoso, uma noite em que fui com uma amiga para aquela comemoração tão tradicional de Natal. Ainda tinha poucas barracas, a Missa e um Parque de Diversões. Depois de passearmos, comermos alguns salgados e doces, resolvemos andar na Roda Gigante. Lá de cima, ainda uma vista sem a cortina de edifícios, a ponte nova e nem mesmo a Zona Norte, pois havia apenas Redinha e Igapó eis que tomamos um susto com um movimento brusco. Faltou energia. Justo na hora em que estávamos no ponto mais alto. O apagão demorou muito. E não se dignaram e desembarcar quem estava na roda com tração manual. Foi triste. Mas transformou-se numa bela lembrança para mim e minha amiga.
*Jornalista

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