quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Vivendo e aprendendo(*)

Tenho ouvido choro e ranger de dentes por conta do resultado eleitoral de domingo passado. Ainda temos um longo caminho a trilhar no aprendizado da prática democrática e de uma convivência plural.
Falando assim, parece a coisa mais natural do mundo. Mas, é complicado pra cacete, principalmente pra alguns. E, mais ainda, num país como o nosso – tão diferente; tão grande; tão desigual.
Como esperar que todos pensem de um jeito só; enxerguem sob uma mesma ótica e ajam sob um único comando?
De minha parte, ando meio vacinado contra utopias, mas julgo ter alcançado um estágio de vida em que, numa eleição, o mais importante é a própria eleição; e não o seu resultado.
Domingo passado, confesso: Ao chegar à cabine eleitoral e tocar as teclas da urna eletrônica, me emocionei. Numa fração de segundos, lembrei-me dos tempos em que, presidentes e governadores entravam e saiam, sem que o meu pensamento, muito menos ainda a minha escolha, tivessem qualquer influência no processo de sua designação.
Eram os donos do país que faziam e desfaziam; indicavam e tiravam governantes e a mim restava a alternativa de aceitar ou de me lançar na aventura de assumir uma cidadania praticada de forma clandestina. Era isso ou a luta armada.
Domingo, não. Eu estava ali. Absolutamente livre. Diante de uma urna eletrônica, Podendo definir, num gesto totalmente pessoal, entre vários candidatos, dos mais diferentes partidos, quais os que, sob a minha ótica, mereciam receber a delegação de me representar nos poderes Executivo e Legislativo do meu país.
Sinceramente. Pra mim, poder viver essa experiência é um privilégio. Claro: como qualquer outro eleitor, torci e desejei o sucesso pra todos quantos escolhi, por seus merecimentos, para dar o meu voto. Mas, o resultado eleitoral, é lógico, não depende somente do meu voto, da minha vontade individual e, sim, como é natural, do voto e da vontade da maioria.
Nem sempre o meu voto e a minha vontade pessoal coincidem com o voto, a vontade e o pensamento da maioria. Tem vez que sim; tem vez que não. Paciência, pluralismo é isso.
Nem sempre, reconheço, a maioria acerta. Mas, sem dúvida, vota querendo acertar. Compete aos eleitos não fugir da responsabilidade que buscaram e receberam das urnas. Eles foram mais convincentes; interpretaram melhor o sonho e a aspiração da maioria. Não têm, portanto, o direito de decepcionar.
Essa a minha esperança. E daí porque, pra mim, numa eleição, mais do que o seu resultado, o importante mesmo é a própria eleição.

(*) - Artigo que estou assinando na edição desta quarta-feira do NOVO JORNAL.

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